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Pôsteres em Manila com propaganda eleitoral de Bongbong Marcos, o BBM, filho do ex-ditador Ferdinand Marcos e líder nas pesquisas para presidente nas Filipinas
Pôsteres em Manila com propaganda eleitoral de Bongbong Marcos, o BBM, filho do ex-ditador Ferdinand Marcos e líder nas pesquisas para presidente nas Filipinas| Foto: EFE/EPA/ROLEX DELA PENA

Tudo na eleição presidencial das Filipinas, que serão realizadas na próxima segunda-feira (9), remete ao passado. A disputa entre Ferdinand Marcos Jr., conhecido como Bongbong Marcos ou BBM, e Leni Robredo repete a briga pela vice-presidência do país em 2016 (nas Filipinas, as eleições para presidente e vice-presidente são separadas), vencida pela advogada e ativista de 57 anos.

Outra remissão ao passado é a candidatura a vice-presidente de Sara Duterte, filha do atual presidente, Rodrigo Duterte, que pela legislação não pode ser reeleito.

A referência mais profunda, entretanto, é a ascendência de BBM: apoiado por Sara na disputa presidencial, ele é filho do ex-ditador Ferdinand Marcos, que governou o país entre 1965 e 86 e cujo legado é uma ferida aberta na vida pública das Filipinas.

Além de liderar um regime repressivo, Marcos era conhecido pela corrupção: estima-se que ele tenha desviado até US$ 10 bilhões dos cofres públicos durante o período em que governou o país, e a coleção de sapatos gigantesca que a primeira-dama Imelda Marcos (mãe de BBM) amealhou enquanto grande parte da população vivia na pobreza se tornou motivo de piada/indignação em todo o mundo.

As pesquisas indicam que Robredo não deve repetir a vitória na disputa pela vice-presidência de seis anos atrás – o levantamento mais recente, divulgado na quinta-feira (5), mostrou que BBM tem 54% da preferência do eleitorado, enquanto a atual vice-presidente, sua adversária mais próxima (há outros oito candidatos, entre eles o ex-campeão mundial de boxe Manny Pacquiao), apresentou 22%.

Analistas apontam que BBM, de 64 anos, vem mobilizando com habilidade o eleitorado mais jovem nas redes sociais, ao mesmo tempo em que prega que o governo de seu pai foi uma era dourada nas Filipinas.

“A campanha estabeleceu com sucesso um padrão duplo em que os pecados do pai não se traduzem no filho”, afirmou Alan German, executivo de relações públicas e comunicação política na capital Manila, ao site Nikkei Asia. “Mas as conquistas do pai – se podem ser chamadas de conquistas – são herdadas pelo filho.”

BBM é beneficiado pelo fato de que grande parte dos eleitores não conheceu a repressão do regime de Ferdinand Marcos: 70% da população filipina tem menos de 40 anos de idade.

“O tempo passou desde a época da lei marcial [imposta pelo ex-ditador, que morreu em 1989] e, se você observar a demografia, são principalmente os filipinos mais velhos que se lembram [do pai] e se opõem a BBM”, argumentou Georgi Engelbrecht, analista sênior das Filipinas no International Crisis Group, ao site Foreign Policy.

Para Sara Duterte, que também lidera as pesquisas com ampla margem (tem 59% da preferência, de acordo com o levantamento mais recente), a chegada à vice-presidência representaria que sua família continuaria próxima do poder, o que daria a Rodrigo Duterte certa proteção contra uma investigação por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional, em Haia, pela sua “guerra às drogas”, na qual milhares de pessoas foram mortas.

A Human Rights Watch (HRW) destacou em relatório que a resposta do governo filipino à pandemia de Covid-19 também trouxe graves violações de direitos humanos, até mesmo execuções de pessoas que desrespeitaram lockdowns.

Outro desdobramento a ser observado caso a dobradinha BBM-Sara Duterte saia vitoriosa é a relação das Filipinas com as duas maiores economias do mundo. Rodrigo Duterte promoveu uma aproximação com a China durante seu mandato, apesar de disputas territoriais com Pequim.

BBM prega intensificar as relações bilaterais com a ditadura chinesa e, apesar das Filipinas manterem um tratado de defesa mútua com os Estados Unidos, há um fator que afasta o filho do ex-ditador dos americanos: um processo sobre direitos humanos que tramita nos EUA e visa indenização para as vítimas do regime de Ferdinand Marcos. Nas Filipinas, a depender do resultado das urnas na próxima semana, o futuro e o passado poderão caminhar juntos.

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