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Mulher caminha diante de prédio destruído em Porto Príncipe, de onde haitianos saem para tentar a vida em cidades menores | Swoan Parker/Reuters
Mulher caminha diante de prédio destruído em Porto Príncipe, de onde haitianos saem para tentar a vida em cidades menores| Foto: Swoan Parker/Reuters

Desafios

Falta de recursos é problema

Os desafios dos haitianos são desconcertantes – a maioria ligada a dinheiro. Falta irrigação, e os portos e estradas mal construídos abalam a entrega da produção nos mercados domésticos e internacionais.

As iniciativas governamentais ficaram praticamente paradas durante meses em 2010, depois que uma crise política foi desencadeada por problemas eleitorais.

A ajuda externa passou a gotejar. Somente 43% dos US$ 4,59 bilhões prometidos foram recebidos e desembolsados, segundo a ONU.

A Comissão Interina para a Recuperação do Haiti, organismo criado para coordenar e priorizar a ajuda, foi encerrada em outubro, quando seu mandato terminou, com poucos sinais de que será renovada.

O painel, liderado pelo ex-presidente Bill Clinton, foi criado para dar garantias aos doadores internacionais – desconfiados em direcionar ajuda a um governo haitiano historicamente corrupto – de que seu dinheiro seria bem empregado. Seu fim levanta dúvidas se as promessas remanescentes serão cumpridas.

O plano agrícola quinquenal criado após o terremoto recebeu apenas metade de um orçamento de quase US$ 800 milhões. Autoridades locais dizem que o governo precisa receber entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões para executá-lo.

Durante meses depois do terremoto que atingiu a capital, Manel Laurore tirou corpos despedaçados das casas dos vizinhos, abrigou-se em fétidos campos de refugiados e caçou comida e água.

Hoje em dia, sua principal preocupação é saber quando suas lavouras de feijão, milho e banana-da-terra vão brotar.

"Nunca voltarei a Porto Prín­­ci­­pe", disse Laurore, 32 anos, ex-lo­­jista que, quando foi entrevistado, estava peneirando o solo para plantar uma horta de tomate. "Fi­­cou uma grande dor por dentro. Aqui o trabalho é duro, mas você vive em paz total."

Seu trabalho, numa fazenda cooperativa de seis hectares em Papaye, representa um pequeno e promissor sucesso de um programa ambicioso promovido por agen­­tes de ajuda humanitária, autoridades do governo e doadores internacionais, cujo propósito é salvar o país desenvolvendo o interior.

Quando o terremoto destruiu Porto Príncipe em 12 de janeiro de 2010, planejadores e visionários daqui e do exterior viram, além dos escombros, uma oportunidade para consertar os problemas estruturais que mantêm o Haiti pobre e instável.

Uma ideia que logo ganhou apoio foi a de encolher a capital superlotada, com pouco emprego e assolada pela violência, e reviver o interior sem vida e abandonado que não conseguia mais alimentar o país.

"A descentralização é um pilar fundamental que sustenta mi­­nha visão de um novo Haiti", disse o presidente, Michel Martelly, a potenciais investidores em no­­vembro. "Queremos fortalecer e capacitar nossas comunidades rurais e criar outras."

Porém, a visão chocou-se com a realidade haitiana, com uma miríade de deficiências econômicas e de infraestrutura, a falta de oportunidades convincentes nas áreas rurais e o desaparecimento gradual do interesse internacional e dos financiamentos.

Reviver o Haiti rural afastaria o país de uma dependência excessiva de alimentos importados ao mesmo tempo em que criaria empregos no interior, ajudando a desencorajar a migração em massa para sumidouros urbanos, co­­mo Porto Príncipe. Antes do terremoto, quase um quarto da população vivia na capital, onde dois terços da mão de obra não tinham emprego formal; a superpopulação foi considerada um dos fatores principais para o índice de mor­­tes na tragédia, estimado em 300 mil.

Dezenas de milhares de pessoas fugiram de Porto Príncipe para as áreas rurais imediatamente após o terremoto, mas a maioria já voltou, segundo autoridades haitianas e norte-americanas, achando poucas oportunidades e escassez de alimentos.

"Precisamos inverter a tendên­­cia das pessoas de zonas rurais mu­­darem para a cidade", disse Ari Toubo Ibrahim, representante do Haiti na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

A FAO acredita que, com treinamento e suporte adequados, cerca de um décimo das 600 mil pessoas ainda em acampamentos do terremoto poderiam mudar para o interior.

Novas fábricas também fazem parte do plano. Um parque industrial administrado pela Coreia do Sul no norte do país, em parte financiado pelos Estados Unidos, deve ser aberto em 2012, criando pelo menos 20 mil empregos. Con­­tudo, os especialistas afirmam que a agricultura é a principal necessidade da nação.

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