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Lima – O nacionalista Ollanta Humala, esquerdista que defende uma "revolução" para os pobres, teria vencido o primeiro turno da eleição presidencial no Peru no domingo, segundo pesquisas de boca-de-urna que mostraram ainda uma forte disputa pelo segundo lugar.

Segundo a respeitada consultoria Apoyo, Humala teria obtido 29,6% dos votos. Já as consultorias Datum e CPI dão a ele 29,2 e 30,1%, respectivamente. As pesquisas mostraram uma disputa acirrada pelo segundo lugar, entre o ex-presidente social-democrata Alan García e a ex-congressista conservadora Lourdes Flores, a candidata favorita dos investidores estrangeiros. Apoyo e Datum deram vantagem ao ex-mandatário, com 24,4 e 24,5% dos votos, contra 24,1 e 24,2% de Flores. Porém, pela pesquisa da consutoria CPI, a conservadora teria 25,8%, ante 24% de García. Se nenhum candidato obtiver a metade mais um dos votos, os dois mais votados devem disputar um segundo turno, em maio. "Vai ser uma batalha apertada para o segundo turno, mas está claro que Humala está no desempate", afirmou Alfredo Torres, diretor da Apoyo, ao canal America Television.

Transformação

Se eleito, Humala, apoiado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, será o mais recente de uma série de esquerdistas latino-americanos que chegaram ao poder desafiando as políticas dos EUA. "Hoje, com nosso voto, temos a chance de iniciar uma grande transformação do nosso país", disse Humala a jornalistas. Humala dividiu os peruanos. Os ricos e líderes empresariais temem que ele represente um retorno da autocracia, enquanto que os pobres se animam com suas promessas de redistribuir a riqueza do país.

Milhares de peruanos fizeram uma manifestação contra Humala quando ele votava num bairro de classe média de Lima. Eles gritavam: "Assassino, assassino!" e "Ollanta é Chávez!" Muitos jogaram lixo no candidato nacionalista antes de ele ser escoltado para fora por policiais equipados com escudos. Ele foi acusado de desrespeito aos direitos humanos e de mortes na década de 80 e início dos 90, quando era comandante do Exército e o Peru combatia a insurgência do Sendero Luminoso. Ele se diz inocente.

Considerado um homem de fora da política num país em que os políticos de modo geral são desacreditados, Humala realizou uma campanha que se alimentou do descontentamento generalizado da maioria pobre do Peru. Os pobres afirmam que não foram beneficiados com os anos de forte crescimento econômico. Humala promete aumentar o controle estatal sobre a economia e aumentar impostos sobre as mineradoras que tiverem lucros "excessivos". Ele também prometeu industrializar a produção de coca, matéria-prima da cocaína, e bloquear um acordo de livre comércio com os Estados Unidos – o que preocupa Washington. O Peru é o segundo produtor de cocaína do mundo, ficando atrás apenas da Colômbia.

Ditadura

Os elogios feitos por Humala à ditadura peruana da década de 70, os ataques contra as grandes empresas, os discursos inflamados contra "a ditadura" dos ricos e do governo corrupto tiveram ressonância nas áreas pobres tanto quanto deixou preocupadas as elites descendentes de europeus e muitos trabalhadores. "Humala representa uma mudança – água corrente, trabalho e o fim da corrupção pelos nossos políticos sujos", disse Roberto Diaz, de 34 anos, depois de votar numa favela de Lima.

Humala nunca ocupou um cargo eletivo. Ele se destacou depois de liderar um golpe fracassado contra o então presidente Alberto Fujimori, em 2000, meses antes de alegações de corrupção e violentos protestos de rua derrubarem o governo de Fujimori. "Humala é um pulo no desconhecido. É a volta ao governo militar", disse Ricardo Ladron de Guevarra, estudante de 28 anos que disse ter votado em Flores. "Lourdes não é a melhor candidata, mas tenho medo de Humala e Garcia."

García, 56 anos, presidiu o país entre 1985 e 1990, período de desordem econômica e crescimento da violência do Sendero Luminoso. Ele promete rever os contratos com as concessionárias privadas de serviços públicos e impor uma taxa sobre os lucros das mineradoras. Flores, 46 anos, é uma advogada que estava à frente das pesquisas há apenas alguns meses. Ela destacou o seu papel potencial como primeira mulher presidente do Peru, país em que as mulheres são consideradas mais honestas. Mas isso não criou empatia junto aos pobres.

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