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Operador checa as válvulas de artes na instalação de armazenagem de gás natural turco na Corporação Petroleira da Turquia, em Kinali, oeste de Istambul | Osman Orsal / Reuters
Operador checa as válvulas de artes na instalação de armazenagem de gás natural turco na Corporação Petroleira da Turquia, em Kinali, oeste de Istambul| Foto: Osman Orsal / Reuters

A estatal russa OAO Gazprom confirmou nesta quarta-feira (7) a suspensão total no fornecimento de gás natural para a Europa via Ucrânia, o equivalente a 20% do consumo europeu do combustível. O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, já tinha ordenado no início do dia a interrupção na oferta. A Gazprom disse em um comunicado que foi forçada a agir porque a Ucrânia estava impedindo o trânsito de gás para a Europa por causa da disputa contratual com a Rússia. A companhia também informou ter aumentado a oferta de gás via gasodutos na Bielo-Rússia e Turquia, assim como a utilização das reservas subterrâneas de gás na Europa. A Gazprom também está comprando o combustível no mercado à vista para tentar normalizar o fornecimento.

"Por conta das circunstâncias sem precedentes que impedem que nossos clientes europeus recebam gás da Rússia fomos forçados a interromper a oferta para a Ucrânia até que o país possa oferecer garantias de desobstruir o trânsito de gás", diz o comunicado da Gazprom.

Rússia e Ucrânia acusam-se mutuamente pela crise. Os efeitos do corte no fornecimento de gás reverberaram pelo continente europeu, onde alguns países têm reservas substanciais do produto, mas outros não.

A Bulgária, o mais pobre membro da União Europeia (UE) está entre os mais atingidos, pois dezenas de milhares de pessoas estão sem aquecimento central. A Croácia declarou estado de emergência e a situação na Bósnia está tão ruim que os lenhadores voltaram ao trabalho para cortar lenha para lareiras.

"É uma vergonha que nas duas últimas décadas nossos dirigentes não procuraram por fontes alternativas de energia. Dependemos novamente de Moscou", disse a professora aposentada Anelia Petrova, em Sófia, a capital búlgara. Centenas de pessoas correram para as lojas de Sófia procurando por aquecedores elétricos. Tsvyatko Peev comprou o último em uma loja no centro da cidade. "Estou feliz por ter comprado um, embora tema que os custos adicionais com eletricidade possam arruinar o orçamento familiar", disse ele.

A UE acusa os dois países de usar os consumidores como peças em sua disputa. "É inaceitável que a segurança do suprimento de gás para a UE seja refém de negociações entre a Rússia e a Ucrânia", disse a porta-voz da UE, Pia Ahrenkilde Hansen, exigindo a restauração imediata do fornecimento do produto.

Em Washington, funcionários do governo norte-americano criticaram a Rússia pela crise energética na Europa. "O corte do fornecimento durante o inverno para uma população vulnerável é algo que é inaceitável para nós", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Robert Wood. O conselheiro nacional de segurança Stephen Hadley advertiu Moscou de que usar suas exportações de gás para ameaçar seus vizinhos irá minar sua posição internacional.

A Rússia fornece um quarto do gás natural usado na Europa e cerca de 80% desse suprimento é transportado pelos gasodutos que passam pela Ucrânia. Outros gasodutos menores cruzam a Bielo-Rússia e a Turquia.

A gigante russa Gazprom, que detém o monopólio no país, interrompeu o envio de gás para o mercado ucraniano no dia 1º de janeiro depois que os dois países não chegaram a um acordo sobre as tarifas de trânsito para 2009, mas a empresa manteve o fornecimento para a Europa através do gasodutos que passam pela Ucrânia. Porém, nesta quarta-feira, Putin ordenou que a Gazprom interrompesse o fornecimento através da Ucrânia. "Isso deveria ser feito publicamente e na presença de observadores internacionais", disse Putin ao executivo-chefe da Gazprom, Alexei Miller.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, pressionou o Putin e sua colega Yulia Tymoshenko para que resolvam rapidamente o impasse. "Se a questão não for resolvida, fará surgir sérias dúvidas sobre a confiabilidade da Rússia como fornecedora de gás para a Europa e sobre a Ucrânia como país de trânsito", disse Barroso. Ele disse que os dois países concordaram, nesta quarta-feira em aceitar que a verificação do fluxo de gás seja feita por monitores internacionais.

Nesta quarta-feira, países como Bulgária, Croácia, República Checa, Grécia, Itália, Macedônia, Romênia, Sérvia, Eslováquia, Eslovênia, e Turquia informaram interrupções no fornecimento de gás natural. Outros, como Áustria, França, Alemanha, Hungria e Polônia reportaram quedas substanciais no suprimento.

Nos Balcãs, os católicos ortodoxos que celebram o Natal tiveram dificuldades para encontrar outras fontes de aquecimento para suas casas e as autoridades cortaram parte do fornecimento de gás para manter estoques. Escolas na Bulgária foram fechadas na medida em que as autoridades tentam encontrar novas fontes de aquecimento.

Romênia e Bulgária realizaram reuniões de segurança nacional para discutir o assunto. Hungria e Eslovênia, que recebem todo o gás que utilizam da Rússia, começaram a reduzir o envio do produto para grandes consumidores industriais.

A Noruega, outra grande fornecedora de gás para a Europa, informou que não pode fazer muito para contrabalançar o corte russo, pois está operando próxima a suas capacidades máximas de produção e de exportação por seus gasodutos.

Nesta quinta-feira, Ucrânia e Rússia participarão em Moscou das primeiras conversações desde o colapso das negociações em 31 de dezembro.

Atritos

Em 2008, a Rússia cobrou da Ucrânia cerca da metade do valor que cobra pelo gás consumido pelos europeus, uma prática que procura mudar há tempos. A Ucrânia, porém, diz que se pagar mais pelo gás natural, a Rússia pode pagar mais para transportar o gás através do país.

A Ucrânia, que tem cerca de 16 milhões de metros cúbicos de gás num vasto sistema de estocagem subterrânea, disse que pode suportar a situação de disputa até o início de abril.

Já a Gazprom está perdendo ganhos substanciais durante o pico do consumo de gás. Além disso, em breve enfrentará excesso de gás em seu sistema, o que criará um custoso problema de estocagem. As informações são da Dow Jones e da Associated Press.

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