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Na noite de sábado, minha família e eu recebemos um e-mail da Air France: nosso voo de domingo à noite, de Paris para São Paulo, estava cancelado. Desde que surgiram as primeiras notícias sobre o fechamento do espaço aéreo de vários países europeus já contávamos com essa possibilidade, mas tínhamos uma outra preocupação, mais urgente. Como se não bastasse o problema nos aeroportos, uma greve havia paralisado as conexões entre Paris e o sul da França – meu irmão, que vive na Irlanda e tinha vindo a Paris para nos encontrar, havia justamente planejado uns dias em Nice e, de lá, voaria de volta para Dublin.

Com muita dificuldade conseguimos uma vaga para ele em um trem de alta velocidade e só então começamos a nos preocupar com o retorno ao Brasil.

O principal problema para quem não fala francês é a falta de informação. O site do consulado brasileiro em Paris, por exemplo, não trazia uma linha sobre o assunto até a noite de domingo. Brasileiros presos na França não sabem quais seus direitos, nem as obrigações das companhias aéreas. No domingo de manhã, com alguns endereços em mãos, meu pai e eu procuramos um escritório da Air France que estivesse aberto. Um deles, nos Invalides, estava funcionando em regime especial justamente para os casos de cancelamento – mas quem visse o site da Air France no sábado não encontraria essa dica: para nossa sorte, a recepcionista do hotel havia indicado justamente esse endereço.

Foram cerca de três horas na fila, ao lado de gente do mundo inteiro. No entanto, ao contrário das cenas de aeroportos a que estamos acostumados em casos de caos aéreo, o que vi foi muita serenidade, talvez conformismo. Afinal, não havia muito o que fazer mesmo. A Air France, sabiamente, decidiu que só atenderia casos de passageiros cujos voos já tivessem sido cancelados (na manhã de domingo, estavam suspensos os voos saindo de Paris até as 8 horas de segunda) e que estivessem fazendo a viagem de volta –quem está em casa sempre pode dar um jeito de adiar a viagem, mas quem precisa voltar ao lar tem mais urgência.

O melhor que a atendente conseguiu para nós foi um retorno na manhã de sexta-feira, com uma conexão curta em Amsterdã. Ao nosso lado, uma família carioca soube que só conseguiria voltar ao Rio no sábado. Quando saíamos do escritório, um outro brasileiro nos procurou para saber o que tínhamos conseguido. Ele deveria ter voltado ao Brasil na quinta-feira, teve o voo remarcado para domingo, e precisaria alterá-lo novamente.

Felizmente, o hotel em que estamos não está com lotação esgotada, e conseguimos prolongar nossa permanência até o dia do novo voo. Coisas para ver e fazer em Paris não faltam, mas, se por um lado ganhamos dias extras para conhecer a cidade, por outro nosso primeiro pensamento é se haverá voos na sexta-feira, ou se é seguro voar assim (apesar de todos os testes que as empresas estão fazendo). Caso os aeroportos reabram logo, tentaremos adiantar o retorno. Enquanto isso, eu me consolo pensando que terei por muito tempo o recorde da empresa de justificativa para faltar ao trabalho (minhas férias terminariam na quarta-feira). Afinal, são poucos os que podem dizer "chefe, estourou um vulcão na Islândia e por isso não poderei ir trabalhar".

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