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Após o início da reunião decisiva entre o presidente da Bolívia, Evo Morales, e oito dos nove governadores do país, o governo boliviano admitiu, nesta quinta-feira, que "esteve à beira do precipício" antes de conseguir dialogar com a oposição. O encontro entre as duas partes, realizado em um centro de convenções na periferia da cidade central de Cochabamba, começou com quase duas horas de atraso, às 08h50(9h50m de Brasília), enquanto grande parte do país voltava à normalidade após uma onda de protestos anti-governo que pode já ter deixado 30 mortos.

- Na Bolívia, às vezes, nós dizemos que estamos acostumados aos conflitos e a chegar à beira do precipício para começar a dialogar. Acredito que é isso que está acontecendo - disse o porta-voz da Presidência, Ivan Canelas. - Muitos dizem que a esperança é a última que morre. Nós acreditamos também que quando quase tudo está perdido, nasce a esperança, de maneira que creio que as solução virão no menor tempo possível.

O porta-voz afirmou que há muita boa-vontade da parte de governo e oposição na reunião, que chegou a ser posta em risco após a prisão do governador de Pando, Leopoldo Fernandéz. Ele é acusado de favorecer a morte de camponeses que apoiavam o governo. Agora, os dois lados tentam chegar a um acordo que ponha fim à convulsão provocada pelas manifestações da oposição contra reformas previstas na Constituição proposta por Morales - que aprofunda a nacionalização da economia, dá mais poder à maioria indígena e combate os latifúndios, especialmente nas terras baixas do leste da Bolívia.

- Esta é talvez a última oportunidade de resolver os problemas nacionais em paz - disse ao chegar à reunião o governador do Departamento sulista de Tarija, Mario Cossío, porta-voz dos departamentos opositores que reclamam autonomia e rejeitam a nova Constituição e pedem mais autonomia para a região mais rica do país.

Não foi divulgada a programação do encontro, embora o presidente Morales tenha dito previamente que pretendia que este transcorresse sem interrupções para produzir um acordo antes de 30 dias. Além dos governadores, participam da reunião em Cochabamba líderes do partido de Morales, Movimento Ao Socialismo (MAS), e dos opositores Poder Democrático y Social (Podemos), Unidade Nacional (UN) e Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR).

Como observadores, estão delegados da União de Nações Sul-americanas (Unasul), da Organização das Nações Unidas (ONU), e da Organização de Estados Americanos (OEA), e da União Européia (UE), além de diplomatas de Brasil, Chile, Argentina e membros das igrejas Católica, Evangélica e Metodista.

Lula diz que expulsão do embaixador americano pode ter sido correta

Os Departamentos de Santa Cruz, a capital econômica do país, Beni, Pando e Tarija lideraram nas últimas três semanas uma onda de protestos que incluiu violentas invasões de repartições públicas, bloqueios de estradas e sangrentos enfrentamentos com seguidores de Morales, chegando a prejudicar o fornecimento de gás natural para o Brasil.

Após a onda de violência, a oposição decidiu aceitar um convite do governo para o diálogo com um pré-acordo que inclui dar mais poder aos departamentos opositores e lhes devolver a eles parte da arrecadação de um imposto sobre os hidrocarbonetos. Em troca, a oposição deveria aceitar que Morales consulte a população sobre sua nova carta magna.

O presidente boliviano recebeu, na segunda-feira, um forte apoio dos líderes sul-americanos em uma cúpula da Unasul em Santiago, no Chile. No Brasil, o presidente Luiz Inácio da Silva prometeu dar apoio logístico à Bolívia, vendendo caminhões e realizando, possivelmente, operações conjuntas com a Polícia Federal do país. Lula também comentou a expulsão do embaixador americano na Bolívia, Philip Goldberg, afirmando que apóia a decisão caso o diplomata tenha interferido de fato na política interna do país, como acusa o governo boliviano.

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