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Imagens politizadas abordam a revolução bolivariana de Hugo Chávez e atacam os Estados Unidos: grafites agradam ao governo da V enezuela | Jorge Silva
Imagens politizadas abordam a revolução bolivariana de Hugo Chávez e atacam os Estados Unidos: grafites agradam ao governo da V enezuela| Foto: Jorge Silva

De todos os murais e grafites que adornam o anárquico e sujo centro da capital venezuelana, uma criação do artista de rua Carlos Zerpa o enche de um orgulho especial: uma reinterpretação em estêncil da pintura "Davi com a cabeça de Golias", de Caravaggio, na qual um guerreiro segura a cabeça decapitada da Secretária de Estado americana, Hillary Rodham Clinton.

Zerpa, 26 anos, deu de ombros quanto à possibilidade de que americanos que visitem Caracas – ou até mesmo Clinton – achem o mural ofensivo. "É uma metáfora para um império que foi derrubado. Meus críticos ou amam ou odeiam, mas eu continuo leal a minhas ideias", disse.

O governo apoia as criações de Zerpa e o trabalho de muitos outros artistas de rua, e está cada vez mais fazendo deles um elemento central de sua promoção de uma ideologia de estado. Brigadas financiadas pelo governo de aristas de rua e muralistas estão cobrindo os muros da cidade com imagens politizadas, desde slogans crus em grafite a obras ousadas e coloridas de arte gráfica.

As imagens mais evidentemente politizadas tendem a trazer glamour à revolução bolivariana do presidente Hugo Chávez, e sua demonização de Washington é um dos temas preferidos.

Uma pintura de estêncil perto da Plaza Bolívar, no centro antigo, retrata um presidente Barack Obama sorridente usando roupa de Papai Noel e distribuindo mísseis etiquetados com as palavras Afeganistão e Iraque.

Algumas das imagens foram pintadas perto de outdoors anunciando produtos americanos, como o ketchup Heinz ou Pepsi (os Estados Unidos continuam sendo o principal parceiro comercial da Venezuela). Os próprios outdoors ficam sobre ruas com trânsito confuso que à noite ficam completamente escuras, devido à falta de energia. Quando a noite cai, números altíssimos de assassinatos e sequestros tornam muitos distritos "terra de ninguém". Nem mesmo obras de arte valorizadas pelo público estão a salvo – pichadores realizam ataques visuais contra esculturas de artistas renomados, como Gego e Jesus Soto.

"Há muita liberdade aqui para fazermos o que quisermos", disse Yaneth Rivas, 27 anos, membro da mesma brigada de arte de rua de Zerpa, chamada de Exército de Liberação da Comunicação. Seu trabalho, principalmente pôsteres colados em paradas de ônibus, é mais sutil que o de Zerpa. Por exemplo, ela explora a polarização da sociedade venezuelana em uma imagem mostrando dois policiais de diferentes distritos de Caracas, um apontando a arma para o outro.Seus grupos, junto com outras brigadas de arte de rua, foram criados no último ano pelo Ministério das Comunas. Alguns permanecem parte do ministério, como Guerrilla Communications, que oferece oficinas de grafite e estêncil por toda a cidade.

"Esses grupos compartilham o objetivo de reivindicar o espaço público e transformá-lo em um tipo de periódico de rua que pode ser constantemente renovado e pintado para transmitir sua mensagem", disse Sujatha Fernandes, socióloga do Queens College, em Nova Iorque, que escreveu um livro sobre movimentos sociais urbanos na Venezuela.

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