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Ancara – O partido governista da Turquia, Justiça e Desenvolvimento (AKP), venceu as eleições de ontem, conquistando 47% das 550 cadeiras do Parlamento. O resultado deu ao partido de raízes islâmicas um novo mandato de cinco anos para prosseguir com suas reformas de livre mercado e retomar as negociações para a entrada na Turquia na União Européia, mas dando espaço para novas tensões com a elite secular do país.

O resultado também é um triunfo moral para o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que convocou eleições antecipadas após perder uma disputa sobre sua indicação para o próximo presidente A elite secular, que inclui generais do Exército, se opôs à nomeação do chanceler Abdullah Gul para a chefia de Estado, temendo que Erdogan e Gul – que negam ter uma agenda islâmica – prejudicassem a estrita separação da religião e do Estado. Apesar de a Turquia ser um país de maioria muçulmana – 80% das 74 milhões de pessoas – o Estado é laico.

A Comissão Eleitoral estima que 80% dos 42,5 milhões de eleitores compareceram às urnas – número similar às eleições de 2002. Alguns analistas disseram que o papel da religião na Turquia moderna – uma das poucas democracias no mundo islâmico que liga a Europa ao Oriente Médio – teve uma influência menor do que a esperada.

"A polêmica que esperávamos sobre o secularismo versus o Islã não se materializou", disse Sami Kohen, colunista do jornal liberal Milliyet. "A mensagem do eleitorado é a de que ele está feliz com o progresso econômico e a política para a União Européia", acrescentou.

Economistas disseram que os mercados financeiros devem reagir bem aos resultados. Desde que o AKP chegou ao poder, em 2002, o país tem vivido um forte crescimento econômico (uma média anual de 7%) e baixos índices de inflação. "Este é o melhor cenário para os mercados. A questão agora é como o establishment reagirá e isso é algo que preocupa os mercados", disse o analista econômico Simon Quijano-Evans, do CA-IB/Unicredit.

"Não acho que o Exército está feliz, mas eles (os militares) não vão levar os tanques para as ruas. Eles explorarão meios para se fazer sentir, tendo em mente que este é um governo com um forte mandato", disse Semih Idiz, outro colunista do jornal Millyet.

O Exército, que se considera mantenedor do Estado secular na Turquia, fez uma velada ameaça a Erdogan durante a disputa pela indicação de Gul para a presidência. Nos últimos 50 anos, o Exército depôs quatro governos, mais recentemente em 1997. Em maio, Gul acabou retirando sua candidatura.

Concorreram 14 partidos e 700 candidatos independentes. Apenas dois outros partidos secularistas obtiveram mais que os 10% necessários para entrar no Parlamento – o nacionalista Partido Republicano do Povo (CHP), com 20%, e o de extrema direita Partido do Movimento Nacional (MHP), com 15%. Vários independentes, a maioria candidatos curdos, também conquistaram cadeiras no Parlamento.

Após depositar seu voto, Erdogan pediu união nacional e criticou os partidos que, segundo ele, tentaram lucrar com uma campanha negativa. "Somos os mais fortes defensores de um Estado secular, democrático, governado pelo império da lei", disse o primeiro-ministro.

O novo Parlamento enfrentará vários desafios, incluindo a eleição presidencial, a violência dos rebeldes curdos e a crescente divisão sobre o papel do islamismo na sociedade.

O governo deve decidir se a Turquia, membro da Otan, lançará uma ofensiva no norte do Iraque contra rebeldes separatistas curdos. Eles mantêm suas bases no Curdistão iraquiano, mas, desde 1984, têm lançado ataques no território turco, deixando mais 30 mil mortos. Erdogan advertiu que pode ordenar a incursão do Exército turco se as conversações de segurança com o Iraque e os Estados Unidos fracassarem.

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