• Carregando...
Fornos de argila utilizados por povos indígenas do Andes para fundir metais atingiam até 1.000°C de temperatura | Instituto Interdisciplinario Tilcara/Efe
Fornos de argila utilizados por povos indígenas do Andes para fundir metais atingiam até 1.000°C de temperatura| Foto: Instituto Interdisciplinario Tilcara/Efe

Misticismo

Além da metalurgia, utensílios eram cultuados em rituais

A tecnologia dos "huayrachina" foi empregada nos grandes centros de população da região boliviana do Potosí e do norte argentino durante séculos, inclusive depois da chegada dos colonizadores, até a introdução do amálgama com mercúrio. "Segundo assinalam os cronistas espanhóis, não se tratava unicamente de utensílios ou ferramentas para processar o mineral, mas para os povos indígenas as "huayras" eram objetos de culto. Adoravam as "huayras", como também os minerais.

Isso se explica pelo lado mágico que tem todo o processo de fundição", ressalta Pablo Cruz, diretor do Instituto Interdisciplinar Tilcara.

"São como pequenos vulcões que não só cintilam luzes de todas as tonalidades e cheiros, mas também têm um barulho muito especial, como se estivessem vivos", explica o especialista sobre o utensílio usado pelos antigos habitantes da região.

Novos estudos

Por causa dos sucessos com estudos dos fornos "huayrachina", o instituto decidiu começar uma plataforma experimental sobre a tecnologia indígena com o fogo, que envolverá não somente as técnicas metalúrgicas, mas também outras disciplinas, como a cerâmica, cultuadas por aqueles povos.

Potência

Os fornos de vento eram portáteis e permitiam aos indígenas fundir três quilos de metal com apenas seis quilogramas de papelão, quase o mesmo combustível que um argentino gasta para preparar o típico assado de domingo.

Interesse

As pesquisas chamaram atenção de diferentes públicos: das comunidades indígenas que ainda vivem na região andina, como os Qolla Ayllu; de físicos e especialistas em metalurgia.

Como um pequeno forno cilíndrico de argila pode alcançar até mil graus de temperatura? Por que eles funcionam nos Andes e não na França?

Esses e outros enigmas da metalurgia indígena andina que permaneceram séculos sem resposta estão a ponto de ser resolvidos por arqueólogos da Argentina.

Os fornos "huayrachina", cujos restos arqueológicos mais antigos datam do primeiro milênio de nossa era, são pequenos cilindros com buracos que permitiam aos indígenas da região entre o sul da Bolívia e o norte da Argentina fundir metais muito puros com muito pouco combustível.

"Quando os espanhóis chegaram à região, em Potosí [Bolívia], oficialmente em 1945, os europeus não conheciam a tecnologia para tratar o mineral que havia aqui nos Andes", explica Pablo Cruz, diretor do Instituto Interdisciplinar Tilcara, na província argentina de Jujuy.

"Esse é um dos elementos do que foi um centro econômico durante o período colonial, junto com a mineração. A metalurgia, sobre a qual não tínhamos muitas informações fora as fornecidas por restos arqueológicos, é algo que não podemos compreender em sua totalidade", acrescentou Cruz.

"Huayra" faz referência ao vento, enquanto "china" significa mulher em língua quíchua, embora os pesquisadores ainda não tenham conseguido identificar o porquê dessa segunda parte do nome.

O diretor do instituto pesquisa os fornos "huayrachina" há quase uma década, e os estudou na Fran-ça, junto com outros especialistas em tecnologia indígena.

Lá, no entanto, não conseguiram extrair o metal nos fornos. Não até este ano, quando os primeiros experimentos realizados na cidade argentina de Tilcara lançaram finalmente nova luz sobre o enigma do funcionamento dos fornos andinos.

"É como uma chaminé que tem vários orifícios por onde circula o vento. O que podemos provar é que precisa de muito vento, a partir de 10 metros por segundo de ventilação natural, e estamos tentando desentranhar como entra em jogo a altura e a pressão atmosférica", detalha o responsável pelo projeto.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]