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Lima (AE) – Se comparado aos demais integrantes de sua família, o líder das pesquisas para as eleições do próximo domingo, Ollanta Humala, do partido União pelo Peru, pode ser descrito como um moderado. No esforço para evitar que declarações polêmicas de seus parentes lhe tirem votos, principalmente num provável segundo turno, Humala tem feito pedidos para que eles se contenham. Um dos adversários diretos de Ollanta Humala na corrida presidencial é seu irmão Ulises, que concorre pelo partido Avança País. Outro de seus irmãos, o major do Exército Antauro – preso após liderar revoltas militares em 2000 e 2005 –, é candidato a deputado pelo partido de Ulises.

Humala corre ainda o risco de perder pontos para a candidata Lourdes Flores, que estava em primeiro lular nas pesquisas há dois meses.

"Há um certo entusiasmo da esquerda latino-americana com a candidatura de Ollanta Humala", diz o catedrático em Ciências Sociais da Universidade do Pacífico José Vivanco. "Mas as origens do candidato indicam que, além do discurso populista e da visão estatista, há poucos pontos em comum entre Humala e a ideologia defendida pelos líderes esquerdistas que têm emergido no continente. Basta dizer que Ollanta Humala, no começo dos anos 90, comandou um batalhão antisubversivo, encarregado justamente de combater guerrilhas esquerdistas."

Ollanta, Antauro e Ulises têm outros quatro irmãos – Isaías, Pachacutec, Ima Súmac e Cusicollur. Os sete são filhos de Elena Tasso e Isaac Humala Nuñez – um advogado de Lima conhecido por ser o ideólogo e fundador da doutrina conhecida como etnocacerismo. Trata-se de um movimento ultranacionalista que prega a restauração do orgulho inca, cujos herdeiros deveriam substituir a atual elite peruana, formada por brancos e asiáticos. Os etnocaceristas também defendem a nacionalização radical de todas as empresas que atuam no Peru e o julgamento e possível pena de morte para os "traidores da pátria". A doutrina, que remete ao nome de Andrés Avelino Cáceres, presidente e herói da Guerra do Pacífico (entre Peru e Bolívia), elege os chilenos como "rivais tradicionais".

Como tenente-coronel, Ollanta participou com Antauro da rebelião militar de 2000, afastou-se do etnocacerismo e moderou seu discurso para tornar viável sua candidatura. Por causa do abrandamento de suas posições, seus irmãos romperam com ele. A língua ferina do patriarca Isaac Humala é outra ameaça para o líder das pesquisas eleitorais.

Nos últimos meses, "papai Humala", como é conhecido na imprensa peruana, fez referências elogiosas ao Terceiro Reich e defendeu a concessão de anistia aos líderes das guerrilhas Sendero Luminoso. A mãe de Ollanta também ajuda a pôr lenha na fogueira. Há duas semanas, ela se declarou favorável ao fuzilamento de todos os homossexuais do Peru.

"Ainda há dúvidas sobre os efeitos das declarações dos parentes de Humala sobre o eleitorado peruano. Temas como terrorismo e revoltas militares são muito sensíveis aos peruanos, mesmo para os seduzidos por sua retórica", disse o diretor do Instituto CPI, Manuel Saavedra.

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