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Mulher caminha por área destruída pelo terremoto seguido de tsunami no Japão em 11 de março do ano passado | Carlos Barria/Reuters
Mulher caminha por área destruída pelo terremoto seguido de tsunami no Japão em 11 de março do ano passado| Foto: Carlos Barria/Reuters

Autonomia

Experiência de vilarejo vira exemplo de resposta à devastação

As dificuldades de conseguir um local apropriado para instalar as comunidades desabrigadas pelo tsunami foram salientadas pela experiência de Babanakayama, que tentou fazer isso de maneira mais rápida e correta do que qualquer outra comunidade.

A aldeia até apareceu na NHK, rede de televisão japonesa, como um modelo de resposta rápida ao tsunami por causa de seus laços comunitários e da liderança de um de seus dois chefes, Kurayoshi Abe, de 61 anos, pescador de personalidade forte que comandou uma limpeza geral sem nem esperar pelo governo.

"Não dependemos do governo, nós nos mexemos antes", disse Abe.

Mas os moradores disseram que a limpeza foi a parte fácil.

Quando a poeira baixou, um grupo de líderes começou a fazer reuniões em abrigos de evacuação e a planejar o futuro. Ao decidir que seria melhor mover as casas litorâneas destruídas para uma área elevada atrás da aldeia, eles executaram a difícil tarefa de pedir autorização a 50 donos de terras na área para a construção da Estrada para o Futuro.

"Eles acharam que tinham de agir rápido, quando a lembrança do tsunami ainda estava viva na mente das pessoas", disse Kaoru Chiba, de 36 anos, cujo pai foi um dos líderes responsáveis pela construção da estrada. "Do contrário, se eles tivessem esperado, não obteriam a cooperação dos proprietários."

Todos os donos de terras concordaram, com exceção de um: Ichiro Miura, 60 anos, o outro chefe da aldeia.

Assim como muitas vítimas do tsunami, Miura temia não ser capaz de bancar a construção de uma nova casa, mesmo que a terra estivesse assegurada. Embora o governo central vá oferecer a terra, as pessoas serão responsáveis por construir suas próprias casas. Para aqueles que não dispõem de meios, o governo indicou que vai construir um abrigo público – uma prioridade maior do que um terreno mais alto, segundo algumas pessoas.

Apesar da oposição de Miura e outros, o leito da estrada foi assentado em questão de dias.

Recém-construído no lado de uma encosta, com camadas de rochas ainda expostas ao longo de alguns trechos e árvores no chão, o projeto que deveria ajudar uma aldeia pesqueira a se restabelecer e se reconstruir depois do terremoto seguido de tsunami de março recebeu um nome otimista: Estrada para o Futuro.

Porém, até agora, a estrada não leva a lugar algum. A rodovia e uma comunidade planejada, numa faixa plana de terreno alto mais afastado do litoral que a aldeia destruída, dividem líderes comunitários em grupos opostos, aprofundando as incertezas de seus 370 habitantes, a maioria idosos. Sem utilização e não reconhecida, a Estrada para o Futuro está coberta de cascalho, com poucas perspectivas de ser pavimentada em breve.

As dificuldades de Babana­kayama e localidades vizinhas ajudam a explicar por que, meses depois do terremoto e do tsunami, poucas aldeias e cidades ao longo da costa arrasada tiveram sucesso em fazer o que antes parecia óbvio: encontrar terras altas, para onde as comunidades pudessem ser transplantadas em bloco.

A escassez de terra plana, as discussões envolvendo preços de montanhas particulares, a relutância em se consolidar em comunidades centralizadas e as diferentes necessidades de uma po­­pulação que está envelhecendo complicam os planos de realocação de muitas comunidades.

Com pouco progresso, um número cada vez maior de pessoas e comunidades simplesmente está desistindo da esperança de assegurar terras mais altas. Al­­gumas pessoas, desafiando as autoridades, estão até mesmo começando a reconstruir em áreas inundadas pelo tsunami.

Em Ofunato, por exemplo, autoridades municipais desaconselham fortemente que os moradores reconstruam em áreas inundadas, mas, assim como seus colegas em outros locais, não emitiram uma proibição direta – possivelmente por temer questionamentos legais.

Com a mudança para terras mais altas a anos de distância, se é que ela um dia ocorrerá, novas casas começaram a aparecer em áreas que há alguns meses estavam inundadas.

Em um bairro de Ofunato, bem na costa, uma pequena casa de madeira era vista num terreno desproporcionalmente grande, onde uma casa muito maior ti­­nha sido varrida pelo tsunami. No fim da tarde, quando os ventos do inverno podem ser sentidos dentro de casa, Kikue Shida, de 80 anos, explicou que ela não queria morar com parentes ou numa casa temporária pré-fabricada.

Assim, pediu que um irmão mais novo reconstruísse uma casa para ela, e se mudou em agosto.

Grande parte do bairro continua destruída. Mas os amigos a visitam regularmente para tomar chá, e Shida afirmou estar contente por não ter esperado para ser realocada.

"Já estou com 80 anos e posso não ter muitos anos pela frente. Por isso decidi voltar para cá", disse.

De acordo com as diretrizes de reconstrução de Tóquio, o governo central pagará para adquirir terra em áreas elevadas se pelo menos cinco famílias quiserem se mudar para lá juntas. No en­­tanto, a terra deve atender aos requisitos de custo estabelecidos por governos locais. Com pouca terra plana disponível, a maioria dos locais propostos exigirá que as autoridades comprem montanhas no interior de proprietários individuais e as aplanem para uso residencial.

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