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Concentração no centro de Valencia contra a reforma trabalhista do governo espanhol | Jose Jordan/AFP
Concentração no centro de Valencia contra a reforma trabalhista do governo espanhol| Foto: Jose Jordan/AFP

Violência

Incêndio, ameaça de saques e manifestantes presos marcam protesto

A greve geral nacional de ontem na Espanha começou pacífica, mas antes do meio-dia manifestantes entraram em choque com a polícia nos centros de Madri e Barcelona. Pelo menos 58 pessoas foram detidas e nove ficaram feridas, segundo Cristina Díaz, funcionária do Ministério do interior.

Em Madri, manifestantes invadiram e destruíram uma lanchonete do McDonald’s. Em Barcelona, multidões jogaram vários objetos contra policiais e provocaram pequenos incêndios nas avenidas.

A polícia espanhola reagiu. Policiais civis à paisana espancaram manifestantes com cassetetes em alguns pontos de Madri. Em outras ruas, policiais protegeram lojas ameaçadas de saques.

Em Barcelona os confrontos de rua também foram violentos. Uma multidão destruiu e incendiou uma loja de café da Starbucks.

Manifestantes bloquearam estradas na Catalunha e em Valência, no leste do país, e fecharam parques industriais em Zaragoza.

O que muda

Principais pontos da reforma trabalhista espanhola:

• Facilita as demissões coletivas por empresas que provem nove meses consecutivos de quedas nos lucros ou no faturamento, sem necessidade de acordo com funcionários.

• Administrações públicas também terão facilidade em demissões coletivas.

• Empresas podem mudar as condições de trabalho dos funcionários - por exemplo, jornada, horários, redução de salários, troca de cidade - de forma unilateral.

• A negociação dos convênios coletivos entre sindicatos e empresas ficará limitada a dois anos.

• Pequenas e médias empresas podem manter os funcionários abaixo dos 30 anos de idade em período probatório durante um ano (antes, eram três meses).

• Empresas que contratem jovens e mulheres acima de 45 anos terão benefícios na previdência social.

Fontes: FMI, Eurostat, governo espanhol

O governo da Espanha, liderado por Mariano Rajoy, descarta modificar em sua essência a reforma trabalhista que rendeu ontem a primeira greve geral sob seu mandato.

A paralisação de 24 horas, que foi convocada em conjunto pelos dois principais sindicatos espanhóis – as Comissões Operárias e a União Geral de Trabalhadores –, teve maior incidência na indústria e menor repercussão nos serviços, no comércio e no setor público.

Segundo o governo, o impacto "foi muito moderado", e a atividade econômica foi menos afetada nesta paralisação do que em anteriores, como a de setembro de 2010, convocada também contra uma reforma laboral, mas então aprovada pelo governo socialista de José Luis Rodrí­­guez Zapatero.

Segundo avaliação do governo, a greve atingiu 16,71% na Administração Geral do Estado, 19,42% nas administrações autônomas e 15,24% na local. Os sindicatos sustentam, no entanto, que o apoio foi em massa, calculado em torno de 77%, embora com distinta incidência segundo os setores.

A paralisação teve sua re­­ta final com manifestações nas principais cidades espa­­nholas, nas quais milha­­res de pessoas expressaram sua rejeição à nova legislação laboral, que rege as relações entre empresários e trabalhadores.

As manifestações transcorreram em geral sem incidentes, mas ao término da concentração de Barcelona houve duros confrontos entre alguns grupos e agentes antidistúrbios.

Pressão

O secretário-geral de Comissões Operárias, Ignacio Fernández Toxo, voltou a pedir ao governo de Rajoy para que reconsidere sua posição sobre a reforma laboral. "Ainda dá tempo para o governo reconduzir as coisas antes de provocar mais danos", afirmou.

Os sindicatos solicitaram ao Executivo que faça "um sinal" nessa direção antes de 1.º de maio, o dia dos trabalhadores.

Caso não o recebam, eles advertiram que vão prosseguir com as mobilizações contra a reforma laboral, que consideram que prejudica os trabalhadores por facilitar e baratear as demissões, danificar direitos adquiridos e não contribuir para reforçar a economia, além de ser ineficaz para a geração de empregos em um país que tem 5,2 milhões de desempregados (23% da população ativa).

A resposta do governo ao pe­­dido de modificação da foi dada pela ministra do Em­­prego, Fátima Báñez, que declarou que a reforma "em sua parte principal" não será alterada, e sustentou que "a agenda reformista é irreparável".

A greve coincidiu com a data simbólica dos primeiros cem dias do governo de Mariano Rajoy, que concentrou suas principais decisões em medidas para reduzir o déficit público com o objetivo de deixá-lo neste ano em 5,3% do PIB, como exige a União Europeia.

Chamado para greve divide espanhóis

Folhapress

A convocação de uma greve geral em um momento de crise econômica dividiu os espanhóis. Embora a reforma trabalhista tenha rejeição da maioria dos moradores do país, parte deles se declarava contra a paralisação e tentava coibir a greve.

"Não acho que seja o melhor momento para fazermos uma greve neste país. É o momento de trabalhar", disse o bancário Angel González, 46 anos, que não aderiu à greve.

No País Basco, trabalhadores de bares e grevistas se enfrentaram por discordar da necessidade da greve, e duas pessoas ficaram feridas.

"Entendo que o país precisa produzir. Mas também precisamos lutar por um futuro que já não temos. Além de aumentar o desemprego, essa reforma vai dificultar a nossa aposentadoria", disse o engenheiro desempregado Juan Jiménez, 26 anos.

Um estudo da Fundación Ideas, vinculada ao Partido Socialista Espanhol, estima que a reforma, ao facilitar as demissões e flexibilizar contratos de trabalho, vai fazer o número de desempregados aumentar para 6 milhões e o PIB cair em 2,2%, mais que a contração de 1,7% já prevista pelo governo para 2012.

Com exceção dos momentos de protesto no fim do dia, as ruas do centro de Madri estavam atipicamente silenciosas ontem. Parte do comércio, voltado ao turismo, não abriu as portas.

A quantidade de lixo nas ruas foi o principal indicador da greve, que teve adesão total dos serviços de limpeza e coleta. As calçadas ficaram cheias de caixas, papéis e sacos plásticos até o início da noite.

Hoje, todos os serviços têm previsão de voltar ao normal no país.

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