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Manifestantes marcham atrás de uma bandeira anti G-20 em um ato convocado por várias ONGs em Hamburgo, Alemanha | JOHN MACDOUGALLAFP
Manifestantes marcham atrás de uma bandeira anti G-20 em um ato convocado por várias ONGs em Hamburgo, Alemanha| Foto: JOHN MACDOUGALLAFP

Durante mil anos, esta cidade portuária foi a ligação entre o norte da Europa e o resto do mundo.

E nesta semana a cidade será o centro das atenções de todo o mundo, quando os líderes mundiais se reunirem lá para a cúpula econômica do G-20, que começa nesta sexta-feira (07). Porém, a cidade também passará por um teste, pois cerca de 100 mil manifestantes são esperados para protestar contra o capitalismo, pelo meio ambiente, e as diferenças étnicas do mundo.

Os protestos ocorrem em uma tradição da militância da esquerda de Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha e local de nascimento de Angela Merkel. A chanceler está hospedando vários líderes estrangeiros - incluindo figuras que controversas como o presidente americano Donald Trump , o russo Vladimir Putin e o turco Recep Tayyip Erdogan - em um centro de conferências no centro da cidade e também na sala de concertos de Elbphilharmonie, um marco histórico da cidade. 

Porém, o momento que a cidade passa não é bom e ainda é sobrecarregado por uma taxa de desemprego superior à média nacional.

Protestos

As conversas diplomáticas acontecerão a poucos quilômetros da sede da esquerda alemã, o teatro Rote Flora, local onde os ativistas se reúnem há quase três décadas. Os líderes desse movimento planejaram um protesto anticapitalista chamado "Welcome to Hell" (Bem-Vindo ao Inferno), que estava programado para começar a noite de quinta-feira (06) à medida que as delegações estrangeiras fossem chegando.

Com medo de violência, a polícia diz que a manifestação pode atrair até 8 mil pessoas vindos de outras cidades da Alemanha e até de outros países. Entre os seus participantes, há também “black blocs”. As autoridades disseram que estão em alerta após a descoberta de materiais que seriam utilizados para preparar coquetéis molotov, juntamente com facas, estilingues e bastões de baseball.

Andreas Blechschmidt, porta-voz do Rote Flora, que fez o anúncio da manifestação, disse que sua esperança é de um protesto pacífico. Mas ele prometeu autodefesa. "Se a polícia nos atacar, reagiremos com violência para realizar nosso protesto", disse Blechschmidt.

Enquanto isso, as autoridades estão prometendo a maior operação policial da história da cidade. 20 mil oficiais acompanharão cerca de 30 manifestações programadas. 45 caminhões pipa estarão disponíveis para dispersar multidões. Alguns deles, inclusive, já foram usados na terça-feira (05) para limpar as ruas onde passarão os manifestantes.

As ruas da cidade perto do porto central serão fechadas para bloquear um protesto previsto para esta sexta-feira (07). Nem mesmo aviões poderão circular no ar naquela área.

"Nenhum manifestante pode decidir onde, e como, os chefes de estado se encontrarão com a chanceler", disse Thomas de Maiziere, ministro do Interior alemão.

Pautas do G-20 e críticas a Merkel

Na pauta da reunião estão questões sobre segurança, liberdade de expressão e a criação de uma assembleia democrática - assunto relevante para uma cúpula que, embora discuta tradicionalmente economia, também possa pensar diferentes abordagens aos direitos humanos e ao estado de direito. Merkel, que está presidindo o G-20, disse que irá priorizar o clima, o comércio livre entre os países e a obrigação de todos os países ajudarem os refugiados.

Os críticos de Merkel dizem que sua forma de governar é parte do problema.

"Esta semana é sobre a política de austeridade de Angela Merkel que se transforma em uma discussão global por causa do G-20", disse Jan van Aken, um membro do Parlamento alemão que representa o partido de extrema esquerda Die Linke.

Ele também criticou o governo alemão por ter tentado erradicar o protesto, dizendo que sua abordagem era ditatorial e "deixaria Erdogan, Putin e Trump se sentirem em casa aqui".

O governo é sensível a esse ponto.

"A principal questão é que a cúpula seja sediada novamente, após Brisbane, em uma democracia", disse Wolfgang Schmidt, um político de Hamburgo envolvido nos preparativos da cúpula. Encontros na Turquia e na China seguiram-se após a cúpula sediada em 2014 na Austrália. "Precisamos nos certificar de que as reivindicações dos protesto serão ouvidas, mas também precisamos manter a segurança. Fazer isso tendo 42 chefes de estado, ministros estrangeiros e de finanças altamente protegidos, é um desafio".

As tensões começaram a aumentar durante o fim de semana passado e o começo desta semana. Quando a polícia usava a força para remover ativistas que tentassem passar a noite em locais públicos. Os tribunais diziam que, apesar de ser uma área permitida para protestos, as autoridades podem proibir montagens de acampamentos durante a noite.

As questões que motivam os protestos variam entre as mudanças climáticas, o desarmamento, os direitos trabalhistas, e os direitos das lésbicas. Mas nem tudo será tão sério. Shows com artistas estão marcados durante os protestos, e até uma rave foi planejada para acontecer na noite de quarta-feira (12).

Repercussões no mundo

Porém, o encontro dos líderes faz de Hamburgo um caldeirão de conflitos globais.

A presença de Erdogan coloca os turcos contra os curdos (grupo étnico do Oriente Médio), dentro de um país com a maior comunidade turca fora da Turquia. O governo alemão impediu que Erdogan se dirija aos seus apoiadores durante a cúpula.

Yavuz Fersoglu, porta-voz de uma organização de proteção à curdos na Alemanha, disse que eles estão se juntando aos grupos anti-globalização para uma grande marcha no sábado (08), prevista para atrair 100 mil pessoas, segundo seus organizadores

Trump é um caso à parte. O planejamento de protestos alemães começou antes mesmo de sua vitória em novembro, porém após sua eleição ficou claro que “a ação teria que ser muito maior”, afirmou Emily Laquer, porta-voz da Interventionistischen Linken, um grupo radical de esquerda situado Alemanha e na Áustria.

Comércio fechará as portas

As empresas e o comércio local estavam se preparando para vários dias imprevisíveis.

Richard Canning, o gerente de um bar, próximo ao Elbphilharmonie que resistiu a grande parte dos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial, planeja fechar na sexta e sábado preocupado com a segurança de seus funcionários.

Ele disse que lamentava perder vendas, mas estava feliz por ver a Alemanha assumir o difícil papel de estar a frente de negociações internacionais.

"Eu acho que a Alemanha é vista como uma das principais potências da Europa, e com razão, porque desde a Segunda Guerra Mundial está construindo pontes, então estou feliz por isso se expandir ao mundo", disse Canning.

Traduzido por: Guilherme Dias
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