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Papa esteve na cidade de Maskwacis, onde funcionava um dos maiores internatos em que o Estado canadense organizou a “assimilação” de crianças nativas com colaboração da Igreja
Papa esteve na cidade de Maskwacis, onde funcionava um dos maiores internatos em que o Estado canadense organizou a “assimilação” de crianças nativas com colaboração da Igreja| Foto: EFE/EPA/CIRO FUSCO

O papa Francisco pediu perdão nesta segunda-feira (25) “pelo mal que tantos cristãos fizeram aos indígenas” durante a colonização e pela “cooperação” e “indiferença” da Igreja Católica, durante sua visita à cidade de Maskwacis, onde funcionava um dos maiores internatos em que o Estado canadense organizou os processos de “assimilação” dos filhos dos povos originários.

“Gostaria de lhes dizer, com todo o meu coração, que estou profundamente magoado: peço desculpas pela maneira como, infelizmente, muitos cristãos adotaram a mentalidade colonialista das potências que oprimiam os povos indígenas”, disse Francisco, sentado entre os representantes dos chefes de povos indígenas e diante de mais de 2 mil pessoas, entre elas muitas vítimas desses internatos.

O pontífice viajou ao Canadá a convite dos povos indígenas para se desculpar pelos abusos perpetrados nos internatos, muitos deles administrados pela Igreja Católica, onde cerca de 150 mil crianças foram arrancadas de suas famílias, enquanto estima-se que mais de 4 mil morreram em decorrência de abusos e doenças, com a maioria delas enterradas em valas comuns sem qualquer identificação.

“Venho às suas terras nativas para dizer pessoalmente que estou ferido, implorar o perdão de Deus, a cura e a reconciliação, para mostrar minha proximidade, rezar com vocês e por vocês”, afirmou Francisco em espanhol, um pedido que os indígenas saudaram com aplausos.

O papa também desejou que sua presença servisse para “trabalharmos juntos, para que os sofrimentos do passado deem lugar a um futuro de justiça, cura e reconciliação”, antes de acrescentar que esta visita não era um ponto de chegada, mas um ponto de partida para este processo.

Francisco, que rezou no cemitério onde estão enterradas muitas das crianças indígenas que morreram na escola Ermineskin, explicou que “é necessário lembrar como as políticas de assimilação e desengajamento, que também incluíam o sistema de escolas residenciais, foram desastrosas para o povo dessas terras”.

“Acabaram marginalizando sistematicamente os povos indígenas”, apontou, descrevendo como “através do sistema de escolas residenciais, suas línguas e culturas foram denegridas e reprimidas; as crianças sofreram abusos físicos e verbais, psicológicos e espirituais; foram tiradas de suas casas quando eram pequenas e isso marcou indelevelmente a relação entre pais e filhos, entre avós e netos”.

Francisco também se desculpou, “em particular, pela forma como muitos membros da Igreja e comunidades religiosas colaboraram, também por meio da indiferença, naqueles projetos de destruição cultural e assimilação forçada dos governos da época”.

“Gostaria de repetir com vergonha e clareza: peço humildemente perdão pelo mal que tantos cristãos cometeram contra os povos indígenas”, reiterou.

Ecoando alguns dos pedidos dos indígenas à Igreja Católica, o papa assegurou que esse processo de reconciliação exigirá “uma busca séria da verdade sobre o passado e ajudar os sobreviventes das escolas residenciais a realizar processos de cura”.

Os representantes das primeiras nações, os metis e os unit pediram à Igreja Católica que os responsáveis ​​pelas escolas sejam julgados, que os arquivos sejam abertos para investigação, bem como que lhes sejam devolvidas algumas obras de arte que lhes pertenciam e estão agora nos Museus do Vaticano.

O pontífice também se desculpou por não poder visitar outras escolas, como a de Kamloops, onde foram encontradas mais de cem corpos de crianças no ano passado, mas assegurou que conhece “o sofrimento, os traumas e os desafios dos povos indígenas em todas as regiões deste país”.

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