• Carregando...

Há 40 anos, o Comitê Central do Partido Comunista da China (PCC) anunciava o início da Grande Revolução Cultural Proletária, a campanha ideológica de uma década que pretendia recuperar os princípios do comunismo puro no país e, de quebra, proteger a cúpula do partido de líderes reformadores que divergiam de um Mao Tsé-tung em idade avançada, como o então chefe de Estado, Liu Shao Qi, ou o secretário-geral do PCC, Deng Xiaoping, o pai da modernização da China atual.

Mas esta terça-feira, data de aniversário da revolução que, dependendo da fonte, pode ter matado entre dois milhões e 20 milhões de pessoas, tudo o que se observa na China é o silêncio. Com medo de "reabrir velhas feridas", o governo de Pequim não marcou qualquer cerimônia oficial, proibiu a mídia estatal de fazer referência à data e aconselhou acadêmicos e pesquisadores a manterem a boca fechada. Toda a vez que a TV CNN fala sobre o assunto, a rede é retirada do ar.

Apenas o jornal de Hong Kong "South China Morning Post" publicou na segunda-feira uma página e meia sobre a revolução. A incapacidade do governo de Pequim de refletir sobre o momento, considerado pelas próprias autoridades comunistas e acadêmicos como "década de grandes calamidades", "grande erro político", "período de trevas", entre outros adjetivos sombrios, foi apontada pelo diário:

"A tentativa deliberada de empurrar este período da história para baixo do tapete deixou a nova geração de chineses ignorante das calamitosas ações que levaram a dezenas de milhões de mortos e atrasaram o desenvolvimento do país em décadas. Isso explica por que muita gente ainda reverencia Mao como um deus e sente saudades daquele tempo igualitário diante da desilusão provocada por níveis crescentes de corrupção e desigualdade de renda", afirmou Wang Xiangwei, editor de China do "Post" em sua coluna.

Na Universidade de Pequim - onde um cartaz posto pela então professora de filosofia Nie Yuanzi criticando a administração da universidade foi o estopim para a criação da chamada Guarda Vermelha, formada por estudantes e professores mais radicais - poucos sabem hoje o que ocorreu naquele período. E, segundo estudiosos estrangeiros, uma juventude frustrada com um sistema político e econômico comunista em frangalhos foi facilmente atiçada pelas palavras de Mao e seu grupo de apoio. Da Universidade de Pequim, as guardas vermelhas se espalharam pelo país.

Foram usadas técnicas de humilhação pública com espancamentos até a morte. As vítimas eram obrigadas a desfilar com chapéus de burro e cartazes em que se diziam traidoras da causa comunista. Muitos se mataram. Milhões foram deslocados para o campo. Centenas de mosteiros, templos e igrejas foram destruídos.

Até hoje, o PCC não admite ter sido culpado por este período de atrocidades, preferindo apontar Mao Tsé-tung e seus principais aliados como os criadores do "período turbulento politicamente". Ainda assim, o partido vem lentamente desmistificando a lendária figura de Mao, apesar de o retrato do antigo líder ainda estar pendurado à entrada da Cidade Proibida e seu corpo embalsamado no memorial erguido no coração da Praça da Paz Celestial.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]