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Primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, está concorrendo ao parlamento do Iraque nas eleições deste sábado  | Alex KrausBloomberg
Primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, está concorrendo ao parlamento do Iraque nas eleições deste sábado | Foto: Alex KrausBloomberg

Hadi al-Amiri, chefe de um dos grupos paramilitares mais poderosos do Iraque, está cruzando o país antes das eleições nacionais que ocorrem neste sábado (12). Em uma campanha após a outra, ele tem liderado uma chapa de candidatos similares: soldados que estão concorrendo para ser a próxima classe de estadistas iraquianos. 

Na campanha, ele constantemente resiste à visão amplamente difundida em Bagdá e Washington de que ele é o homem do Irã no Iraque — a melhor esperança de Teerã para cimentar sua influência em um país onde investiu pesadamente na expulsão do Estado Islâmico. 

Mas, na verdade, por mais de três décadas, Amiri lutou e, mais recentemente, comandou uma milícia armada e treinada pelo Irã, que tem sido crucial para ampliar a influência iraniana no Iraque. 

Nestas eleições, Amiri e sua coalizão, chamada Fatah ou Conquest, podem ser o principal desafio do primeiro-ministro Haider al-Abadi, que evitou a tradicional retórica do sectarismo e da supremacia xiita em prol de um nacionalismo iraquiano mais inclusivo. 

Embora Abadi tenha tentado, como primeiro-ministro, balancear os interesses dos EUA e do Irã, ele é o candidato favorito das autoridades americanas. Na verdade, a eleição está sendo amplamente vista por muitos políticos e analistas iraquianos como uma disputa que opõe o candidato pró-Estados Unidos e o candidato pró-Irã.

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Na batalha para expulsar o Estado Islâmico do território iraquiano no ano passado, Abadi dependia fortemente do poder aéreo e das forças terrestres americanas, enquanto Amiri comandava forças armadas e treinadas pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã. A Organização Badr, da qual Amiri faz parte, foi fundada no Teerã na década de 1980 para lutar contra o então presidente iraquiano Saddam Hussein. 

EUA X Irã 

O desempenho dos candidatos nestas eleições terá um amplo impacto sobre como o país lida com seus principais aliados, o Irã e os Estados Unidos, à medida que as tensões aumentam entre as duas potências. 

O anúncio de Trump nesta semana de que ele está retirando os Estados Unidos do acordo nuclear iraniano tem levantado preocupações de que a rivalidade entre Washington e Teerã vai acabar no Iraque, destruindo os quatro anos de cooperação na luta contra o Estado Islâmico. 

Os dois países mantiveram um perfil incomumente baixo na eleição do Iraque, abstendo-se de declarações públicas em apoio a qualquer candidato. Analistas dizem que a decisão dos EUA de se retirar do acordo nuclear pode levar o Irã a se tornar mais assertivo. 

"O Irã vai lutar ferozmente para controlar tudo no Iraque, mercados, economia, petróleo", disse Ghalib al-Shahbandar, analista político e ex-político iraquiano. "Se o pior acontecer, eles já têm alas militares que estão concorrendo nas eleições". 

Amiri e outros membros de sua coalizão de eleição não negam que tenham fortes laços com o Irã, mas rejeitam a ideia de que são agentes de Teerã. Eles trocaram seus uniformes militares por ternos de negócio e adotaram a retórica centrista de Abadi de um Iraque forte e unificado que não toma partido em conflitos regionais. 

Durante uma recente entrevista em sua bem cuidada e fortemente vigiada casa na fortificada Zona Verde de Bagdá, Amiri estava claramente exausto por causa da campanha e mal conseguia manter os olhos abertos. Mas eles se arregalaram com a menção do Irã, e ele se inclinou para a frente em sua cadeira.

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"O Irã está falido", disse ele com um sorriso, sugerindo que o país não tinha dinheiro suficiente para respaldar sua campanha. Ele negou que o Irã esteja financiando sua coalizão eleitoral. 

A coalizão de Amiri concorre com uma plataforma de combate à corrupção, de diversificação da economia, hoje dependente do petróleo, e incentivos ao setor privado do país. Os candidatos de sua chapa se opõem uniformemente à presença das forças dos EUA no Iraque e afirmam que Abadi tem relações muito próximas a Washington. 

Mas acima de tudo, eles elogiam as vitórias no campo de batalha contra o Estado Islâmico e insistem que o grupo paramilitar que sustenta sua influência continua sendo uma parte semi-autônoma das forças de segurança do Iraque. Esse grupo, um guarda-chuva para dezenas de milícias, reúne cerca de 150 mil combatentes.

