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Porto Príncipe (AG) – Com mais de 10 mil militares e policiais nas ruas, os haitianos foram ontem às urnas num dia de alguns tumultos e muita desorganização. No país onde o voto não é obrigatório, a população enfrentou filas quilométricas para eleger o presidente e um novo Congresso. A demora de horas para votar e o atraso na abertura de dois locais de votação em Porto Príncipe provocaram muito empurra-empurra. Militares brasileiros tiveram de atirar para o alto para conter a multidão numa seção eleitoral da capital, enquanto a tropa de choque das Nações Unidas jogou bombas de gás lacrimogêneo em Bel Air, bairro pobre sob responsabilidade das tropas brasileiras.

Dos 3,5 milhões de maiores de 18 anos registrados para votar, pelo menos 3,1 milhões retiraram o documento de identidade que serve como título eleitoral. No entanto, até a noite, não havia balanço do número de eleitores que compareceram às urnas. A apuração também tende a ser lenta, especialmente para os cargos legislativos. Quanto à escolha presidencial, pesquisas que veicularam até sábado davam vitória folgada a Rene Préval, candidato ligado ao ex-líder deposto Jean-Bertrand Aristide. Dentre as três dezenas de concorrentes, seu principal rival é Charles Baker, o candidato da elite.

Esforço

Eleitores que tiveram dificuldade para encontrar os locais de votação viram as barreiras como uma forma de boicote da elite sobre a opção popular por Préval. Em Cité Soleil, a mais violenta favela de Porto Príncipe e única região da cidade ainda sob o controle de gangues, não foram instaladas seções eleitorais por causa da falta de segurança. Os 65 mil moradores que tiraram título de eleitor tiveram de ir a bairros vizinhos.

O guia turístico Ermes Auguste, de 53 anos, foi um dos primeiros a chegar a uma escola perto do Palácio Nacional, sede do governo haitiano: "É muito importante estar aqui hoje", disse. Outro que madrugou foi o técnico de refrigeração De Lorme Wilbert, de 33 anos: "Vim cedo. Todo mundo quer votar para mudar a situação do país."

A falta de planejamento foi responsável por boa parte dos atrasos. Em uma escola nos arredores do Palácio Nacional, a fila crescia do lado de fora, enquanto do lado de dentro funcionários ainda arrumavam as salas, empurrando bancos escolares para o fundo e posicionando cadeiras diante das mesas. Em pé por horas, os eleitores esperavam em fila. Impacientes, gritaram repetidamente palavras de ordem como "Vim aqui para votar". Cenas semelhantes ocorreram em diversos locais onde as filas ultrapassavam um quilômetro de extensão.

Em dois pontos de votação – um deles com previsão de atender 20 mil eleitores e outro 17 mil – os portões só foram abertos por volta do meio-dia, seis horas depois do previsto. Por essa razão, as seções permaneceram abertas depois das 16 horas (20 horas no Brasil), horário previsto para o encerramento da votação.

Além dos 9 mil soldados da ONU, comandados pelo Brasil, a Polícia Nacional do Haiti, com efetivo de pelo menos 4 mil homens, também participou da operação. Em algumas seções, porém, não havia policiais nem observadores internacionais. Os haitianos foram proibidos de circular de moto, pois esse tipo de veículo costuma ser usado por bandidos armados de fuzil.

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