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“Palheiros”, uma pintura de Monet, que serviu de alvo para os manifestantes jogarem purê de batatas
“Palheiros”, uma pintura de Monet, que serviu de alvo para os manifestantes jogarem purê de batatas| Foto: Divulgação/LETZTE GENERATION

O “país do automóvel” e das usinas a carvão é também o país da bancada ecológica, que promete neutralidade de carbono até 2045. Entre esses dois extremos, o chanceler alemão, Olaf Scholz, que tem como vice o ambientalista Robert Habeck, e, portanto, os Verdes dentro de sua coalizão, está em maus lençóis. O Ministério Público de Brandemburgo, com sede em Neuruppin, investiga o grupo Letzte Generation (Última Geração), que é suspeito de “formar uma organização criminosa”.

Na semana passada, a Justiça alemã realizou uma busca de escala nacional na casa de cerca de 30 ativistas ambientais. A operação foi elogiada pelo Partido Conservador (CDU, na sigla em alemão), que pede um endurecimento da legislação contra o movimento ambientalista. Por outro lado, as investigações prejudicam as pautas e a credibilidade da bancada verde do governo.

O chefe da União  Socialista-Cristã (CSU) no Parlamento Regional, Alexander Dobrindt, traçou um paralelo entre os ativistas e a Fração do Exército Vermelho (RAF), grupo terrorista de extrema-esquerda que realizou atentados e assassinatos na década de 1970 na Alemanha Ocidental.

Em outubro, o Letzte Generation bloqueou uma estrada em Berlim. A ação atrasou, segundo a imprensa alemã, uma ambulância que deveria resgatar um ciclista que sofreu um grave acidente.

“É lamentável”, desabafou Olaf Scholz, na ocasião, apontando que “é importante que [os socorros] cheguem o mais rápido possível aos feridos” e que “existem maneiras mais apropriadas para se manifestar”.

O episódio segue uma onda desse tipo de manifestação no país e fora dele. Em Berlim, em outubro, dois ativistas se penduraram em um poste que sustentava o esqueleto de um dinossauro exposto no Museu de História Natural.

Em Postdam, perto de Berlim, foi “Palheiros”, uma pintura de Claude Monet, que serviu de alvo para os manifestantes jogarem purê de batatas. Outros ativistas lançaram sopa de tomate sobre “Os Girassóis”, de Van Gogh, em Londres. Em entrevista coletiva, Scholz disse estar “aflito por causa desses acontecimentos”.

O que pedem os militantes

Os jovens que fazem parte do grupo investigado pela instituição jurídica alemã costumam fazer críticas “à inação do governo” e exigem, especialmente, um limite de velocidade a 100 km/h nas rodovias.

Também fazem, desde abril, ações contra a refinaria Schwedt-sur-Oder, perto da fronteira polonesa, uma área industrial de propriedade do grupo russo Rosneft. Os ambientalistas conseguiram, em várias ocasiões, desligar a torneira do gasoduto que o alimenta com petróleo.

O chanceler alemão, que tinha conversado de perto com os ativistas durante a campanha eleitoral, desaprovou recentemente ações do grupo contra motoristas pelo controle de velocidade e menor consumo de combustível.

A cidade de Berlim, governada pelo Partido Social-Democrata (SPD), pelos Verdes e pela esquerda radical, passou a ficar especialmente tentada a endurecer a política em relação aos ativistas.

O ministro das Finanças, Christian Lindner, que preside o Partido Liberal Democrata (FDP), denunciou os “incendiários” com comportamento digno de uma “sociedade autoritária”. No início de dezembro, o secretário-geral do SPD, Kevin Kühnert, disse estar chocado com o “absolutismo” dos jovens ativistas.

Já o Partido Verde não aprova com unanimidade as manifestações do grupo, mas também não condena com tanto rigor. “Em uma democracia, alcançar um objetivo requer uma maioria. Mas essas formas de protesto, agressivas, estão longe disso”, reforçou o vice-chanceler alemão.

Mesmo assim, os Verdes têm dificuldade de engolir o conceito de “organização criminosa” baseado no artigo 129 do Código Penal.

A Ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke, por exemplo, disse que é “absolutamente legítimo se manifestar por suas convicções, inclusive praticando a desobediência civil”.

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