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 | Iwan Baan para The New York Times
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Mais imagens do design criativo de clínicas no Haiti:nytimes.com. Busque por Gheskio

  • Uma clínica inovadora em Porto Príncipe deixa a brisa entrar e foi construída com materiais e mão-de-obra locais

As imagens de disfunção médica eram devastadoras: hospitais decrépitos na África tentando conter o ebola, e, na maioria dos casos, não conseguindo.

Enquanto o número de mortos aumentava, os problemas pareciam renitentes: falta de dinheiro, de infraestrutura, de esperança. Mas, do outro lado do Atlântico, o Haiti —país que não poderia ser mais falido— agora tem duas novas clínicas arejadas, de dimensões e custos modestos, criadas para combater doenças que podem ser tão mortais quanto o ebola mas são mais comuns: o cólera e a tuberculose.

As clínicas erguidas no Haiti são simples e belas. Ao invés de construir escudos herméticos, os arquitetos fizeram bom uso do ambiente caribenho , aproveitando os ventos que varrem a ilha para curar pacientes e ajudar os profissionais de saúde.

Ainda não está claro se as clínicas vão funcionar bem. Elas serão inauguradas em breve. Se derem certo, poderão servir de modelos enxutos para outros países em dificuldades e que não possuem recursos para fazer hospitais ao estilo ocidental.

As clínicas podem até ajudar a afastar um pouco os hospitais dos países desenvolvidos do modelo, adotado na metade do século 20, de prédios fechados que dependem de sistemas mecânicos imperfeitos de alto custo e alto consumo energético.

As duas clínicas são criações do MASS Design Group, uma empresa jovem de Boston que foi elogiada por um hospital que projetou em Ruanda. Como aquele projeto, as clínicas haitianas usam materiais, mão-de-obra e artesanato locais.

Uma delas substituirá um centro de tratamento da tuberculose administrado pela Gheskio, organização haitiana de pesquisas e serviços de saúde, que desabou no terremoto de 2010.

A nova estrutura tem dois andares e a forma de um pentágono, com um lado mais longo que os outros. Há quartos para 35 pacientes, dispostos em torno de um pátio ajardinado com uma fonte e primaveras crescendo sobre suportes de bambu.

É uma estrutura simples, porém elegante, cujo teto de aço em treliça (lembrando uma grande cesta de vime) lhe confere um caráter singular e ajuda o ar quente a sair do prédio.

Como o contágio da tuberculose aumenta em espaços fechados, as janelas foram colocadas em paredes diretamente opostas umas às outras, para promover a ventilação.

A outra construção, para pacientes com cólera, é um pavilhão num terreno separado da Gheskio, de frente para uma das maiores favelas da cidade.

O telhado em ziguezague lembra os restaurantes americanos de beira de estrada dos anos 1950. O ambiente é surpreendentemente acolhedor e alegre.

Grades metálicas azuis criadas por artesãos locais cobrem a parte externa e fazem referência aos "tap-taps" —os táxis coletivos que os haitianos usam para se deslocar pela cidade, pintados em cores alegres e decorados com extravagância.

O cólera chegou ao Haiti por meio das tropas de paz nepalesas, após o terremoto, e se multiplicou graças à água contaminada. Empresas contratadas para dar cabo das águas residuais em segurança em vez disso o fizeram de modo ilegal.

Na nova clínica, o MASS construiu um sistema dedicado de tratamento de esgotos embaixo do pavilhão, a salvo de inundações, dizem os arquitetos.

Muitos hospitais em países em desenvolvimento queimam o lixo em seus próprios terrenos. Na clínica nova, essa abordagem é levada um passo mais adiante.

Para alguns médicos, ter uma clínica permanente dedicada a combater o cólera parece errada. Especialistas me disseram que surtos de doenças como cólera ou ebola tendem a ser combatidos com mais eficácia por "campos" portáteis erguidos nas áreas afetadas, para esmagar o problema na raiz. A solução real do cólera seria a construção de uma rede de saneamento nas favelas. Como disse um médico, para resolver o problema de um cruzamento onde sempre acontecem colisões com mortes não se constrói um centro de traumatologia, mas se muda o traçado das ruas.

Mas um médico da Gheskio destacou que a clínica poderá ser usada para outras finalidades quando a doença deixar de ser um problema.

A clínica de tuberculose custou US$ 2 milhões (R$ 5,2 milhões), enquanto a do cólera teve custo de US$ 700 mil (R$ 1,82 milhão). "Arquitetura e saúde são inseparáveis", explicou o médico haitiano Jean William Pape, professor na Universidade Cornell e um dos primeiros a identificar o HIV no mundo.

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