
A decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, de suspender a construção de uma estrada financiada pelo Brasil não conseguiu estancar a crise política: indígenas anunciaram que seguirão mobilizados e setores urbanos, incluindo a maior central sindical boliviana, prometem fazer greve amanhã.
Acuado pelos protestos contra a repressão violenta aos manifestantes antirrodovia no último domingo, Morales anunciou na segunda-feira à noite a interrupção das obras, a cargo da brasileira OAS.
O presidente não precisou se a paralisação só afetaria o trecho polêmico o 2, que cortará um parque nacional de 1,1 milhão de hectares e que nem começou a ser construído ou abarcará toda a estrada. Os trechos 1 e 3 já estão em obras.
Empresa brasileira
Ontem, o porta-voz da OAS na Bolívia, Pablo Siles, informou que, para cumprir o contrato, a construtora seguirá trabalhando nos setores 1 e 3 da rodovia até receber uma notificação oficial. Até as 21 h (de Brasília) de ontem, não havia contato formal do governo com a empresa.
A estrada de 306 km tem custo de US$ 402 milhões, US$ 332 milhões dos quais virão do BNDES. A OAS realiza trâmites para receber US$ 64 milhões do banco brasileiro referentes às primeiras obras.
O embaixador do Brasil em La Paz, Marcel Biato, afirmou que a suspensão da obra total ou apenas o trecho não iniciado não altera as condições de financiamento.
"Interromper os demais trechos é uma decisão soberana da Bolívia. No fundo, nos afetaria muito pouco, porque o recurso, o reembolso do BNDES, é liberado por trechos e de acordo com obras executadas", disse Biato.
Se a obra for paralisada totalmente, podem ser afetados até 700 trabalhadores da OAS, a maioria deles bolivianos, que já estão trabalhando nos trechos 1 e 3.
Segundo a reportagem apurou, a construtora brasileira espera que se acalmem os ânimos políticos e que se esclareçam os próximos passos do governo para estudar eventuais medidas a tomar.
O contrato da OAS com o Estado boliviano é do tipo fechado: a empresa arca com eventuais oscilações de preço de matéria-prima.
Mas situações extremas como a paralisação por longo período por motivos políticos não estavam contempladas. Em caso de uma eventual desistência da obra por parte da Bolívia, a OAS poderia discutir ressarcimento do montante já investido.



