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Taxista depilou o corpo inteiro e fez uma tatuagem para ganhar o fusca | Gazeta do Povo
Taxista depilou o corpo inteiro e fez uma tatuagem para ganhar o fusca| Foto: Gazeta do Povo

Brasil envia aviões com alimentos e remédios

Brasília – Dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) partiram ontem para Lima, no Peru, carregados com alimentos perecíveis destinados às vítimas do terremoto que abalou o país vizinho no último dia 14. Na próxima segunda-feira, partirá de Vitória (ES) outro avião com o mesmo destino e com uma carga que completará as 46 toneladas de alimentos que fazem parte do pacote de ajuda humanitária prometida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seu colega peruano, Alan García, durante uma conversa por telefone na manhã de quinta-feira.

O Ministério das Relações Exteriores, que coordena o Grupo de Ajuda Humanitária Internacional, informou que está previsto para a próxima semana o envio de medicamentos, vacinas, purificadores de água e equipamentos hospitalares e das doações centralizadas pela Cruz Vermelha. Mas esse vôo ainda não foi agendado.

Pisco – Os episódios de tentativas de saque – até então esporádicos após o terremoto de 8 graus na escala Richter que abalou várias cidades do Peru na quarta-feira e deixou mais de 500 mortos e 1.500 feridos – começaram a tornar-se mais comuns ontem.

Desesperados com a falta de comida e água potável e revoltados com o que qualificam de lentidão do governo em distribuir a ajuda que chega aos poucos à devastada Pisco, cidade costeira a cerca de 250 quilômetros ao sul de Lima, dezenas de moradores locais atacaram na manhã de ontem caminhões que chegavam da capital para prestar assistência às vítimas. Casos semelhantes foram registrados também em Ica e Chincha, as outras duas entre as cidades mais afetadas.

"Desde o tremor que não temos nada de comida nem água. Dormimos ao relento e não chegam as tendas de campanha que nos prometeram", gritou uma jovem que não quis dizer o nome ao perceber a presença de jornalistas. "Onde está o governo? Cadê a ajuda internacional?", acrescentou.

Na Ponte San Clemente, que dá acesso a Pisco, os saqueadores atacaram os caminhões – parados numa imensa fila por causa dos extensos danos que o tremor causou à via – e um posto de gasolina das proximidades.

Desnorteada e com poucos homens para garantir a segurança no local, a polícia peruana fez disparos para o alto para conter a turba.

Autoridades peruanas reconheceram que a maior parte dos saqueadores agia sob os efeitos de uma situação-limite, mas lembraram que entre 400 e 500 detentos escaparam em Chincha, a cerca de 50 quilômetros de Pisco, depois que o tremor derrubou as paredes de suas celas – dando a entender que eles poderiam estar infiltrados nos grupos de saqueadores.

Diante das ruínas da Igreja San Clemente – onde se estima que 250 pessoas tenham morrido no tremor –, na Praça de Armas, soldados do Exército forçavam a formação de uma fila para a distribuição de garrafas de água mineral, no primeiro lote de ajuda à população de Pisco desde a catástrofe.

O governo do presidente Alan García, que instalou na base aérea dos arredores da cidade um gabinete de emergência, atribuiu a demora na entrega da assistência à população aos danos sofridos pela principal via de acesso ao local, a Rodovia Panamericana. O tremor abriu fendas profundas na estrada e uma parte dela simplesmente desapareceu, encosta abaixo.

A situação de calamidade e escassez de água e alimentos agrava-se com a chegada de milhares de pessoas, de várias partes do país, a Pisco para reconhecer parentes mortos. Desde a ponte danificada até o centro da cidade, os visitantes têm de fazer longas caminhadas, por causa do colapso do sistema de transporte.

Novos tremores

O falta de assistência é agravada pelo medo de novos terremotos. A terra voltou a tremer ontem em Pisco, causando mais pânico.

O tremor de ontem, considerado uma das mais de 500 réplicas do abalo principal pelo Instituto Geofísico do Peru, foi de 5,5 graus da escala Richter e durou apenas alguns segundos. Postes de eletricidade balançaram, o reboco das paredes de algumas ruínas caiu e mulheres e crianças gritaram em desespero, temendo a repetição da catástrofe de 8 graus e 2 minutos de duração que reduziu a cidade a um monte de escombros 36 horas antes.

Pisco, de 130 mil habitantes – quase todos pescadores ou proprietários de pequenos cultivos de subsistência –, converteu-se num cenário de pesadelo.

As construções que não desabaram estão condenadas e foram interditadas pelas autoridades. A cidade está envolta numa nuvem de poeira e os moradores, desesperados, abordam todas as pessoas pedindo por qualquer tipo de ajuda: uma garrafa de água mineral, uma barra de chocolate, um biscoito.

A cidade está sem eletricidade desde o tremor. E as equipes de resgate, que vinham trabalhando dia e noite à luz de geradores a diesel, pareciam ontem ter perdido a esperança de encontrar pessoas vivas sob os escombros.

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