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Emmerson Mnangagwa pode ter sido eleito para a presidência do Zimbábue com o apoio dos militares que derrubaram Mugabe | Waldo SwiegersBloomberg
Emmerson Mnangagwa pode ter sido eleito para a presidência do Zimbábue com o apoio dos militares que derrubaram Mugabe| Foto: Waldo SwiegersBloomberg

O presidente Emmerson Mnangagwa, também conhecido como Crocodilo, foi declarado nesta quinta-feira (2) o vencedor da eleição presidencial desta semana no Zimbábue, a primeira após 37 anos do regime do ditador Robert Mugabe. Segundo os resultados oficiais anunciados pela comissão eleitoral, Mnangagwa, do Zanu-PF (Frente Patriótica Nacional-União Africana do Zimbábue), obteve 50,8% dos votos, contra 44,3% do opositor Nelson Chamisa, 40, do MDC (Movimento pela Mudança Democrática). 

O MDC, no entanto, rejeitou os resultados, dizendo que foram "falsificados". Morgen Komichi, presidente da sigla, afirmou que os partidários foram retirados da sede da comissão pela polícia antes de poderem verificar os dados. 

O saldo de mortos nos confrontos entre policiais, soldados e manifestantes da oposição na capital Harare chegou a seis, afirmou a polícia, depois que três feridos na quarta-feira (1º) morreram. A porta-voz da polícia, Charity Charamba, disse que a situação continua tensa na capital e que a presença do Exército nas ruas ainda é necessária. 

Tropas ordenaram o fechamento de lojas e instruíram as pessoas a deixarem o centro de Harare. Forças policiais invadiram a sede do MDC e prenderam 16 pessoas, sob a acusação de "posse de armas perigosas" e "violência pública". 

Antes do anúncio oficial, tanto Chamisa quanto Mnangagwa haviam se declarado vitoriosos na votação. "Obviamente estamos muito satisfeitos que os resultados anunciados até agora mostram que alcançamos a maioria de dois terços do Parlamento", afirmou o secretário jurídico do Zanu-PF Paul Mangwana. "Esperamos que esses resultados se tornem um reflexo do que estamos esperando da eleição presidencial." 

A repressão do Exército abateu a euforia que se seguiu à deposição, há oito meses, de Mugabe, que governou o país com mão de ferro e atiçou as suspeitas de que os generais que deram o golpe continuam sendo os governantes de fato do Zimbábue. 

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Em Harare, o contraste não poderia ser maior em relação a novembro, quando centenas de milhares tomaram as ruas abraçando soldados e comemorando seu papel no afastamento de Mugabe, 94, o único líder que o país conheceu desde sua independência em 1980. 

"Eles estão mostrando quem realmente são agora. Achávamos que eram nossos salvadores em novembro, mas eles nos enganaram", disse o vendedor de jornais Farai Dzengera, afirmando que o sonho breve de um fim às décadas de repressão acabou. "Agora eles nos dizem para sair do centro da cidade. O que podemos fazer? Sairemos. Eles mandam neste país." 

Quase todas as lojas do centro de Harare foram fechadas, e as calçadas normalmente movimentadas ficaram estranhamente silenciosas. Várias ruas continuavam cobertas de entulho e cinzas deixados pelos confrontos de quarta entre manifestantes e soldados. 

"Estamos só esperando para ver o que eles farão em seguida, já que não nos querem no centro. Quem pode discutir com um homem armado?", indagou Isaac Nyirenda. 

Na esteira de uma eleição relativamente ordeira, a violência acaba com as esperanças de Mnangagwa de reparar a imagem de uma nação símbolo de corrupção e colapso econômico sob Mugabe. Para analistas, a presença de soldados na capital confirma os receios de que os generais que depuseram Mugabe estão firmes no comando.

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