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Curitiba – Atual diretor da "The Israel Project", uma organização não-governamental que presta informações a jornalistas e ao público em geral sobre Israel, Calev Ben-David foi editor-executivo do jornal Jerusalem Post, onde por mais de 20 anos cobriu a política israelense e ainda hoje assina uma coluna. De Los Angeles, onde esteve nessa última semana, Ben-David falou com a Gazeta do Povo, por telefone, sobre o Kadima, fundado por Ariel Sharon, e sobre os desafios da política israelense.

Gazeta do Povo – Quando o Kadima foi criado, em novembro de 2005, qual era a expectativa dos israelenses para o partido? O Kadima era visto com esperança para uma solução dos conflitos de Israel? Ainda é? Ben-David – Obviamente o Kadima foi concebido porque as pessoas em Israel estavam procurando uma terceira via. Israel tem uma história de tentar criar um partido de centro, entre a esquerda, do Partido Trabalhista, e a direita, do Likud. Ocorreram diferentes tentativas nesse sentido. O Kadima, de alguma maneira, preenche esse espaço. Um ano depois de criado, o partido tem seus problemas, mas ainda existe e está no governo. Para muita gente a esperança ainda está lá.

O senhor acredita que o fato de Ehud Olmert ter feito sua carreira política sem qualquer destaque em relação à área militar tenha motivado o conflito contra o Hezbollah, já que ele tinha algo a provar para a opinião pública israelense?Sem dúvida. E o fato de os dois líderes do Kadima, não só Olmert, mas também Tzipi Livni (ministra de Relações Exteriores), que muita gente vê como a sucessora de Olmert, não terem experiência militar é um problema para o partido. Um das conseqüências disso é a história do Shaul Mofaz. Muita gente não via futuro para Mofaz (ministro dos Transportes) quando ele saiu do Likud para entrar no Kadima, diziam que ele nunca teria uma chance de se tornar o líder do partido. Mas o fato é que ele é um dos poucos membros do Kadima que tem experiência militar (foi comandante das Forças Armadas) e isso vai ajudá-lo a competir pela liderança do partido no futuro.

Desde a retirada de Israel do sul do Líbano, em 2000, o Hezbollah se reestruturou, especialmente militarmente. Ariel Sharon pode ser responsabilizado por isso? É díficil de dizer. Mas acho que não. Sharon, especificamente, não pode ser considerado culpado. Foi o Partido Trabalhista que realizou a retirada do sul do Líbano, porque acreditaram que a resolução da ONU seria cumprida (Resolução 1.559, que exige a retirada total das tropas estrangeiras do Líbano e o desarmamento do Hezbollah). É um pouco injusto culpar apenas Sharon pela retirada do Líbano em 2000. Mas definitivamente o principal problema do Kadima agora é não ter a credibilidade política ncessária, por causa da Guerra com o Líbano, que foi mal conduzida, para levar a cabo a retirada, no futuro, da Cisjordânia, que eles tanto defendem. Se eles não fizerem a retirada da Cisjordânia, então qual é o projeto do Kadima? Esse é o resultado da guerra. Quais foram os erros de Olmert e do Kadima no conflito com o Líbano?Acho que Israel foi muito melhor na guerra do que as pessoas comentam. Mas houve erros, muitos de comunicação. Acho que o Olmert, desde o começo, deveria ter sido mais realista com os israelenses quanto às expectativas para o conflito. Ele não deveria ter dito: "Nós vamos destruir o Hezbollah", porque isso não aconteceu. Ou: "Nós vamos conseguir resgatar os soldados", porque isso também não ocorreu. Acho que a inexperiência de Olmert e do Kadima foi o grande problema.

A vida em Israel está mais segura se comparada a novembro do ano passado?Eu não posso afirmar isso, mas não necessariamente por causa da guerra (com o Líbano). Há muita instabilidade na região. Temos o Irã, que está envolto à questão nuclear. Temos o Hezbollah, que ameaça o governo libanês. Tem a Síria e o Irã, que também se mostram contrários ao governo do Líbano. Tem o Hamas lançando seus foguetes. Então, não; certamente a vida em Israel não está mais segura. Mas acho que isso não tem nada a ver com o Kadima.

Qual é o futuro do Kadima. Ele continuará a ser um partido de centro, uma terceira via?A pergunta que estão fazendo hoje é: o partido vai continuar a existir? Muita gente está prevendo que o Kadima seja dividido nas próximas eleições. Esse pessoal acredita que se as pesquisas de opinião mostrarem o Likud bem nas intenções de votos, uma parte do partido pode retornar para o Likud. Mas é muito cedo para afirmar isso. Muita gente escreveu o obituário do Kadima depois que o Sharon foi hospitalizado. Depois veio o obituário do Kadima ao fim da guerra (com o Líbano). Veja Tzipi Livni, por exemplo, ela é ainda muito jovem, não está nem com 50 anos. Então, acho que existe uma possibilidade para o Kadima, que particularmente depende do Likud e do Partido Trabalhalista, ainda com problemas. É muito cedo para dizer se o Kadima vai ter um espaço permanente na paisagem.

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