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Exército mexicano durante patrulha de vigilância pelas ruas do município de Tapachula, no estado de Chiapas
Exército mexicano durante patrulha de vigilância pelas ruas do município de Tapachula, no estado de Chiapas| Foto: EFE/ Juan Manuel Blanco/Arquivo

Milhares de moradores de Chiapas, estado localizado no sul do México, têm deixado suas casas após um aumento da violência na região, provocado por disputas territoriais de grandes organizações criminosas que atuam no país, os cartéis de Jalisco Nova Geração e o de Sinaloa.

Além do medo de sair nas ruas de algumas cidades, como Nuevo Chejel e Porto Rico, os cidadãos mexicanos agora precisam lidar com um novo desafio frente ao crime organizado: a cobrança de impostos sobre a produção de milho por criminosos.

No dia 5 de fevereiro, alguns deslocados pela violência tentaram retornar às suas residências, no entanto, dias depois, dezenas de famílias tomaram a decisão definitiva de abandonar os imóveis com a nova imposição de quotas exorbitantes pelo narcotráfico, que controla o estado de Chiapas.

Diante da situação, o Conselho Estadual de Assistência Integral aos Deslocados iniciou uma ação para incentivar o retorno dos moradores após o êxodo em massa, elevando as tensões entre o governo e o crime organizado.

Chiapas se tornou um importante reduto do crime devido a sua fronteira com a Guatemala, que permite o envio de imigrantes por rotas ilegais da América Central para o Norte - visando os EUA, além do tráfico de drogas e armas.

Segundo a Comissão Mexicana para Refugiados (COMAR), foi registrado um número recorde de pedidos de asilo em 2023, com 140.982 casos, 55% dos quais vieram de Tapachula, Chiapas. No entanto, a maioria dos imigrantes preferem acessar rotas irregulares utilizadas por traficantes de seres humanos para chegar à fronteira entre os EUA e o México. Uma série de investigações da ONG InSight Crime, que investiga o crime organizado na América Latina, revelam que grandes organizações criminosas, como o Cartel de Sinaloa, geram cobranças de pelo menos US$ 100 (cerca de R$ 495) por migrante para viajar em rotas controladas pelo grupo.

De acordo com o Insight Crime, alguns imigrantes que não pagam pela autorização para atravessar o território dominado pelos cartéis são frequentemente raptados para pedir resgate às suas famílias. Além disso, são vítimas de extorsão e outros abusos por parte das autoridades, que por vezes conspiram com o crime organizado.

Anteriormente, o Cartel de Sinaloa dominava os municípios fronteiriços do sul de Chiapas, mas o Jalisco Nova Geração (CJNG) começou a contestar o poder do seu rival, em 2021, com o objetivo de obter o controle das rotas ilegais migratórias, segundo documentos internos gerados pela Secretaria de Defesa Nacional (SEDENA) do México entre 2020 e 2022, extraída pelo grupo hacker Guacamaya e vazada por outro grupo de ativismo cibernético, o DDo Secrets.

Além da disputa sobre as rotas de contrabando de migrantes e da influência política, o CJNG e Sinaloa competem pelo controle de outras economias ilícitas, como o sequestro, a expropriação de terras da população local e a extorsão. Um dos tipos de extorsão mais comuns é a cobrança de "impostos", por meio da qual o grupo criminoso exige dos comerciantes um pagamento periódico em troca de segurança.

De início, a cobrança afetou as transportadoras de Chiapas. No entanto, espalhou-se para outros setores da economia, como a agricultura. Em dezembro, os meios de comunicação locais relataram que pelo menos 30% dos produtores de café na Serra de Chiapas tinham abandonado as suas colheitas como resultado da taxa.

A violência provocada pelo narcotráfico também tem interesses políticos, visando o domínio territorial de estados relevantes para o crime. Em 5 de janeiro, David Rey González Moreno, candidato à presidência municipal do município fronteiriço de Suchiate, foi assassinado. No início deste mês, o pré-candidato à prefeitura de Mascota Jaime Vera Alaniz, de 62 anos, foi brutalmente morto a tiros na cidade localizada no estado mexicano de Jalisco.

A tendência é que os assassinatos a políticos e as ameaças contra candidatos aumentem até junho, quando ocorrem as eleições federais, o que evidencia a forte influência do crime organizado na administração do país.

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