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Curitiba — Os 136 especialistas que fazem parte do órgão das Nações Unidas para acesso e coordenação de desastres (United Nations Disaster Assessment and Coordination, Undac) estão pressionados pelo aumento da freqüência dos desastres naturais. Integrante da equipe, o geólogo paranaense Renato Lima, que também atua na Universidade Federal do Paraná (UFPR), diz que o Undac mal tem tido condições de atender à demanda. "O intervalo entre os chamados tem sido cada vez menor", relata. Para ele, tudo isso é resultado do descaso generalizado com as questões ambientais. Como os demais peritos do Undac, Lima recebe pagamento simbólico pela tarefa humanitária e não pode abrir mão de suas outras atividades, o que o impede de ajudar com mais freqüência. Antes de partir para a inundada Guatemala, na segunda-feira, o geólogo falou sobre os desafios da tarefa e sobre a importância dos sistemas de defesa em todas as esferas administrativas.

Gazeta do Povo – Como a equipe do Undac tem dado conta de atender a tantos desastres. A equipe é suficiente?Renato Lima – Somos 136 pessoas, mas só 20% são funcionários de dedicação exclusiva à ONU. A maioria tem outras atividades e fica em alerta permanente para os chamados, que têm sido mais freqüentes porque a vulnerabilidade do planeta tem aumentado, especialmente pela ocupação inadequada e pela excessiva impermeabilização do solo. O mesmo volume de chuvas que antes elevaria o nível de um rio em dois metros agora eleva em quatro ou cinco porque a cobertura vegetal está reduzida. Quanto maior o descaso ambiental, maior a vulnerabilidade. Desde dezembro, tentamos aumentar a equipe, especialmente no Caribe e na Ásia, onde os desastres são mais rotineiros. Tivemos este ano, na Suécia, o primeiro curso para formar uma equipe de instrutores.

Você tem sido chamado com mais freqüência para missões do Undac?Tenho, mas nem sempre é possível atender aos chamados. Minha primeira missão foi em 2001, na área atingida por um terremoto em El Salvador. Depois, em 2002 foram deslizamentos de terra na Bolívia. Tive um intervalo e em 2004 fui chamado a Granada, ilha do Caribe devastada por um furacão. No mesmo ano, em dezembro, estive escalado para o tsunami da Ásia, mas não fui porque estava envolvido em uma questão local: a explosão do navio Vicunha, no Porto de Paranaguá, ocorrida em novembro. Logo em seguida houve a queda da Ponte Capivari, na BR-116, em janeiro de 2005. Agora, passados alguns meses, recebi o chamado para ir à Guatemala e sei que há outra equipe se mobilizando para ir ao Paquistão, atingido pelo terremoto. Infelizmente, com o aumento da vulnerabilidade ambiental, a tendência é de que as missões fiquem cada vez mais freqüentes. Quanto aos terremotos, não há nada a fazer. São acomodações de placas tectônicas. Mas nos demais fenônemos, como os furacões, o impacto é maior porque não se respeita regras ecológicas básicas. Os EUA, por exemplo, deram as costas às metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto.

Por falar em EUA, como você viu a resposta do país às enchentes decorrentes do furacão Katrina?Nesse aspecto acho que as autoridades agiram corretamente. Dias antes da chegada do furacão, tomaram a difícil decisão de indicar a evacuação das cidades mais vulneráveis. O problema, no entanto, é que o país não pôde garantir que a recomendação se efetivasse para todos. Assim, as famílias mais pobres, que não tinham para onde se deslocar, ficaram mais expostas.

E o Brasil? Como está em termos de sistema de defesa?Há um caminho grande a ser percorrido, mas alguns passos foram dados. Os estados do Sul e Sudeste têm sistemas efetivados com a Defesa Civil. A do Paraná, por exemplo, está investindo em treinamento para gestão de desastres. De um modo geral, precisamos melhorar os sistemas no âmbito municipal, que é a primeira esfera a que o cidadão recorre.

Voltando à sua missão atual. Quanto tempo você deve passar na Guatemala? O que leva na bagagem?Sabemos a data da partida, mas nunca a da volta. Em geral as missões duram de duas a três semanas. É possível que a equipe tenha de se deslocar para México e El Salvador. Nossa bagagem é padrão; um kit do Undac com colete, sistema de GPS, purificador de água e outros equipamentos úteis. Também temos de levar água e alimentos suficientes para termos autonomia pelo menos durante as primeiras 48 horas da missão.

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