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Centenas de manifestantes insistiam em permanecer concentrados ontem na Praça Tahrir, na região central do Cairo | Asmaa Waguih/Reuters
Centenas de manifestantes insistiam em permanecer concentrados ontem na Praça Tahrir, na região central do Cairo| Foto: Asmaa Waguih/Reuters

Oposição

Irmandade pede anistia e quer pleito em até 90 dias

Embora considere positivos os primeiros passos da junta militar, a Irmandade Muçulmana espera que as eleições aconteçam em no máximo três meses. Considerado como o mais forte da oposição egípcia, o grupo quer anistia e estuda a opção de se unir em coalizão a outros partidos para disputar o pleito e ainda não decidiu se terá candidato próprio. "Queremos a eleição o quanto antes, em no máximo três meses’’, disse o porta-voz do grupo, Esam al-Arian. "As medidas tomadas até agora foram corretas, mas queremos mais informações de como será a transição.’’

A cautela em relação às Forças Armadas se explica pela repressão sofrida pelo grupo nos anos de Mubarak. Ilegal como partido político, mantém uma ampla rede social, que inclui projetos de educação e saúde. Agora, ninguém tem dúvidas de que a organização terá papel importante no cenário político egípcio. O temor muitas vezes citado no Ocidente, de que a Irmandade tentará tornar o Egito uma teocracia islâmica é ironizado por Al-Arian. "O Ocidente é hipócrita. Apoia eleições livres, mas quer escolher quem vence.’’ Questionado se o acordo de paz com Israel deve ser mantido, o porta-voz também sai pela tangente. "Israel deve respeitar os direitos do povo palestino, o que aliás é uma obrigação incluída no acordo de paz.’’

Folhapress

Tesouros são roubados do Museu Egípcio

Oito peças de grande valor, entre elas uma estátua de Tu­­tan­­câmon, foram roubadas do Mu­­seu Egípcio, no Cairo, anunciou ontem o diretor do serviço antiguidades egípcias, Zahi Hawas. Os ladrões aparentemente sa­­biam exatamente quais peças queriam, pois desceram para o piso inferior do museu e pegaram os objetos das caixas de vi­­dro, ignorando outros artefatos que estavam próximos.

Entre as peças desaparecidas estava uma estátua de madeira folheada a ouro do faraó Tutan­­câmon carregado por uma deusa, da 18.ª dinastia. Outras peças do período Amarna também foram levadas, como uma cabeça de uma princesa em arenito e uma estátua em pedra calcária de Aquenáton segurando uma mesa de oferendas.

Uma investigação foi aberta para procurar as pessoas que levaram esses objetos, e a polícia e o Exército pretendem dar sequência ao caso com os criminosos já detidos. Hawass havia dito anteriormente que os ladrões entraram pelo telhado do museu em 28 de janeiro, auge dos confrontos entre a polícia e manifestantes que eventualmente derrubaram o presidente Hosni Mubarak na sexta-feira. Ele disse, na época, que os ladrões ha­­viam estilhaçado os vidros do andar superior.

Os funcionários do governo constataram o roubo durante um inventário do museu. "Infelizmente descobriram que objetos do museu desapareceram", disse Hawas.

O Museu Egípcio do Cairo também é conhecido como Mu­­seu de Antiguidades Egípcias. O prédio foi construído em 1902 e reúne o maior acervo de obras do Egito antigo – cerca de 120 mil obras.

Das agências

  • Uma estátua de madeira folheada a ouro do faraó Tutancâmon, carregado por uma deusa, foi roubada
  • O premier Ahmed Shafiq disse que o governo ainda segue modelo da era Mubarak

O Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito atendeu ontem às três principais demandas dos manifestantes da oposição, ao anunciar a dissolução do Parla­­mento, a suspensão da Cons­­ti­­tuição e determinou que o período de transição política até a formação de um poder civil se prolongará por seis meses ou até que eleições presidencial e parlamentar.

O esforço veio em meio a um clima de tensão na praça Tahrir, onde centenas de manifestantes permaneciam acampados até que as Forças Armadas anunciassem um prazo concreto para cumprir suas exigências – essenciais no complexo caminho rumo à democracia.

Em mensagem divulgada pela televisão pública, o Conselho também anunciou que fica suspensa a aplicação da Constituição e confirmou que segue vigente o governo de Ahmed Shafiq até que seja nomeado um novo gabinete. O comunicado é assinado pelo chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas e ministro da Defesa, general Hussein Tantawi.

O período de transição até a formação de um poder civil, segundo o texto, se estenderá por seis meses "ou quando encerrarem as eleições parlamentares e presidenciais". A nota, no entanto, não estabelece quando será realizada essa votação. As últimas eleições parlamentares, manchadas com múltiplas denúncias de fraude, foram realizadas em novembro e dezembro passados, e as presidenciais estavam convocadas para setembro próximo.