As forças de Amiri fazem parte desse grupo, que é chamado de Unidades de Mobilização Popular (PMU, na sigla em inglês). As milícias que o compõem foram substituídas pelo governo para combater o Estado Islâmico, que invadiu quase um terço do Iraque em 2014. Muitas delas são apoiadas pelo Irã e lutaram ferozmente contra as tropas americanas após a invasão do Iraque pelos EUA em 2003. 

As milícias agora têm status legal no Iraque e estão ostensivamente sob o comando do primeiro-ministro. Um representante das milícias ocupa uma cadeira no Conselho de Segurança Nacional do Iraque e não presta contas perante o Ministério da Defesa ou o Ministério do Interior. 

Militar versus civil 

Ao contrário da política declarada de Abadi de não interferir em conflitos regionais, algumas das milícias enviaram combatentes para a Síria, as quais estão em combate ao lado das forças iranianas e sírias em apoio ao presidente Bashar Assad. 

Autoridades norte-americanas pressionaram Abadi a diminuir os grupos paramilitares da PMU e a subordiná-los à polícia e ao exército iraquianos. Mas o primeiro-ministro tem relutado em desafiar os líderes da milícia, que são populares por causa de seu papel em derrotar o Estado Islâmico.

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Amiri é talvez o mais influente desses líderes. Nas últimas semanas, seu rosto tem sido onipresente em cartazes eleitorais nas ruas do Iraque. Ele se posicionou como a alternativa a Abadi - um comandante decisivo e endurecido pela batalha que erradicará o terrorismo enquanto eleva o prestígio internacional do Iraque. 

Como resultado, a eleição é em parte também um teste do apetite dos iraquianos por um governo com um caráter decididamente militar em relação a um governo civil. 

Amiri diz que a construção de um Estado forte derrotaria o que ele chama de "triângulo da morte", que tem atormentado o Iraque: terrorismo, sectarismo e corrupção. 

"Queremos liderar o governo, não pelo poder, mas para servir o povo do Iraque", disse ele durante a entrevista. "Se esse governo não conseguir prestar serviços, o povo se revoltará. Eles estão cansados. Acreditamos que podemos evitar essa situação". 

Sua coalizão fez pouco esforço para desvincular suas identidades políticas e militares, e isso rendeu uma bronca do clérigo xiita mais influente do Iraque, o Grande Aiatolá Ali Sistani. Falando através de um representante em um sermão, Sistani criticou os candidatos que exploram suas realizações de segurança para marcar pontos políticos e declarou sem rodeios que se opõe ao dinheiro e apoio estrangeiros aos candidatos iraquianos. 

Embora ele não tenha nomeado a coalizão Fatah de Amiri, a repreensão foi vista em grande parte como direcionada a ele. 

Probabilidades 

Ahmed al-Assadi, membro do parlamento que está concorrendo na chapa de Amiri, prevê que o grupo conquistará cadeiras suficientes para fazer uma forte posição no complexo e demorado processo de formação de um governo. 

"Amiri é um candidato muito forte, não há dúvida", disse um alto funcionário dos EUA. "Mas acho que ele é pouco mais do que um candidato unidimensional". 

O oficial americano disse que a popularidade de Amiri pode, na verdade, representar um enfraquecimento da influência do Irã no Iraque. Com o voto xiita que provavelmente se dividirá este ano entre Abadi, Amiri e o ex-primeiro-ministro Nouri al-Maliki, é menos provável que um governo xiita pró-iraniano unificado surja agora do que em qualquer outro momento desde as eleições de 2005. 

"O objetivo do Irã desde o primeiro conjunto de eleições é ter uma maioria xiita unificada para governar o país", disse o funcionário, que falou sob condição de anonimato para discutir a política iraquiana interna. "Mas eles estão ficando cada vez mais longe de atingir esse objetivo". 

Os números associados às milícias não são novos para a política. A Organização Badr, braço armado do Conselho Supremo Islâmico do Iraque e comandada por Amiri, possui 22 assentos no atual parlamento do Iraque, e os atuais e antigos ministros do interior são membros do grupo. Outras milícias pró-iranianas ocupam duas cadeiras na legislatura do Iraque. 

Sajad Jiyad, diretor do al-Bayan Center, um centro de estudos em Bagdá, disse que a candidatura de Amiri tem o objetivo de expandir sua presença no parlamento, mas é improvável que seja forte o suficiente para formar o próximo governo. 

"Realisticamente, seu objetivo é apenas garantir que eles tenham voz no governo", disse Jiyad. "Com isso, o Irã terá representação para seus interesses no estado iraquiano". 

Amiri disse que sua coalizão Fatah é um "movimento puramente iraquiano" e que isso foi provado "com nosso sangue". 

"Nós nunca saímos. Nós não fugimos como alguns outros", disse ele, referindo-se às forças do governo treinadas pelos EUA que entraram em colapso em face da bombardeio do Estado Islâmico em 2014. "Nós ficamos nos campos de batalha".

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