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Após quatro anos de resistência, o Pentágono liberou nesta segunda-feira cerca de 2.600 páginas de documentos relativos a vários presos da base naval de Guantanamo. Em geral, os militares dos EUA se recusavam a divulgar documentos identificando os estrangeiros acusados de terrorismo que estão detidos na base, encravada em Cuba, por razões de segurança - por exemplo, impedir que a Al Qaeda saiba quem está detido.

- É uma tentativa de sermos transparentes - disse Bryan Whitman, porta-voz do Pentágono, sobre a nova política.

Foram divulgadas transcrições de audiências militares do segundo semestre de 2005 e petições de advogados dos presos. Há um mês, o Pentágono divulgou, por ordem judicial emitida a pedido de meios de comunicação, 5.000 páginas de documentos.

Whitman disse que considerou "interessantes e válidos" os argumentos de jornalistas que questionaram se, divulgando os documentos, o Pentágono está abandonando suas preocupações anteriores com a segurança nacional. Mas afirmou que, ao perder a batalha nos tribunais contra a agência de notícias Associated Press, o Pentágono "determinou que seria prudente levar adiante a divulgação" dos documentos, mesmo aqueles não abrangidos pela ordem judicial.

Segundo Whitman, há 490 detentos na prisão de Guantanamo, aberta em janeiro de 2002. Ativistas condenam as prisões sem prazo definido e a falta de direitos jurídicos dos presos. Apenas dez deles foram formalmente acusados de qualquer crime.

- Ainda há vastas quantidades de documentos escondidos e declarados como secretos e confidenciais - disse Bill Goodman, diretor jurídico do Centro para os Direitos Constitucionais, de Nova York, que representa vários presos.

As transcrições de algumas audiências divulgadas na segunda-feira não citam os nomes dos detentos envolvidos, embora os nomes e as nacionalidades de vários deles apareçam em outros documentos e nos papéis divulgados no mês passado.

Num dos textos divulgados, um iemenita aparece dizendo: "Não tenho nada a declarar. Sou uma pessoa normal, que trabalha na agricultura. Nunca matei ninguém". O homem dizia plantar tomates, cebolas, batatas e uvas.

Whitman disse que os presos de Guantanamo "são treinadores de terroristas, fabricantes de bombas, gente que trabalhou diretamente com Osama bin Laden, gente que poderia virar homem-bomba".

- Sabemos que foram treinados para mentir na tentativa de receber solidariedade por sua condição e pressionar o governo dos EUA - afirmou.

Os advogados do argelino Saber Lahmar, preso na Bósnia em 2002 e levado em seguida para Guantanamo, escreveu que "ao contrário de muitos outros detentos que foram considerados 'combatentes inimigos', o senhor Lahmar não foi capturado no campo de batalha, e na verdade nao há evidências que sugiram que ele jamais tenha pegado em armas contra os Estados Unidos e seus aliados".

Os advogados disseram à comissao militar encarregada do caso que "a justiça e a decência humana exigem sua libertação imediata" e afirmavam que o preso tem uma filha, nascida depois de sua prisão.

Outra transcriao mostra oficiais interrogando um preso chamado Sabri Mohammed Ebrahim sobre um relógio de pulso cuja marca, diziam os militares, tinha relação com atentados da Al Qaeda.

"Tudo o que sei do relógio é que é um Casio. Sei que tem uma bússola. Quando rezamos, temos de virar para Meca", afirmou .

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