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A polícia de St. Louis demorou para descobrir que os negros, na verdade, é que eram as vítimas | Pixabay
A polícia de St. Louis demorou para descobrir que os negros, na verdade, é que eram as vítimas| Foto: Pixabay

As notícias chegaram um dia e meio depois da tentativa de roubo e do tiroteio no último verão. Dois homens, um de 24 e um de 22 anos, atacaram outro homem nas primeiras horas do dia 26 de agosto em St. Louis, uma cidade do estado americano de Missouri, segundo a polícia relatou para o jornal local St. Louis Post-Dispatch. Um dos então suspeitos, cujo nome não foi revelado na reportagem, foi visto escondendo uma arma em um vaso de flores; o outro tinha feridas de bala, segundo o jornal. 

A polícia relatou que o homem tido como vítima havia sacado uma arma e atirado em um dos assaltantes, apesar de não saber onde sua arma estava depois do acidente, ainda de acordo com o jornal. 

O título da matéria era: "Homem saca arma e atira depois de ter sido atacado no centro de St. Louis". 

Mas, na última semana, quase seis meses depois do crime, a polícia acusou o homem que inicialmente era visto como vítima de ter sido autor do crime. Patrick John Owens, de 29 anos, é acusado dos crimes de tentativa de roubo, ação criminosa armada e lesão corporal, além de delitos como falsa testemunha, de acordo com os documentos do julgamento do caso. 

Foi dito ainda que os outros dois homens, Christopher e Jerry Tate, agora com 25 e 23 anos de idade, são as vítimas de uma tentativa de roubo e de um tiroteio. Os irmãos, que são negros, disseram para o Post-Dispatch essa semana que eles acreditam que a cor deles teve um papel importante no tempo que a polícia demorou para concluir que eles não eram os assaltantes, mas as vítimas. 

Owens é branco. 

Susan Ryan, uma porta-voz da procuradora de St. Louis Kimberly Gardner, disse para o The Washington Post que a polícia recomendou inicialmente que a acusação do crime fosse feita aos Tates. O escritório de Gardner recusou, dizendo que não haviam evidências suficientes para isso. Ryan também disse que não sabia se Owens já tinha sido preso. 

O departamento de polícia de St. Louis não respondeu perguntas sobre a demora para acusar Owens. 

O acidente ocorreu por volta das 3h da manhã. Owens inicialmente disse para a polícia que tinha disparado sua arma para os assaltantes antes deles fugirem e que ele perdeu a arma no ocorrido, segundo o Post-Dispatch. 

Mas, de acordo com os documentos que mostram os relatos dos irmãos e evidência encontrada em vídeos de segurança, os Tates foram abordados por Owens, que pediu para dar uma volta na pickup deles e então tirou a arma e disse "me dê sua carteira!". 

Os dois homens não atenderam a demanda, o que levou a uma briga. Owens então atirou e atingiu Christopher Tate na mão e no rosto, de acordo com o Post-Dispatch. 

"Eu estava em cima dele quando ele me atingiu", disse Christopher Tate para o jornal. "Quando ele disparou a arma, a bala atingiu o osso da minha mão e depois foi para a minha mandíbula. Se eu não tivesse colocado minha mão na frente, o tiro provavelmente teria destruído meu rosto inteiro". 

Os irmãos conseguiram pegar a arma e sair correndo, de acordo com os documentos apresentados no julgamento. Jerry Tate disse para o Post-Dispatch que alguns policiais em bicicletas que eles encontraram no caminho "não acreditaram neles". 

Os Tates não responderam imediatamente o pedido de comentários do caso. 

Jerry Tate foi levado para a delegacia, mas foi liberado na manhã seguinte sem ser acusado. Christopher foi levado para um hospital para tratamento. Owens também tinha sido detido depois do incidente, mas liberado em pouco tempo, segundo documentos. 

Provas

Cinco dias depois do incidente, a polícia teve acesso aos vídeos de segurança da área, o que provava a história dos irmãos Tate. Ryan disse que o escritório da procuradora recebeu o vídeo da polícia somente essa semana. 

Contactado por telefone na quinta-feira, Owens disse para um repórter que ele não queria comentar as acusações contra ele. "Não no momento, especialmente para o The Washington Post", ele disse. Sua fiança foi fixada em US$ 250 mil, equivalente a R$ 820 mil, de acordo com o registro do julgamento. 

Os irmãos Tate contaram para o Post-Dispatch essa semana sobre o efeito que a suspeita teve na vida deles. Christopher disse que seu chefe descobriu sobre o tiroteio depois de ter visto as notícias. 

"Ele me perguntou 'por que o jornal diria que você roubou alguém e que foi assim que você foi atingido?", Christopher contou. "Ele disse ainda que se não fosse verdade, o jornal não teria publicado". 

O Post-Dispatch fez uma atualização na matéria, com uma nota na parte superior que diz que a acusação foi feita contra a "suposta vítima do ataque", acrescentando um link para uma nova reportagem sobre o caso. 

Jerry Tate disse que, conforme a história foi se esclarecendo, ele foi surpreendido quando um promotor público ligou para ele para perguntar se ele queria continuar com o caso. 

"Por que não iríamos querer processar ele?", Tate se pergunta. 

Robert Trim, um detetive do Departamento de Polícia de St. Louis, escreveu uma declaração para o tribunal dizendo que era possível confirmar a história dos irmãos com as imagens de segurança. 

"Agora está claro que as vítimas estavam falando a verdade e que o criminoso estava mentindo para os policiais sobre o que tinha acontecido", escreveu Trim.

Tradução de Gisele Eberspächer.
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