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Julian Assange, fundador do site de vazamentos WikiLeaks | Carl Court/AFP
Julian Assange, fundador do site de vazamentos WikiLeaks| Foto: Carl Court/AFP

Na mira

Veja a evolução dos vazamentos pelo site WikiLeaks e do cerco contra seu fundador, o australiano

Julian Assange:2006

- Julian Assange cria o WikiLeaks.

2008

- Site ganha fama após postar mensagens pessoais do e-mail Yahoo de Sarah Palin, então candidata à vice-Presidência dos EUA pelo Partido Republicano.

2010

- Enxurrada de revelações começa em abril com a publicação de vídeo de ataque realizado em Bagdá por um helicóptero militar americano, em 2007, em que 12 pessoas morreram, incluindo dois jornalistas da agência Reuters.

Julho: Mais uma "bomba", com a divulgação de 70 mil arquivos secretos sobre a guerra do Afeganistão.

Outubro: Site divulga cerca de 400 mil documentos militares secretos sobre a guerra do Iraque em que o número de mortes civis é elevado em 15 mil.

Novembro: A Justiça sueca emite ordem de prisão contra Assange por acusação de estupro; o site divulga 250 mil telegramas diplomáticos que incluem dados pessoais de líderes internacionais e opiniões de mandatários sobre assuntos como o programa nuclear iraniano.

Dezembro: Assange é preso.

Uma legião de fãs protesta em frente de embaixadas da Suécia, e ativistas derrubam sites de operadoras de cartão de crédito que bloquearam doações enviadas a ele. Solto após nove dias, ele fica em liberdade monitorada.

No dia 11 de janeiro, Assange deve enfrentar nova audiência judicial.

Fonte: Redação, com Reuters

O codinome de hacker de Julian Assange na juventude era "dignamente desleal", uma citação de Ho­­rácio. A escolha revela duas características do homem internacional de 2010: o autoassumido papel de justiceiro digital e a sofisticação.Na década de 80, quando ainda tinha cabelos castanhos, o adolescente Assange aprendeu a invadir redes de computador e sistemas de telecomunicações, e se tornou conhecido como um excelente pirata da nascente internet.

Com outros dois hackers, ele formou um grupo chamado Sub­­versivos Internacionais, que se divertia invadindo sistemas na Eu­­ropa e nos EUA – inclusive do De­­partamento de Defesa e do laboratório nacional de Los Alamos.

Apesar de esse caminho ter con­­duzido a alguns encontros com a polícia – nunca tão graves como os nove dias passados na cadeia em dezembro deste ano, por acusações de estupro na Sué­­cia – ele também desenvolveu uma ética pessoal que depois delinearia no livro digital Under­­ground, do qual é coautor. "Não prejudique sistemas de computador que tiver invadido (o que inclui não derrubá-lo); não mude informações nesses sistemas (exceto pela alteração de logs para apagar seu rastro), e compartilhe informações."

Na época, o australiano era um autodidata, conforme relato de Raffi Khatchadourian, que o en­­trevistou em abril para a revista New Yorker. Assange contou que costumava pesquisar sobre tudo que lhe interessasse, passando horas em bibliotecas. Com a mãe nômade e um meio-irmão, ele se mudou 37 vezes até os 14 anos, recebendo educação em casa e alimentando grande interesse pelas ciências exatas, história e direito.

À sofisticação intelectual que desenvolveu, Assange não acrescenta modos polidos: com frequência em entrevistas manda seus detratores para o inferno, e daí para baixo.

Também é comum que use a exposição midiática para criticar os Estados Unidos. Em sua primeira entrevista após deixar a prisão, ao jornal El País, colocou o apoio do presidente Lula entre um dos mais importantes que recebeu, e acrescentou, sobre sua saída iminente do governo: "[Deve ser porque ele] já não tem de prestar ne­­nhuma lealdade aos EUA."

O clima de conflito também marcou sua família, quando passou por uma fase de completa imersão no trabalho e a esposa o deixou, levando o filho. A briga pela guarda, se­­gundo ele, é o que o deixou de cabelos brancos.

Justiceiro

O papel de Robin Hood digital foi assumido em tempo integral por Assange em 2006, quando criou um site cujo propósito era expor irregularidades cometidas por empresas e governos. O grupo pedia aos internautas que enviassem ao WikiLeaks suas contribuições relacionadas a desvios identificados em seus países. A princípio, a ideia era combater a corrupção estatal chinesa, russa e de go­­vernos autoritários da região cen­­troasiática, de forma que as informações captadas e retransmitidas via web fossem colocadas em julgamento público. Outro trabalho que chegou a ser feito foi a comprovação de autenticidade de mensagens de militantes islâmicos.

Mas a iniciativa não parou por aí, e o grupo partiu para divulgações de curiosidades do mundo político, como mensagens eletrônicas da celebridade republicana Sarah Palin, divulgadas em 2008. O crescimento astronômico veio em abril deste ano, quando o grupo obteve, retrabalhou e divulgou um vídeo mostrando militares americanos atirando em militantes iraquianos e mais dois fotógrafos da agência Reuters em Bagdá, cujas lentes gigantes foram confundidas com armas.

Collateral Murder trazia o som ambiente dos militares decidindo sobre o ataque e expôs a arbitrariedade e violência de algumas operações. Também rendeu ao WikiLeaks mais de US$ 200 mil em doações.

Nesse caso, Assange mostrou no­­vamente ter preocupações éticas, já que teria contactado as famílias dos iraquianos cujas mortes estão retratadas do vídeo antes que a exposição ocorresse.

Sua fama aumentou ao longo do ano, na esteira das revelações de documentos militares e diplomáticos, alguns secretos, ou­­tros não, do governo americano.

Para os EUA, o estrago não foi tanto pelo conteúdo vazado, que em alguns casos não passa de mexerico. (Um diplomata brasileiro chegou a classificar os diálogos divulgados como "saborosos".) O mais importante foi a identificação de militantes antiamericanos com a causa do australiano e sua deificação.

WikiLeaks

Tudo somado, o WikiLeaks parece ser um empreendimento bem sucedido repleto de boas intenções. Julian Assange se tornou celebridade: seu livro de memórias será publicado em 2011 inclusive em português e seu filme deve sair ainda ano que vem. Até a revista Rolling Stone o escolheu como "estrela de rock do ano".

Mas o fato de a revista Time ter desprezado a aclamação popular por Julian Assange como Perso­­nalidade do Ano (o escolhido foi o criador do Facebook, Mike Zu­­ckerberg) revela que não há unanimidade sobre a validade do método e a importância das revelações feitas pelo australiano.

O que a maioria dos "pé-atrás" questiona é de onde Assange tira suas informações e quais são suas reais intenções.

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