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O presidente americano Donald Trump declarou que foi completamente liberado após a conclusão de que sua campanha não agiu em conluio com a Rússia em 2016. Foto: Eric Baradat / AFP| Foto:

E agora vem o acerto de contas para a grande imprensa e os comentaristas.

Depois de mais de dois anos de intensa cobertura e especulações intermináveis ​​sobre um possível conluio entre a campanha presidencial de Donald Trump e agentes russos em 2016, o procurador especial Robert Mueller causou uma grande reviravolta no domingo. O procurador-geral William Barr retransmitiu as principais conclusões de Mueller em um resumo de quatro páginas da investigação de 22 meses: as evidências eram insuficientes para concluir que Trump ou seus associados conspiraram com os russos para interferir nas eleições.

O anúncio de Barr caiu como um raio para os principais veículos de notícias e para o quadro de comentaristas, em sua maioria liberais, que passaram meses enfatizando a narrativa de um possível conluio em colunas de opinião e discussões em painéis na TV a cabo.

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"Ninguém quer ouvir isso, mas a notícia de que o procurador especial Robert Mueller vai para casa sem emitir novas acusações é um golpe mortal para a reputação da mídia americana", escreveu Matt Taibbi, da Rolling Stone, em uma coluna publicada no sábado, um dia antes de Barr colocar o último prego no caixão do conluio. Ele acrescentou: "Nenhuma acusação da imprensa contra Trump a partir de agora vai ter credibilidade para uma grande parcela da população".

Taibbi escreveu que as reportagens e artigos de opinião que afirmavam que houve conluio entre Trump e a Rússia pertencem à lata de lixo de outras histórias descartadas, como a de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, antes da invasão dos EUA em 2003.

O jornalista e comentarista Glenn Greenwald - um cético de longa data sobre o conluio - twittou seu desprezo pela cobertura da mídia no domingo: "Verifique cada personalidade da [rede de televisão americana] MSNBC, 'especialista' em lei da CNN, veículos progressistas centristas e golpistas da #Resistance e veja se você encontra pelo menos um pingo de auto-reflexão, humildade ou admissão de um erro imenso".

Ele acrescentou: "Enquanto os canais progressistas diziam, com obediência, o que quer que CIA e FBI dissesse para eles, muitos repórteres da mídia de direita - que são rotineiramente ridicularizados por progressistas super-inteligentes como sendo primitivos e propagandistas - fizeram incansavelmente grandes pesquisas e reportagens".

Greenwald reservou críticas especiais para a apresentadora da MSNBC Rachel Maddow, dizendo que ela "ficou no ar por dois anos consecutivos e alimentou milhões de pessoas com lixo conspiratório e se beneficiou grandemente".

Um representante da MSNBC se recusou a comentar no domingo; Os representantes da CNN não responderam.

'Escândalo profundo'

Entre as teorias promovidas pelos comentaristas estava uma do escritor Jonathan Chait, que especulou em uma matéria de capa de revista Nova York em julho se "as fendas escuras do escândalo da Rússia não são apenas um pouco mais profundas, mas muito mais profundas". Ele sugeriu que "seria perigoso não considerar a possibilidade de que a (então próxima) cúpula (entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin) seja menos uma negociação entre dois chefes de Estado do que uma reunião entre um ativo da inteligência russa e sua manipulador".

Em uma declaração no domingo à noite, Chait defendeu o seu artigo. "Essa matéria contou com relatos em fontes públicas confiáveis", disse ele. "Nenhum desses relatórios foi refutado… Se o relatório completo de Mueller mostrar que os relatos da mídia sobre os laços de Trump com a Rússia estavam errados, eu absolutamente irei retificar, corrigir ou retirar comentários que escrevi nesse sentido".

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Outros veículos de notícias defenderam suas reportagens, observando que grande parte delas é incontestável e levou a admissões de culpa por figuras associadas à campanha de Trump.

"Estou confortável com a nossa cobertura", disse Dean Baquet, o principal editor do jornal americano New York Times. "Nunca é nosso trabalho determinar a ilegalidade, mas expor as ações das pessoas no poder. E isso foi o que nós e outros fizemos e continuaremos a fazer".

Ele ressaltou que a carta de Barr que resume as descobertas de Mueller aponta que as ações que justificaram a investigação sobre obstrução de justiça foram "temas de reportagens" - um fato "que é crédito da mídia".

Na verdade, revelações do New York Times e do Washington Post sobre os contatos entre agentes russos e assessores da campanha de Trump em 2016 ajudaram a investigação do procurador especial em maio de 2017. Os dois jornais compartilharam um Prêmio Pulitzer pela cobertura do assunto naquele ano.

Como Baquet observou no domingo: "Sobre a interferência da Rússia, nós e outros escrevemos extensivamente sobre a tentativa da Rússia de influenciar a eleição, tanto por meio de hackers quanto por abordagens diretas dos russos a pessoas em torno do candidato Trump. Essas histórias eram verdadeiras. E nada aconteceu que obrigue a questionar a cobertura sobre o histórico financeiro de Donald Trump, ou o uso de sua fundação de caridade, ou qualquer outra reportagem investigativa dos últimos três anos".

Russiagate

O "Russiagate" tem sido uma obsessão da mídia desde a vitória de Trump em novembro de 2016. O apartidário Tyndall Report, entidade que monitora o noticiário de televisão nos EUA, calculou o total de tempo dedicado à história nos noticiários noturnos da ABC, CBS e NBC no ano passado: 332 minutos, o que faz dessa a segunda história com maior cobertura no período, depois das audiências de confirmação no Senado do ministro do Supremo Tribunal Brett Kavanaugh. De acordo com um cálculo do Comitê Nacional Republicano divulgado neste domingo, Washington Post, New York Times, CNN.com e MSNBC.com escreveram um total de 8.507 artigos que mencionam a investigação do procurador especial.

As redes de notícias a cabo, particularmente a CNN e a MSNBC, transmitiram centenas de horas de discussão sobre o tópico também.

A história, sem dúvida, foi um fator importante na formação das percepções dos eleitores antes das eleições de 2018, nas quais os democratas conquistaram o controle da Câmara.

Mas a conclusão da investigação de Mueller colocou o foco em uma questão que antes era debatida apenas vagamente: a mídia tradicional foi enganosa?

"Jornalistas progressistas esperavam que Mueller criasse um caso de conluio escandaloso entre a campanha de Trump e o governo russo", disse Tim Graham, diretor de análise de mídia do conservador Centro de Pesquisa de Mídia. Observando as extensas descobertas de Mueller, ele disse: "Então agora é aparente que os canais de notícias apenas personificaram os seus desejos. Eles tinham em mente um grande desenlace, e isso não aconteceu. Eles zombaram de Trump quando ele dizia que 'não existe conluio', e essa acabou sendo a verdade. Os eleitores devem se sentir enganados".

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