Em seu comunicado, o quinto divulgado desde quinta-feira passada e o terceiro desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak, o Conselho também diz que as Forças Armadas "assumem a representação do Egito no interior e no exterior". Com as duas câmaras do Parlamento dissolvidas, "o Conselho Supremo das Forças Armadas emitirá leis durante o período de transição", destaca o comunicado.

Os governantes militares também anunciam a formação de um comitê para reformar alguns artigos da Constituição, mas não detalha quais, e fixará as normas para submeter essas emendas a uma consulta popular. Da mesma forma que no comunicado anterior, a nova mensagem dos militares reitera que o Egito se compromete a realizar tratados e acordos internacionais e respeitar os vigentes.

O comando militar explicou que tomou essas decisões de acordo com sua "responsabilidade histórica e constitucional para proteger o país e sua segurança". "O Con­­selho observa que o verdadeiro desafio que o Egito enfrenta é conseguir o desenvolvimento por meio de um ambiente de liberdade e de reformas constitucionais para cumprir as legítimas reivindicações", assinala a nota.

Sem mudanças

Pouco antes do anúncio, o primeiro-ministro Ahmed Shafiq concedeu sua primeira entrevista coletiva desde a queda do ditador. Ele afirmou que o governo egípcio continua, na prática, seguindo o mesmo modelo da era Mubarak. Aparentemente tentando assegurar ao povo que tudo está sob controle, o premier disse que os assuntos do governo continuam sendo apresentados ao Conselho Superior das Forças Armadas "como eram apresentados ao presidente da República". "Não há mudança na forma, método ou processo de trabalho. Os assuntos estão completamente estáveis", disse Shafiq. Shafiq disse ainda acreditar que Mubarak continua no Egito, na cidade balneária de Sharm el Sheikh, famosa entre turistas. Ele disse ainda que o gabinete não fez nenhum pedido para congelar o dinheiro de Mubarak no exterior. Ele afirmou ainda que os militares decidirão o papel de Omar Suleiman, vice-presidente que foi escolhido por Mubarak no mês passado. O próprio premier foi apontado ao cargo após a reformulação do governo, em 29 de janeiro.

Tensão

Mais cedo, na praça Tahrir, centenas de manifestantes insistiam em permanecer concentrados. "Nossa primeira reivindicação já foi cumprida, que é a retirada de Mubarak. Mas agora, para que saiamos da praça, queremos o compromisso das Forças Armadas de que responderão a nossos pedidos em um prazo de tempo determinado", disse o jovem manifestante Ahmed Shair. Shair, que segurava o cobertor que usou para se proteger do frio durante as noites que dormiu na Tahrir nas duas últimas semanas, explicou que as principais reivindicações dos jovens que ainda estão na praça incluem a libertação de seus companheiros detidos nos últimos dias. "Queremos também que as Forças Armadas se comprometam a não nos prender quando sairmos da praça, e por isso pedimos a anulação da Lei de Emergência", acrescentou Shair.

A Lei de Emergência concede amplos poderes à polícia, pois permite prisões sem acusações, supostamente para crimes de terrorismo e narcotráfico. No entanto, ela foi usada para a repressão política durante o regime de Mubarak.

Reaberta

A praça Tahrir, um dos principais pontos do Cairo e de importância vital para o trânsito da cidade, foi palco dos protestos maciços iniciados em 25 de janeiro e que terminaram na sexta-feira passada com a renúncia de Mubarak do poder. A praça foi reaberta ao trânsito a partir deste domingo, o que permite descongestionar uma das áreas mais importantes do centro da capital egípcia. Ainda assim, os manifestantes permanecem concentrados em um jardim central da praça, nas calçadas e em seus contornos. Um dos soldados destacados para organizar o trânsito, Ahmed Sobhi, disse que "é muito difícil anular a Lei de Emergência com a atual situação na praça". "Para nós, esta situação é caótica. Temos de primeiro organizar o trânsito e recuperar a tranquilidade para só então anular a Lei de Emergência", ressaltou.

Bens de Mubarak

O governo britânico pediu ontem que haja uma ação internacional conjunta em relação aos bens no exterior de Hosni Mu­­barak, ex-presidente do Egito, e de sua família. A Suíça já anunciou o congelamento de ativos que pertenceriam ao egípcio. O mesmo procedimento havia sido tomado em relação aos bens de Zine El Abi­­dine Ben Ali, ex-presidente da Tu­­nísia. A fortuna de Mubarak é esti­­mada em centenas de milhões de dólares. Acredita-se o valor esteja espalhado pelo mundo.

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