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Curitiba – Os atentados em Londres trazem à tona uma nova configuração de problema antigo na Europa: o terrorismo. Há séculos o velho continente convive com o ameaça de milícias separatistas, como o grupo o basco ETA (Pátria Basca e Liberdade), da Espanha, e o Exército Republicano Irlandês (IRA), do Reino Unido. Grupos com ações em áreas demarcadas e reivindicações conhecidas não são novidade para os líderes europeus. Mas agora, os países são alvo de ataques que não têm procedência geográfica limitada nem são perpetrados em nome de uma causa específica. Paralelamente a isso, ressurge com força uma idéia que paira no ar desde os atentados de 11 de setembro de 2001, aos EUA: a equivocada associação entre terrorismo e islamismo.

"O controle social já existe, uma vez que os responsáveis pelos ataques foram localizados com rapidez graças ao forte monitoramento (por câmeras) em Londres", lembra Williams Gonçalves, especialista em Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF). Os europeus pela experiência histórica com atos de terror enfrentam os ataques com mais "naturalidade" e "sobriedade", diferentemente dos norte-americanos que encararam com "histeria" o episódio do 11 de setembro, analisa Gonçalves. "As instituições européias estão mais preparadas para superar esse tipo de problma."

O terror na forma como se apresentou em Londres, com suspeitos nascidos britânicos, aponta para a necessidade de se humanizar as relações, diz o doutor em Direito Internacional da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em União Européia, Fernando Kinoshita. "A partir de agora se modifica o plano de defesa, uma vez que será preciso vigiar quem está dentro da própria casa. Deve haver um endurecimento das políticas de imigração." Mas as medidas, que tendem a ser cada vez mais rígidas, deverão ser bem dosadas para evitar conflitos com a comunidade muçulmana, prevê. "O estabelecimento de novas políticas de imigração devem ser regidas pela prudência", resume.

Efeito político

O maior impacto dos ataques terroristas em Londres será político, sem dúvida a UE se voltará mais para temas de segurança, comprometendo eventualmente as conquistas dos cidadãos europeus em matéria de liberdade de circulação, acredita o pesquisador espanhol do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (Nupri) da Universidade de São Paulo (USP), Bruno Ayllón Pino. "A reação se dará também no plano das relações externas. A Eurpa dará prioridade às relações com o mundo muçulmano em detrimento da América Latina. Ao mesmo tempo, além dos mortos de Londres, acho que os atentados deixaram uma vítima extra, ainda não contabilizada: a esperança dos países pobres que serão relegados a um segundo plano nas prioridades internacionais dos europeus".

Má fase

O terror é um problema extra para o continente que já vinha amargando problemas com as divergências dentro da União Européia com temas relativos ao orçamento, à Constituição e a redução drástica do pacote de benefícios sociais surgidos no pós-guerra. A UE já passou por momentos mais difíceis do que este, lembra Gonçalves. Um deles foi a insistência do general Charles De Gaulle, que insistia na tese da Europa das pátrias (veja cronologia ao lado). "A UE garantiu a paz no pós-guerra. É uma conquista importante que não pode ser perdida facilmente." O próximo período da Europa será de paralisia, de ruminação das negativas nos referendos da Constituição, analisa. Por enquanto, o prazo final para a ratificação do texto está em suspenso. "As expectativas ficarão em baixa. Mas a perspectiva é de reformulação e não de retrocesso ou colapso."

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