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Curitiba – O que pode ocorrer de pior para a América Latina é a manutenção dos conflitos armados, movidos por grupos revolucionários, muitos deles sustentados pelo crime organizado. Se a região não sofre com confrontos entre Estados, o mesmo não se pode dizer da situação interna de muitos países da região. Movimentos revolucionários de fundamentação marxista-leninista e sua associação com o narcotráfico, com o contrabando de armas, com a lavagem de dinheiro estão associados à violência e a um fluxo de migrantes difícil de controlar, comenta o general de Brigada da reserva e analista militar Alvaro Pinheiro. "A Colômbia é o epicentro de problemas dessa natureza, em função dos 41 anos de um sangrento conflito interno que, ainda hoje, está longe de ser resolvido".

Pinheiro destaca que a situação da Colômbia na geopolítica da América Latina trouxe reflexos como o decisivo envolvimento dos EUA no Plano Colômbia na "guerra contra as drogas" e ações de combate entre as forças de segurança colombianas e as três principais organizações terroristas que agem em seu território: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o Exército de Libertação Nacional (ELN) e as Auto-defesas Unidas da Colômbia (AUC). As ações dos três grupos interferem na soberania dos países vizinhos. Além disso, há ligações entre tais grupos e o crime organizado de diversos países da região, diz Pinheiro, para quem os grupos revolucionários são "profundamente comprometidos com poderosos cartéis criminosos no lucrativo e perverso negócio das drogas ilícitas".

A convergência das motivações criminosas e as político-ideológicas de poderosos grupos pode chegar a extremos que, em estados fracos, desestruturados, o narcoterrorismo assume o controle do próprio estado, analisa Pinheiro. "O Afeganistão, Serra Leoa, Somália, Libéria, e outros estados falidos, são típicos exemplos dessa situação. Esta é a maior ameaça que o narcoterrorismo representa na atualidade."

Pinheiro cita um outro grupo radical comprometido com o narcotráfico na América Latina. "O Sendero Luminoso, organização radical peruana que, na década de 90 se viu significativamente enfraquecida em função da prisão de seu líder maior, Abimael Guzman. Entretanto, seus integrantes desencadearam em 2001 e 2002 uma série de atos terroristas de intensidade superior a dos anos anteriores". Em 2003, as forças de segurança peruanas conseguiram uma redução de cerca de 15% em atos terroristas, comenta o general.

Não se fala mais puramente em terrorismo e sim em narcoterrorismo, que é a fonte de renda dos grupos, avalia o juiz federal da 3.ª Vara Federal de Mato Grosso do Sul, Odilon de Oliveira. Cerca de 40 a 45% da renda das Farc vêm do narcotráfico, e o restante de seqüestro, extorsão e investimentos financeiros, aponta Oliveira. "Estima-se que as Farc movimentem US$1 bilhão por ano para manter mais de 17 mil guerrilheiros na ativa". Outro dado impactante, diz Oliveira, é que 40% da cocaína da Colômbia é produzida em áreas desmilitarizadas das Farc.

Oliveira aponta os múltiplos efeitos nocivos causados pela ação das Farc. O mais grave é a morte de milhares de pessoas por ano provocada por uso de cocaína. "Estima-se que 25 mil mortos por ano por causas diretas ou indiretas do narcotráfico."

Outro efeito colateral causado pela ação da guerrilha é o treinamento de pessoas, inclusive brasileiros, para a prática de seqüestros com fins extorsivos, diz. "As Farc atuam no Paraguai para este tipo de treinamento e para escoar a produção de cocaína para Brasil, EUA e Europa."

Oliveira vê o risco de que as Farc desestabilizem o governo da Colômbia, uma hipótese praticamente descartada pelo sociólogo Ignacio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Cano diz que falta força militar ao grupo. O risco maior é o de separatismo, diz, destacando que "hoje na América Latina, os movimentos revolucionários não representam uma ameaça real ao Estado." O mesmo não se pode dizer da ameaça aos cidadãos.

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