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Indígenas bloquearam a pista do aeroporto do Parque Nacional Isiboro Sécure, na Amazônia boliviana, em protesto contra a construção de estrada financiada pelo Brasil | David Mercado/Reuters
Indígenas bloquearam a pista do aeroporto do Parque Nacional Isiboro Sécure, na Amazônia boliviana, em protesto contra a construção de estrada financiada pelo Brasil| Foto: David Mercado/Reuters

Protestos derrubam mais um ministro

A polêmica em torno da construção da estrada na Bo­­lívia que corta reservas naturais indígenas na Amazônia já derrubou dois ministros bolivianos. Após a titular da Defesa, Cecilia Chacón, que deixou o cargo na segunda-feira, ontem foi a vez do mi­­nistro do In­­terior, Sacha Llorenti, renunciar.

"Vou me defender das acusações [de ter ordenado a re­­pressão aos indígenas]. Faço pública a decisão de renunciar para evitar qualquer tipo de instrumentalização política do incidente", disse Llorenti.

Novos protestos, incluindo marchas, greves de fome e a convocação de uma greve ge­­ral, surgiram ontem em repúdio à repressão policial contra a manifestação dos indígenas. O que era um movimento contra a estrada tornou-se uma contestação ao próprio presidente socialista.

Estudantes da estatal Uni­­versidade San Andrés, a mai­­or da Bolívia, paralisaram o centro de La Paz com uma ma­­ni­­fes­­tação de apoio aos indígenas.

Outras regiões registraram marchas e greves de fome. No departamento amazônico de Beni, região de origem da maior parte dos indígenas en­­volvidos no protesto, teve início uma greve por tempo in­­determinado.

Cerca de 200 indígenas permanecem acampados na localidade de Rurrenabaque, onde discutem se irão retomar a marcha de 600 quilômetros até La Paz.

AFP

"Presidente pagará alto preço por seus erros"

O presidente Evo Morales pagará um alto custo político pela repressão aos indígenas. A opinião é do analista político e professor Carlos Cordero, da estatal Universidad Maior de San Andrés, em La Paz. Nesta entrevista à Agência O Globo ele diz que a Bolívia está presenciando um movimento de reacomodação de suas forças políticas e cada vez está mais claro que o governo perdeu parte de sua base de sustentação.

Leia a entrevista completa

A decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, de suspender a construção de uma estrada financiada pelo Brasil não conseguiu estancar a crise política: indígenas anunciaram que seguirão mobilizados e setores urbanos, incluindo a maior central sindical boliviana, prometem fazer greve amanhã.

Acuado pelos protestos contra a repressão violenta aos manifestantes antirrodovia no último do­­mingo, Morales anunciou na se­­gunda-feira à noite a interrupção das obras, a cargo da brasileira OAS.

O presidente não precisou se a paralisação só afetaria o trecho polêmico – o 2, que cortará um parque nacional de 1,1 milhão de hectares e que nem começou a ser construído – ou abarcará toda a estrada. Os trechos 1 e 3 já estão em obras.

Empresa brasileira

Ontem, o porta-voz da OAS na Bolívia, Pablo Siles, informou que, para cumprir o contrato, a construtora seguirá trabalhando nos setores 1 e 3 da rodovia até receber uma notificação oficial. Até as 21 h (de Brasília) de ontem, não havia contato formal do governo com a empresa.

A estrada de 306 km tem custo de US$ 402 milhões, US$ 332 milhões dos quais virão do BNDES. A OAS realiza trâmites para receber US$ 64 milhões do banco brasileiro referentes às primeiras obras.

O embaixador do Brasil em La Paz, Marcel Biato, afirmou que a suspensão da obra – total ou apenas o trecho não iniciado – não altera as condições de financiamento.

"Interromper os demais trechos é uma decisão soberana da Bolívia. No fundo, nos afetaria muito pouco, porque o recurso, o reembolso do BNDES, é liberado por trechos e de acordo com obras executadas", disse Biato.

Se a obra for paralisada totalmente, podem ser afetados até 700 trabalhadores da OAS, a maioria deles bolivianos, que já estão trabalhando nos trechos 1 e 3.

Segundo a reportagem apurou, a construtora brasileira espera que se acalmem os ânimos políticos e que se esclareçam os próximos passos do governo para estudar eventuais medidas a tomar.

O contrato da OAS com o Estado boliviano é do tipo fechado: a em­­presa arca com eventuais oscilações de preço de matéria-prima.

Mas situações extremas como a paralisação por longo período por motivos políticos não estavam contempladas. Em caso de uma eventual desistência da obra por parte da Bolívia, a OAS poderia discutir ressarcimento do montante já investido.

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