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 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O cantar dos pássaros apresenta uma estrutura similar à da fala humana e ambos usam circuitos cerebrais semelhantes, mas como seres relativamente tão distantes nas suas linhas evolutivas desenvolveram comportamentos tão parecidos do ponto de vista biológico permanecia um mistério para os cientistas, que agora começa a ser desvendado graças ao maior estudo genético já feito sobre uma classe de animais. Segundo os pesquisadores, esta similitude toda reside no fato de que tanto nas aves quanto nos humanos o mesmo conjunto de genes é responsável pelo aparecimento destes comportamentos.

"Sabemos há muitos anos que o comportamento de canto dos pássaros é similar ao da fala humana, não idêntico, mas similar, e que os circuitos cerebrais envolvidos eram similares também, mas o que não sabíamos era se estas características eram as mesmas porque os genes também eram os mesmos", conta Erich Jarvis, professor de neurobiologia da Escola de Medicina da Universidade Duke, nos EUA, cujo nome aparece como um dos autores de nada menos que 20 artigos dos, até o momento, 29 resultantes do levantamento genético que estão sendo publicados simultaneamente esta semana em diversos periódicos científicos, entre eles oito em edição especial da prestigiada revista "Science" e os demais em jornais como "Genome Biology" e "GigaScience".

Os estudos são fruto do trabalho do chamado Consórcio Filogenético para Aves, um projeto que envolveu mais de 200 cientistas de 80 instituições espalhadas por mais de 20 países. Nos últimos quatro anos, eles sequenciaram, analisaram e compararam os genomas completos de 48 espécies de pássaros representativas das principais ordens e famílias destes animais, de avestruzes a beija-flores, e até de três espécies de crocodilos, considerados os répteis atuais mais próximos das antigas aves, num processo que demandou o equivalente a cerca de 400 anos de operação se fosse feito por um único computador doméstico comum, e não por três supermáquinas do tipo instaladas nos EUA. Com isso, os pesquisadores puderam abordar questões como as raízes genéticas do canto dos pássaros, como eles desenvolveram suas penas e perderam os dentes e o aparecimento dos diferentes cromossomos sexuais nas aves, entre outras.

"Este é um momento excitante", diz Jarvis, que coliderou o consórcio com o cientista chinês Guojie Zhang, do banco nacional de genética da China, e Thomas Gilbert, do Museu de História Natural da Dinamarca.

"Muitas questões fundamentais poderão ser respondidas com mais dados do genoma de uma amostra mais ampla. Entrei neste projeto por causa do meu interesse nos pássaros como modelos para o aprendizado vocal e produção da linguagem em humanos, e ele abriu algumas impressionantes janelas sobre a evolução do cérebro."

Entre as principais descobertas já proporcionadas pelo levantamento e publicadas este semana está a de que as aves passaram por um "big bang" evolutivo nos 15 milhões de anos seguintes à extinção dos dinossauros, há cerca de 66 milhões de anos. De acordo com os pesquisadores, as poucas espécies de aves que escaparam da extinção em massa deram origem às mais de 10 mil espécies das chamadas "neoaves" hoje espalhadas pelo planeta e que respondem por 95% de todas as espécies de aves atuais conhecidas.

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