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Expectativa de vida dos americanos caiu de 78,7 para 78,6 anos | AFP
Expectativa de vida dos americanos caiu de 78,7 para 78,6 anos| Foto: AFP

A expectativa de vida nos Estados Unidos diminuiu novamente em 2017, informou o governo americano nesta quinta-feira (29) em uma série de relatórios que mostram uma nação ainda sob o efeito de crescentes crises de drogas e suicídio.

Os dados dão continuidade ao mais longo declínio da expectativa de vida em um século, um desempenho não registrado nos Estados Unidos desde 1915 a 1918. Esse período de quatro anos incluiu a Primeira Guerra Mundial e uma pandemia de gripe que matou 675.000 pessoas nos Estados Unidos e talvez 50 milhões em todo o mundo. 

Especialistas em saúde pública e demográfica reagiram com alarme à divulgação das estatísticas anuais do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), as quais são consideradas um termômetro confiável da saúde de uma sociedade. Na maioria das nações desenvolvidas, a expectativa de vida tem avançado continuamente por décadas. 

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"Acho que esse é um quadro de saúde muito sombrio nos Estados Unidos", disse Joshua Sharfstein, vice-reitor de prática de saúde pública e envolvimento da comunidade na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg. "A expectativa de vida está melhorando em muitos lugares do mundo. Não deveria estar declinando nos Estados Unidos". 

"Depois de três anos de estagnação e declínio, o que fazemos agora?", perguntou S.V. Subramanian, professor de saúde populacional e geografia da Escola de Saúde Pública T.H. Chan, de Harvard. "Nós dizemos que este é o novo normal? Ou podemos dizer que isso é um problema tratável?". 

No geral, os americanos que nasceram em 2017 podem esperar viver 78,6 anos, um décimo de ano a menos em relação à estimativa de 2016, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde do CDC. A expectativa de vida para os homens é de 76,1 anos, um décimo de ano a menos em relação a 2016. Já para as mulheres, é de 81,1 anos, se mantendo inalterada em relação ao ano anterior. 

A crise dos opioides

As overdoses de drogas estabeleceram outro recorde anual em 2017, chegando a 70.237 – acima das 63.632 que ocorreram no ano anterior, segundo informou o governo em um relatório. Somente a epidemia de opiáceos (como fentanil e heroína, bem como narcóticos controlados) matou 47.600 pessoas em 2017. Esse também foi um número recorde, impulsionado em grande parte por um aumento nas mortes por fentanil. 

Desde 1999, o número de mortes por overdose de drogas mais do que quadruplicou. As mortes atribuídas aos opioides foram quase seis vezes maiores em 2017 do que em 1999. 

As mortes causadas por analgésicos não aumentaram em 2017. Houve 14.495 mortes por overdose atribuídas a narcóticos, como oxicodona e hidrocodona, e 3.194 por metadona, que é usada como analgésico. Esses totais são virtualmente idênticos aos números de 2016. O número de mortes por heroína, 15.482, também não subiu em relação ao ano anterior. 

Robert Anderson, chefe da divisão de estatísticas de mortalidade do Centro de Estatísticas de Saúde, disse que a estabilização do número das mortes por medicamentos prescritos pode refletir um pequeno impacto dos esforços nos últimos anos para conter o desvio de analgésicos para usuários e traficantes nas ruas. Essas medidas incluem programas de monitoramento de medicamentos controlados que ajudam a evitar que usuários abusivos de substâncias obtenham várias prescrições por "prescrições médicas". 

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Outros notaram programas que também podem ter ajudado: O antídoto para overdose chamado naloxone foi disponibilizado mais amplamente em muitos lugares; Rhode Island fez esforços para educar os dependentes de drogas à medida que saem da prisão, uma época em que são particularmente vulneráveis à overdose; e Vermont e outros estados reforçaram seus programas de tratamento. Os estados que expandiram seus programas do Medicaid também passaram a oferecer mais tratamento para os usuários. 

