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Manifestante passa por veículo destruído em uma das ruas que levam à embaixada dos EUA no Cairo, Egito | Reuters/Amr Abdallah Dalsh
Manifestante passa por veículo destruído em uma das ruas que levam à embaixada dos EUA no Cairo, Egito| Foto: Reuters/Amr Abdallah Dalsh

Mistério

Atores do filme que satiriza Maomé dizem que foram enganados

A Inocência dos muçulmanos, a produção amadora repleta de barbas postiças e dublagens não sincronizadas, responsável por desencadear protestos em diversos países por sua representação satírica e ofensiva do profeta Maomé, significa um mistério absoluto até para os que fizeram parte do projeto. Não se sabe nem mesmo se a versão integral do trailer de 14 minutos disponível no YouTube chegou a ser exibida alguma vez ao público.

Steve Klein, creditado como consultor do projeto, afirmou que o filme foi exibido numa sessão de cinema em Los Angeles com um título diferente, no Vine Theater. Ainda assim, segundo ele, 30 minutos após o começo da projeção nenhum ingresso teria sido vendido.

Uma das atrizes que aparecem no filme, Cindy Lee Garcia, de Bakersfield, Califórnia, disse à Reuters que compareceu a um anúncio para um filme chamado Guerreiro do deserto.

"É tão irreal, é como se nada do que filmamos estivesse lá", disse.

Numa das cenas, sua personagem era obrigada a entregar o filho para o "Mestre George", descrito como um "líder forte" e "tirano". Mas no trailer, sua voz parece ter sido dublada e ela passa a criança a Maomé. A chamada para o elenco no site Backstage.com descreve "Guerreiro do deserto" como uma produção de baixo orçamento e um filme de aventura histórica no deserto árabe.

Mas o resultado final, ou ao menos a prévia disponível no YouTube, fica muito longe desta descrição. Em um dos trechos, uma anciã diz: "Tenho mais de 120 anos. Na minha vida nunca conheci um assassino criminoso como Maomé. Mata homens. Captura mulheres e crianças. Roba caravanas. Vende meninos como escravos depois que ele e seus homens os usam". O elenco e a equipe técnica dizem, agora, que foram enganados.

O homem identificado como produtor do filme, Nakoula Basseley Nakoula, um cristão copta de 55 anos que vive na Califórnia, pediu que a polícia fosse até sua casa por temer represálias após a repercussão de A Inocência dos muçulmanos. Ele nega ser também o diretor do filme, identificado inicialmente como Sam Bacile. Mas existem indícios de que os dois são a mesma pessoa: o celular do suposto cineasta foi rastreado para o mesmo endereço onde Nakoula foi encontrado e há registros de que ele já usou outros nomes.

Valor

US$ 60 mil teria custado o filme A Inocência dos Muçulmanos, segundo a ABC News. Mas Nakoula Basseley Nakoula, suposto responsável pela produção, disse a repórteres que o filme custou US$ 5 milhões.

Protestos e violência se espalharam ontem pelo mundo islâmico, deixando ao menos sete mortos no quarto dia de fúria contra um filme produzido nos EUA que denigre o profeta Maomé.

Desta vez, os ataques contra os EUA não se limitaram a embaixadas e consulados. Estenderam-se a outros alvos americanos, como uma escola na Tunísia e duas lanchonetes no Líbano.

Houve atos pacíficos e violentos em 19 países islâmicos, não apenas no Oriente Médio. Foram registrados atos em locais tão distantes como Indonésia e Nigéria.

Na capital do Sudão, Car­­tum, milhares de manifestantes atacaram a embaixada americana, e três foram mortos pela polícia. Na cidade, também aliados americanos foram alvos. A embaixada da Alemanha no Sudão foi invadida e parcialmente incendiada. A do Reino Unido também sofreu ataque, mas sem grandes danos.

O estopim da fúria, iniciada na terça-feira, é o filme amador A Inocência dos Muçulmanos, que retrata o profeta Maomé como mulherengo e sanguinário.

Ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, ordenou o envio de unidades de elite antiterrorista para o Iêmen e o Sudão. O mesmo já havia sido feito com relação à Líbia.

Quase todos os protestos ocorreram após as orações nas mesquitas, tradicionais às sextas-feiras.

No Líbano, enquanto o papa Bento XVI desembarcava para sua primeira visita à região desde 2009, uma pessoa morreu quando soldados atiraram contra manifestantes. O confronto ocorreu na cidade de Trípoli, no norte, quando centenas de pessoas atacaram lanchonetes de franquias americanas.

Na Tunísia, berço da Pri­­mavera Árabe, houve alguns dos mais violentos protestos, com duas mortes. Diante da ação atrasada da polícia, centenas de manifestantes invadiram a embaixada dos EUA e hastearam a bandeira do islã. Uma escola americana foi incendiada.

No Egito, onde os protestos contra o filme começaram, a polícia usou gás lacrimogêneo para impedir que uma multidão marchasse rumo à embaixada americana.

Em visita a Roma, o presidente Mohamad Mursi, da Irmandade Muçulmana, voltou a reprovar o filme, mas condenou a violência.

"Esses atos irresponsáveis não trazem benefício e desviam a atenção dos problemas reais, como o conflito na Síria e o destino dos palestinos e a falta de estabilidade no Oriente Médio", disse.

Desde terça-feira, quando eclodiram os protestos com o filme A Inocência dos Muçulmanos, 11 pessoas foram mortas, incluindo o embaixador dos EUA na Líbia, Chris Stevens.

Justiça chegará aos responsáveis por ataque, diz Obama

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou ontem que a "Justiça chegará para aqueles que causarem danos aos americanos", em referência aos diplomatas americanos mortos na Líbia.

Obama qualificou de "muito duras" as imagens dos protestos em embaixadas americanas, mas disse que se manterá firme ante à violência contra as missões diplomáticas.

Ele fez os comentários na cerimônia de recepção dos corpos do embaixador do país na Líbia, Chris Stevens, e dos outros três americanos que foram mortos durante uma emboscada em Benghazi, na terça-feira.

A violência no mundo árabe contaminou a campanha presidencial americana. O opositor de Obama, republicano Mitt Romney, disse que o Egito precisa garantir a segurança dos diplomatas estrangeiros para não perder os US$ 1,3 bilhão em assistência que recebe todos os anos dos EUA.

Romney defendeu uma posição mais dura com o Egito. "O povo norte-americano está perturbado com as notícias ao redor do mundo", afirmou.

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