• Carregando...

Rio – O que está sendo chamado de Evangelho de Judas seria uma tradução para o copta, feita ao redor do ano 300, de um texto escrito em grego provavelmente por volta do ano 180, segundo as últimas descobertas noticiadas. A partir desta datação, o texto pode ser considerado como parte de uma terceira etapa da literatura sobre Jesus Cristo.

A primeira etapa corresponde aos evangelhos chamados "canônicos" (aqueles que receberam a chancela da autoridade eclesiástica). Escritos entre 30 e 60 anos depois da morte de Cristo, eles foram o resultado da vida da primeira comunidade cristã. Naquele tempo, a tradição oral tinha mais importância que os textos. Os discípulos e outras pessoas que tinham conhecido Jesus contavam uns aos outros, sem cessar, aquela história única. Nesse contexto, era fácil verificar (sendo para eles uma questão de vida e morte) quem estava sendo fiel, quem estava exagerando ou distorcendo os fatos.

Escritura em papel

Até que, com a passagem do tempo, surgiu a necessidade de fixar as narrativas no papel. E assim apareceram os textos atribuídos a São Marcos, São Mateus, São Lucas (o evangelho de João é um pouco posterior). Lá pelo ano 100 da nossa era, esse primeiro "cânone" estava razoavelmente estabelecido; e, para a igreja de Roma, não variou mais. Um outro impulso literário resultou no que chamamos de "apócrifos".

Por mais que os evangelhos canônicos fossem expressivos, ninguém tinha a pretensão de ter contado tudo. E aquela era uma história nunca vista, que incendiava a imaginação de uma época fascinada pelo tema religioso. Lendo os apócrifos, encontramos aqui e ali frases ou expressões que poderiam ter feito parte do cânone. Em outros momentos (a maioria), fica mais ou menos óbvio que estamos pisando o terreno do folclore, da livre imaginação.

A data do "Evangelho de Judas" já indica um outro período. A história de Cristo tinha-se tornado de domínio público. O que hoje chamamos de teologia cristã ainda estava nos primórdios, o que abria espaço para mil interpretações. E assim surgiram os textos da corrente, ou seita, dos "gnósticos", de Gnose. Essa expressão, originalmente, indicava um conhecimento secreto – e é assim que o "Evangelho de Judas" se apresenta: uma espécie de confidência feita a Judas. Mas os gnósticos também tinham toda uma interpretação do universo criado – diferente da oferecida pelo cristianismo. Para eles, o mundo não é obra da Divindade suprema – se fosse, não seria imperfeito.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]