Longe de serem estéreis pedaços de gelo flutuante, os icebergs do Oceano Austral, perto da Antártica, são centros de atividade que podem ajudar o planeta contra o aquecimento global, afirmou um grupo de oceanógrafos nesta quinta-feira.
Examinando duas gigantescas ilhas de gelo no mar de Weddell, pesquisadores decobriram que os icebergs atraem bandos de aves marinhas, além de colônias de algas, krill e peixes.
É possível que esses pequenos ecossistemas marinhos ajudem a diminuir a quantidade de dióxido de carbono presente na atmosfera, seqüestrando o gás para as profundezas do oceano graças às algas, que absorvem carbono através da fotossíntese, passando-o adiante dentro da cadeia alimentar.
"Ao mesmo tempo em que o derretimento das calotas polares na Antártica contribuem para elevar o nível do mar e desencadear outras tantas mudanças climáticas, a função de remover carbono da atmosfera pode ter implicações para o clima que ainda precisam ser estudadas", explicou Ken Smith, oceanógrafo do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI) na Califórnia.
É cedo para definir como esse fenômeno afetaria o Oceano Austral, considerado um dos 'pulmões' do mundo, é um depósito natural do dióxido de carbono produzido pelo homem, avaliou Smith.
Com base em suas descobertas e imagens de satélite, os cientistas acreditam que os icebergs podem incrementar a produção biológica do mar de Weddell em cerca de 40%.
O número de icebergs do Oceano Austral aumentou na última década, enquanto o aquecimento global reduziu sensivelmente o tamanho das calotas polares. No entanto, é a primeira vez que cientistas realizaram estudo tão detalhado sobre o que resta delas.
Segundo o estudo, publicado no jornal Science, Smith e sua equipe examinaram dois icebergs no mar de Wenddell no início de 2005, utilizando um equipamento submarino com câmeras, operado a distância.
As ilhas geladas mediam 20 quilômetros de comprimento e mais de 40 metros de altura, uma delas chegando a se estender por cerca de 300 metros dentro d'água.
Os pesquisadores encontraram grandes concentrações de vida marinha, como fitoplâncton e krill, além de aves como fulmares e petréis, que circulam num raio de até 3,5 quilômetros em torno dos icebergs.
A equipe de cientistas atribui esse 'efeito auréola' ao fato de que, com o derretimento dos icebergs, o material orgânico terrestre acumulado no gelo se espalha, 'fertilizando' as águas ao redor.
O gelo derretido aparenta ser rico em ferro, que estimula a proliferação de fitoplâncton, base mais elementar da cadeia alimentar.
"O Oceano Austral sofre com a falta de material orgânico terrestre, pois não é abastecido por grandes rios. Os icebergs são um estuário em movimento, distribuindo os nutrientes contidos nesse material, cujo suprimento é normalmente feito pela água doce dos rios em outras áreas dos oceanos", explicou Timothy Shaw, especialista em Geoquímica na Universidade da Carolina do Sul.
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