Da loja de suvenires em que trabalha, em Habana Vieja, a cubana que se identifica como Tania, 46, acompanha os navios de cruzeiro que atracam no porto da cidade. Sabe de cor os dias que chegam os americanos: às terças e quintas.
A frequência é menor do que a do ano passado, quando dia sim, dia não chegavam cruzeiros vindos dos EUA abarrotados de turistas. Os que vêm agora nem chegam com sua total capacidade.
“É uma pena, a gente sentiu muito o impacto”, disse a cubana, nesta segunda (16). “Esse [navio] que está aí hoje é europeu, e europeu não compra como o americano.”
O sentimento é generalizado entre quem trabalha no setor em Havana: os turistas americanos, que tomaram a cidade depois do acordo de aproximação firmado entre os dois governos em 2014, fazem falta.
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Os últimos dados oficiais divulgados pelo governo cubano são de 2016, quando 284,6 mil americanos visitaram a ilha número três vezes maior do que em 2014. Ainda não há um registro oficial sobre a visível queda dos americanos nos últimos seis meses.
Em 2016, os EUA subiram para a terceira posição no volume de turistas, ultrapassando a Alemanha e ficando atrás apenas do Canadá e da comunidade cubana no exterior. Uma estimativa não oficial coloca o número de turistas americanos em 2017 em 620 mil.
Mais restrições
Após o anúncio do presidente Donald Trump de que cancelaria o acordo com Cuba, em junho, o que se viu foi uma volta das restrições para os americanos que viajavam a turismo para a ilha.
A partir de novembro, apenas americanos que viajarem com uma organização patrocinando ou em grupos, como de universidades, com objetivo de intercâmbio cultural ou educacional com cubanos o que significa incluir no itinerário programações assim podem visitar o país.
“O impacto foi muito forte para quem trabalha com turismo”, lamenta o taxista Martín Pérez, que gostava das gorjetas dos americanos.
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Especialistas destacam que a queda no número de americanos afeta mais os cubanos que têm e trabalham em pequenos negócios. Uma das reformas implementadas por Raúl Castro permitiu a abertura de negócios próprios no setor de turismo, como restaurantes e táxis.
“O declínio dos turistas americanos prejudicou as pequenas empresas privadas porque os americanos eram mais propensos a entrar em pequenos grupos e ficar nas cidades, em vez de nos balneários [como Varadero]”, afirma William LeoGrande, especialista em Cuba da American University, em Washington.
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