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Grafite na região do clube de tiro onde o matador Anders Behring Breivik treinava. Intolerância é marca dos militantes de extrema direita | Wolfgang Rattay/Reuters
Grafite na região do clube de tiro onde o matador Anders Behring Breivik treinava. Intolerância é marca dos militantes de extrema direita| Foto: Wolfgang Rattay/Reuters

Por mais brutal que tenha sido o massacre que Anders Behring Breivik fez na Noruega, sua atrocidade deu fôlego para que políticos europeus de extrema direita manifestassem identificação com as ideias do assassino. A imprensa do mundo todo publicou, na última semana, as palavras que um italiano disse após o duplo atentado na Noruega. Fran­­cesco Speroni, ex-ministro da Reforma Institucional de Silvio Berlusconi (entre 1994 e 1995) provocou: "As ideias de Breivik são em defesa da civilização ocidental".

Além das consequências ób­­vias que a ação de Breivik teve por tirar a vida de 77 pessoas, fica o questionamento de qual efeito ideológico terá sobre toda a Eu­­ropa. "Esse episódio é uma reação à discussão mundial em torno do reconhecimento de povos, fora do padrão eurocêntrico. Existe um movimento de olhar para o africano, o homossexual, para o migrante", diz o professor de Sociologia da Pontifícia Uni­­versidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Bonetti.

Depois do trauma do Ho­­lo­­causto e das marcas da Se­­gunda Guerra Mundial, os países europeus pareciam, pelo menos nas esferas oficiais – como os governos –, prezar muito pelos direitos humanos e pela igualdade. Mas a professora de Direito In­­ternacional Público do Centro Universitário Curitiba (Unicu­ritiba) Elizabeth Holler Lee lembra que os grupos extremistas nunca deixaram de existir. "Não é porque não falamos sobre eles, porque não aparecem que eles não existem".

Elizabeth estudou em Paris nos anos 90 e lembra que na época havia manifestações públicas contra a miscigenação. "Os ultranacionalistas achavam um ab­­surdo que a seleção francesa de futebol tivesse jogadores negros, mesmo com nacionalidade francesa, mesmo que tivessem nascido na França".

Para a professora de Direito, o problema de intolerância das di­­ferenças é agravado pela crise econômica. "Enquanto havia emprego para todo mundo, en­­quanto os imigrantes eram mão de obra barata e não incomodavam eram tolerados. O problema começou a ficar mais grave quando todos passaram a sofrer com a crise".

Efeitos políticos

Politicamente, as atitudes do assassino norueguês podem ter dois efeitos. Um deles, por mais absurdo que pareça, é a ascensão da extrema direita europeia, ou pelo menos manifestações mais escancaradas de sua ideologia. Mario Borghezio, deputado italiano direitista, chegou a dizer que "algumas das ideias que ele expressou são boas, exceto a violência. Algumas outras são ótimas". O político também defendeu que o atentado poderia ser parte de um plano para desacreditar a extrema direita europeia. Suas palavras levaram políticos da oposição e até do seu próprio partido a reivindicarem sua renúncia.

"A direita pode se intensificar, mas a discussão também vai ser fortalecida. Forças opositoras tendem a fortalecer seus rivais", destaca Bonetti. Então, o outro efeito do atentado pode ser o fortalecimento da esquerda que anda mal das pernas na Europa.

Graças a Breivik, os esquerdistas estão munidos de uma série de argumentos contra o extremismo de direita, o principal de­­les é que as ideias dos radicais podem se transformar em catástrofes da intolerância. Ainda as­­sim, a professora Elizabeth não acha que os partidos de es­­querda recuperem as lideranças que ti­­nham no passado. "A es­­querda europeia passa por uma baixa. Isso é normal, é cíclico. E a alternância de poder é importante. O problema é que com a crise o so­­cialismo não consegue sustentar suas bases".

Muitos dos militantes da ex­­trema direita que se fortalece são membros da elite, com embasamento teórico e até científico para suas ideologias. Bo­­netti de­­fende que uma mudança na maneira de pensar europeia poderia ajudar a conter os extremistas. "O pensamento científico europeu é muito eurocêntrico. Lá, o estabelecimento de padrões de comportamento humano é muito homogêneo". Para o professor da PUCPR, as evoluções ideológicas dependem de diversos setores da sociedade. "Os governos e a acade­­mia tem duplo papel, questionar as bases teóricas e ver o lado político do pensamento científico".

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