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Libanês é visto servindo café: na sua barraca, uma imagem de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, a maior força militar existente no Líbano e considerado grupo terrorista por EUA e Israel | AFP
Libanês é visto servindo café: na sua barraca, uma imagem de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, a maior força militar existente no Líbano e considerado grupo terrorista por EUA e Israel| Foto: AFP

Beirute - O Hezbollah, que já é a mais potente força militar do Líbano, está tentando expandir seu poder político, nomeando um aliado como primeiro-ministro depois de ter derrubado o governo.

Se o grupo militante xiita obtiver sucesso, o Hezbollah e seus patrocinadores – o Irã e a Síria – terão muito mais influência neste volátil canto do Oriente Médio – algo que Washington tem trabalhado para evitar.

"Eles terão provado que po­­dem dominar o Líbano sem usar suas armas", disse Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio, em Beirute, à As­­sociated Press.

Mas o sucesso não é garantido. Depois que o Hezbollah e seus aliados deixaram o governo na quarta-feira, provocando sua queda, longas negociações vão ocorrer entre os blocos apoiados pelo Ocidente e a aliança liderada pelo Hezbollah, conhecida como 8 de Março. E se as conversações falharem, o Líbano pode ver o ressurgimento dos protestos de rua que atormentaram o país no passado.

Ainda assim, o fato de o grupo militante ter a possibilidade de comandar o governo libanês é um golpe para os Estados Unidos. Washington vem tentando, nos últimos cinco anos, levar o Líbano para a esfera ocidental e colocar um ponto final na influência do Hezbollah, da Síria e do Irã.

Mas ao contrário disso, o Hezbollah conseguiu, com seu poder militar e político, mostrar que o bloco pró-Ocidente não consegue governar o país sem ele – e pode ir mais além e mostrar que não precisa dos oponentes. O movimento xiita possui um arsenal que é muito maior do que o do Exército nacional, conta com o auxílio de milhões de dólares em recursos iranianos e com o apoio da maioria dos xiitas libaneses.

Colapso

O colapso do governo mergulhou o país num clima de incerteza política após um ano de relativa estabilidade sob o primeiro-ministro Saad Hariri, aliados dos Estados Unidos e das potências ocidentais, num complicado governo de união com o Hez­­bollah e seus aliados.

A crise foi o clímax das crescentes tensões sobre a investigação do tribunal da Organização das Na­­ções Unidas (ONU) sobre o assassinato, em 2005, do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, pai de Saad.

O tribunal poderá indiciar, em breve, integrantes do Hezbollah e teme-se que isso possa reiniciar a violência no pequeno país, assolado durante décadas pela guerra civil e disputas políticas.

O Líbano sofreu com uma devastadora guerra civil entre 1975 e 1990, com a invasão de Israel em 1982 feita com o objetivo de eliminar os combatentes palestinos, e com a guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah, além da sangrenta luta sectária entre sunitas e xiitas em 2008.

Amanhã, o presidente Michel Suleiman vai iniciar negociações formais para a criação de um novo governo e os legisladores vão votar para definir se aprovam o novo primeiro-ministro. De acordo com a Constituição libanesa, o presidente deve ser um cristão maronita, o primeiro-ministro um sunita e o presidente do Parlamento um xiita. Cada uma dessas religiões representa cerca de um terço da população do Líbano, que é de quatro milhões de habitantes.

Hariri, agora primeiro-ministro interino, pediu apoio a seus aliados. Ele estava em Washington em reunião com o presidente Barack Obama quando o Hezbollah derrubou o governo. Depois seguiu para a França e para a Turquia.

Tentativa inútil

Os aliados do Hezbollah dizem que é inútil Hariri permanecer no cargo. O deputado Moham­­med Raad, do Hezbollah, disse que o próximo primeiro-ministro deve ser um forte partidário do grupo. "Devemos concordar na forma de administrar o país com um governo forte liderado por alguém com uma história de resistência nacional", disse Raad.

Políticos da coalizão pró-Ocidente, por sua vez, dizem que não há alternativa a Hariri, um bilionário de 40 anos que ainda é a escolha mais popular entre os muçulmanos sunitas.

Samir Geagea, líder do grupo cristão de direita, Forças Liba­­nesas, que é aliado a Hariri, disse que os partidários do premier interino o indicariam novamente para o cargo. "Seria um grave erro sequer pensar a respeito de uma alternativa a Saad Hariri", disse ele na quarta-feira. Geagea, contudo, é cristão maronita.

Encontrar um candidato sunita pode se mostrar o maior obstáculo para o Hezbollah. Alguns analistas acreditam que o fato de haver um concorrente a Hariri poderia ser considerado pelos sunitas como uma traição.

Os aliados do Hezbollah afirmam que um sunita leal ao movimento pode ser encontrado e pode aglutinar apoio suficiente no Parlamento, particularmente se for algum político sunita que tenha feito parte dos governos pró-Síria anteriores a 2005.

Para formar seu próprio governo, o Hezbollah também vai precisar do apoio de Walid Jumblatt, o influente líder druso que rompeu com Hariri em 2009. Jumblatt é um político astuto, conhecido por trocar de lado, e que ainda não indicou sua posição neste caso.

No momento, nenhum dos lados parece querer voltar atrás na questão da investigação do assassinato de Rafik Hariri, a causa do colapso do governo.

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