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      Milhares de pessoas que ficaram feridas ou desabrigadas por causa do terremoto de terça-feira no Haiti imploravam por comida, água e assistência médica nesta sexta-feira, enquanto o mundo se apressa em enviar ajuda antes que o desespero se transforme em revolta.

      A Organização Pan-Americana da Saúde estima que entre 50 mil e 100 mil pessoas tenham morrido. A Cruz Vermelha Haitiana vinha divulgando uma estimativa de 45 mil a 50 mil.

      Os moradores da devastada Porto Príncipe passaram a terceira noite ao relento, temendo os tremores secundários que ainda são sentidos nos bairros montanhosos. Calçadas e ruas permanecem cobertas por entulho e cadáveres em decomposição.

      Apesar da ajuda mundial chegar em grande volume ao país mais pobre das Américas, ela não atinge os necessitados, devido a obstáculos logísticos.

      "Perdemos tudo. Estamos esperando a morte. Não temos nada para comer, nenhum lugar onde viver. Não tivemos ajuda nenhuma. Ninguém veio nos ver", disse Andres Rosario, instalado em um acampamento improvisado num aterro sanitário de Porto Príncipe.

      "Ninguém está nos ajudando. Por favor, tragam água ou as pessoas vão morrer logo", ecoou Renelde Lamarque, que abriu o quintal da sua casa para cerca de 500 vítimas no devastado bairro do Fort National.

      Sobreviventes esfarrapados estendem os braços para jornalistas estrangeiros nas ruas, implorando por água e comida.

      Em meio a temores de que a demora no envio da ajuda gere violência, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, disse que, exceto por alguns casos de pessoas vasculhando escombros em busca de comida e pequenos saques, a situação no Haiti continua "relativamente boa" em termos de segurança.

      "A chave é colocar a comida e a água lá o mais rápido possível para que as pessoas não recorram em seu desespero à violência ou levem a uma deterioração da situação de segurança", disse Gates a jornalistas em Washington.

      Barricadas com cadáveres

      A polícia praticamente sumiu das ruas, mas alguns soldados brasileiros da ONU fazem patrulhas. Num supermercado destruído, uma multidão se aglomera sobre os escombros para tentar encontrar algum alimento. Ao lado da favela de Cité Soleil, uma multidão se formou em volta de um cano estourado, onde é possível beber água e encher baldes.

      Alguns sobreviventes, irritados com a demora na ajuda, montaram barricadas com cadáveres na quinta-feira em uma parte da cidade.

      Equipes humanitárias dizem que alguma ajuda começa a chegar, de forma lenta e aleatória, e "não para muita gente", segundo Margaret Aguirre, diretora da entidade International Medical Corps.

      Os EUA disseram que a chegada ao Haiti na sexta-feira do seu porta-aviões USS Carl Vinson, com 19 helicópteros, abrirá um segundo canal significativo para a entrega de mantimentos.

      "Até agora temos entregado a assistência por meio de uma mangueira de jardim, mas agora vamos ampliar isso", disse P.J. Crowley, porta-voz do Departamento de Estado, referindo-se metaforicamente às limitações do aeroporto local. O porto marítimo está inutilizável.

      No aeroporto, agora sob controle de militares dos EUA, aviões grandes e pequenos pousam a cada 20 minutos. Nas ruas, porém, a maioria dos haitianos diz que não recebeu ajuda alguma.

      "Não como deste anteontem", disse Bertilie Francis, de 43 anos, que estava com seus três filhos. "Estamos aqui pela graça de Deus, de ninguém mais".

      Sanitaristas dizem que, embora os cadáveres sejam abundantes e cheirem mal, há poucos riscos à saúde pública, já que as mortes ocorreram por traumatismos, e não por doenças contagiosas, como o cólera.

      As rádios locais estão aconselhando a população a colocar seus mortos nas ruas para que eles sejam recolhidos por caminhões e levados para uma vala comum.

      A missão de paz da ONU no Haiti, que perdeu pelo menos 36 soldados (sendo 14 brasileiros), teve sua sede demolida, mas tenta oferecer alguma coordenação básica a partir de um escritório próximo ao aeroporto.

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