Anderson disse que os dados provisórios para os primeiros quatro meses de 2018 mostram um patamar e possivelmente um pequeno declínio nas mortes por overdose de drogas. 

Mas Sharfstein, ex-secretário de saúde de Maryland, disse que os números de heroína revelam que o fentanil está empurrando o medicamento para fora do mercado ilícito em alguns lugares. 

"O mercado de opioides foi completamente tomado pelo fentanil", disse Sharfstein. 

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De fato, os novos dados mostram que as mortes relacionadas ao fentanil ilícito aumentaram novamente, de 19.413 em 2016 para 28.466 em 2017. 

Apesar de ter sido um enorme, este aumento de 47% foi menor do que o salto ocorrido entre 2015 e 2016, quando o número de mortes por fentanil e seus análogos mais que dobrou. (O número total de mortes por opioides é menor do que a soma das categorias porque algumas pessoas morrem com múltiplas drogas em seus sistemas.) 

A disparidade geográfica nas mortes por overdose continuou em 2017. A Virgínia Ocidental voltou a liderar o ranking de mortes por overdose, com 57,8 mortes por 100.000 pessoas, seguida por Ohio, Pensilvânia e o Distrito de Columbia. Nebraska, em contraste, registrou apenas 8,1 mortes por overdose de drogas a cada 100 mil habitantes. 

Outras doenças

Outros fatores no declínio da expectativa de vida incluem um aumento nas mortes por gripe no último inverno e aumentos nas mortes por doenças respiratórias inferiores crônicas, doença de Alzheimer, derrames e suicídio. Mortes por doenças cardíacas, o assassino número um de americanos, que estava em declínio até 2011, continuaram a se estabilizar.

As mortes por câncer continuaram sua longa e constante tendência de queda. 

O CDC publica seu relatório de estatísticas de saúde todo mês de dezembro. O relatório de 2017 é o terceiro consecutivo a mostrar um declínio na expectativa de vida. 

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Quase um ano depois, a agência combina os dados de cada ano com informações adicionais do Medicare. Nos últimos dois anos, isso resultou em pequenos ajustes no número total de expectativas de vida. 

Pela medida revisada, a expectativa de vida em 2015 e 2016 ficou estável, em 78,7, uma queda de 78,9 em 2014. Qualquer revisão para a estimativa de 78,6 anos em 2017 será feita no próximo ano. 

Suicídios

Em um terceiro relatório, o governo detalhou o crescimento contínuo das mortes por suicídio, que tem crescido constantemente desde 1999 e piorou desde 2006. 

O mais notável é o crescente distanciamento entre os americanos urbanos e rurais. As taxas de suicídio nos condados mais rurais são quase o dobro das dos condados mais urbanos. 

No geral, os suicídios aumentaram em um terço entre 1999 e 2017, segundo o relatório. Na América urbana, a taxa é de 11,1 por 100.000 pessoas; nas partes mais rurais do país, é 20 a cada 100.000. 

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Uma variedade de fatores determinam as taxas de suicídio, mas uma que pode ajudar a explicar sua maior prevalência nas áreas rurais é o acesso a armas, disse Keith Humphreys, professor de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade de Stanford. 

"As maiores taxas de suicídio nas áreas rurais são devidas a quase 60% dos lares rurais que possuem armas contra menos da metade das residências em áreas urbanas", escreveu Humphreys em um e-mail. "Ter meios letais facilmente disponíveis é um grande fator de risco para o suicídio".  

Sharfstein disse que o aspecto mais lamentável das crises é que os formuladores de políticas sabem quais abordagens fazem a diferença, como tratamento medicamente assistido para usuários de drogas e maior disponibilidade de serviços de saúde mental nos estados onde eles estão em falta. 

"Portanto, a frustração que muitos de nós sentem é que existem coisas que poderiam salvar muitas vidas", ele disse, "e nós estamos deixando de disponibilizar esses serviços".

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