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Cubano com camisa e bandeira com as cores do país durante a reabertura da embaixada norte-americana na ilha, em julho | JONATHAN ERNST/REUTERS
Cubano com camisa e bandeira com as cores do país durante a reabertura da embaixada norte-americana na ilha, em julho| Foto: JONATHAN ERNST/REUTERS

Fora de Cuba há 15 anos, Marlene Azor Hernández dedicou sua tese de doutorado, concluída no México, à população civil cubana. Especialista no tema, ela afirma que todos os acordos feitos até agora no país são periféricos e pouco impactaram na vida cotidiana.

Um ano depois do degelo, a repressão a dissidentes é ainda maior, e até a ONU alertou para a onda de violência. O que aconteceu?

A repressão está diretamente ligada a um plano do governo de se manter no mesmo modelo econômico e político, e não fazer mudanças sociais de fato. Todas as aberturas propostas por Obama são praticamente rejeitadas pelo governo e refletem a falta de vontade política de se fazerem mudanças substanciais. É uma aposta para tentar exterminar a oposição e, assim, manter a visão de grande consenso interno em Cuba em relação a esse processo e passar uma falsa, ou pelo menos forçada, imagem de estabilidade.

Na prática, o que mudou para os cubanos?

Todos os acordos feitos até agora foram periféricos. A expectativa inicial da população cubana de que a retomada das relações impactasse na vida cotidiana, facilitando a economia não estatal, de microempresários e cooperativas, não se concretizou. De fato, as propostas de Obama reforçavam a tentativa de empoderar o setor, mas da parte cubana não foram feitas as mudanças necessárias, como a diminuição de impostos ou simplificação de trâmites para os pequenos empresários locais.

Há melhorias no turismo?

Sim. O interesse por Cuba a partir do degelo de fato aumentou. Vemos muitos americanos, mas também espanhóis, franceses, noruegueses... Mas, se o turismo cresceu extraordinariamente no último ano, falta desenvolver uma estrutura para dar conta deste aumento. Das toalhas às almofadas, da comida ao cimento para construir os hotéis, tudo é importado. Não existe uma indústria nacional que permita que o país se desenvolva a partir do turismo. Todo o valor que ingressa é consumido pelo próprio setor, o que não faz a roda girar nem tem um impacto econômico real.

Os trabalhadores por conta própria também não aumentaram?

Sim, mas é superficial. Em primeiro lugar, o cuentapropismo é reduzido a alguns serviços: apenas 201 ofícios recebem autorização para realizar negócios próprios, a maioria de baixa qualificação. Em geral, também não está ligado a atividades industriais e agrícolas. Os agricultores têm, ainda, um impedimento real porque são usufrutuários da terra, mas pagam impostos altos para a produção e 75% do que é produzido são vendidos ao Estado por preços fixados por ele. É uma maneira de asfixiar a produção interna.

E em relação à internet, algo mudou na ilha?

Foram abertos 20 pontos wi-fi em Havana e mais alguns no resto do país, totalizando de 60 a 70 no melhor dos cenários. Mas os cubanos precisam sair de casa para se conectar e pagam taxa de 2 pesos convertíveis por hora (o equivalente a US$ 2). É uma medida cosmética. O país continua sendo o pior da América em relação à banda larga e às telecomunicações em geral.

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