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Submersível pilotado pelo cineasta James Cameron | Mark Thiessen (National Geographic)/Reuters
Submersível pilotado pelo cineasta James Cameron| Foto: Mark Thiessen (National Geographic)/Reuters

Há quase 36 anos, nossa compreensão da vida mudou para sempre quando cientistas enviaram uma sonda para as profundezas e fotografaram um grupo de moluscos no fundo do Oceano Pacífico, muito além do alcance da luz solar, onde a vida não deveria existir. Os moluscos eram alimentados por respiradouros geotérmicos oceânicos, ao invés da luz solar.

Desde então, cientistas e exploradores de todo o mundo descobriram pacientemente – e sem fazer alarde – um universo estranho e cheio de vida aqui na Terra.

A última investida foi no domingo, quando o diretor James Cameron mergulhou a quase 11 quilômetros de profundidade em um local conhecido como Depressão Challenger, o ponto mais profundo do planeta, próximo a Guam.

Devemos reverenciar essa realização e incentivar a exploração contínua por meio de um esforço global da Organização das Nações Unidas (ONU) em relação ao Direito do Mar, com o objetivo de preservar os mares profundos.

O mar aberto, que fica além das jurisdições nacionais, representa cerca de metade da superfície do planeta. Nós não temos ideia das formas estranhas de vida que abundam na escuridão, a profundidades de mais de três quilômetros. Mas este é o ponto: nós já sabemos o bastante para não querermos perder isso.

Os pesquisadores das zonas abissais vivem longe dos holofotes e dos bilhões de dólares destinados à exploração do espaço. Mas, ainda assim, esses pesquisadores que trabalham em relativa obscuridade documentaram comunidades ricas e surpreendentemente diversificadas de organismos nas profundezas do oceano. Essas foram expedições de baixo custo, quase sempre robóticas, patrocinadas por uma meia dúzia de países com pouco dinheiro para investir.

No dia 12 de abril de 1961, Yuri Gagarin chegou ao espaço na primeira astronave tripulada, mais de um ano depois que o batiscafo Trieste, um submersível que levava Jacques Piccard e Don Walsh, mergulhou a 10.910 metros na Depressão Challenger. Eles eram os verdadeiros loucos de sua época.

O Trieste poderia ter sido enviado sem tripulação a essa profundidade, mas, ao invés disso, Walsh e Piccard o acompanharam em sua primeira tentativa, sem apertar o botão de pânico mesmo quando uma janela de acrílico se rachou ao atingir cerca de 8.000 metros de profundidade.

Naquela época, acreditávamos que a era da exploração do fundo do mar e do espaço havia começado. Nós estávamos certos sobre o espaço, mas o retorno à Depressão Challenger foi possível somente depois que quatro equipes de expedição privadas foram recentemente reunidas.

Ao longo dos próximos dez anos, os cientistas esperam poder fazer uso das maravilhosas tecnologias inventadas para essas expedições.

No domingo, Cameron finalmente se tornou o primeiro ser humano a retornar à Depressão Challenger em mais de 52 anos, em um submarino projetado por ele mesmo para uma expedição patrocinada pela National Geographic Society.

Meus colegas esperam descobrir novas criaturas que produzam moléculas que, quando ajustadas e sintetizadas em laboratório, permitirão aumentar nossa gama cada vez mais restrita de medicamentos eficazes.

Caso seja gerido de maneira apropriada, o uso não invasivo de nossos oceanos pode nos manter seguros até que sejamos espertos o suficiente para criar medicamentos apenas com nossos cérebros e computadores.

A exploração das profundezas do oceano irá ocorrer, assim como a exploração de Marte. Os robôs farão a maior parte do serviço, coletando todos os dados, e, se tivermos sorte e formos espertos o bastante para enviar um piloto esporadicamente, essas expedições irão enriquecer a condição humana muito mais do que podemos imaginar.

É verdade que a exploração das zonas abissais será exatamente como a exploração de Marte – a não ser por uma enorme exceção. Nós já sabemos que iremos encontrar vida no fundo do mar; muita vida.

Tony Haymet, professor e diretor do Instituto Scripps de Oceanografia e vice-chanceler de ciência marinha na Universidade da Califórnia. Este artigo foi publicado pelo jornal The New York Times

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