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O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que não voltará atrás em seu plano nuclear e considerou inegociável o direito do povo iraniano de possuir tecnologia atômica, segundo informa nesta quinta-feira a agência de notícias Irna.

- Nossa situação mudou completamente. Agora somos um país nuclear e falaremos com os demais estados como um país nuclear - disse Ahmadinejad.

A declaração do presidente do Irã acontece quando o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o egípcio Mohamed ElBaradei, visita o país para tentar convencer o governo iraniano a suspender o enriquecimento de urânio.

Ahmadinejad reafirmou que o programa de seu país tem fins pacíficos e que não viola os princípios da lei internacional e insistiu que ninguém tem o direito de voltar atrás no caminho que escolheu.

- A produção de combustível nuclear não contradiz os princípios da AIEA e a tecnologia nuclear para fins pacíficos não é nenhuma ameaça para qualquer país. Não aceitamos a injustiça para qualquer outro país e não permitiremos que seja praticada contra nós - advertiu.

O presidente iraniano anunciou na terça-feira que Teerã havia completado o ciclo de produção de combustível nuclear, o primeiro passo no processo de enriquecimento de urânio. Um dia depois, era a vez do vice-presidente do Organismo da Energia Atômica no Irã, Mohamad Saidi, anunciar que o país começaria a enriquecer urânio em grande escala, apesar das crescentes pressões da comunidade internacional.

- Nossa resposta aos que estão zangados com o fato de o Irã dominar o ciclo nuclear completo resume-se a uma frase: 'Fiquem furiosos e morram em virtude dessa fúria - teria dito o presidente iraniano. - Não vamos realizar negociações com ninguém a respeito do direito da nação iraniana (de enriquecer urânio) e ninguém tem o direito de recuar, mesmo que um milímetro."

O anúncio de que o Irã tinha enriquecido urânio até um nível suficiente para usá-lo como combustível em usinas de força e de que pretendia produzir o material agora em larga escala, foi recebida com críticas por potências mundiais, entre as quais a Rússia e a China.

O governo chinês prometeu enviar um representante da área de controle de armas, o ministro-assistente das Relações Exteriores Cui Tiankai, para o Irã e para a Rússia a partir da sexta-feira para tentar acabar com o impasse.

- Esperamos que as partes envolvidas consigam dar provas de moderação e que não tomem medidas capazes de agravar a situação - disse um porta-voz da chancelaria chinesa.

Os EUA afirmaram desejar uma solução diplomática para a disputa, mas não descartaram a opção militar e chegaram a pedir que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que pode impor sanções, tomasse "medidas enérgicas". O governo americano e a liderança de outros países ocidentais acusam o Irã de usar seu programa civil de energia nuclear como um disfarce para tentar desenvolver armas. O Irã nega essas acusações.

O ministro francês das Relações Exteriores, Philippe Douste-Blazy, rechaçou as conversas sobre eventuais ações militares, classificando-as como algo "totalmente fora da pauta."

O Conselho de Segurança mandou o Irã suspender todas as atividades nucleares consideradas delicadas e pediu que a AIEA entregue, no final de abril, um relatório sobre a postura adotada pelo país. A exigência levou ElBaradei a viajar até o território iraniano.

- Vou discutir a necessidade de o Irã entrar na linha, segundo pede a comunidade internacional, a necessidade de o Irã adotar medidas capazes de alimentar a confiança nele, entre as quais a suspensão do enriquecimento de urânio até o esclarecimento de outras questões - afirmou o chefe da AIEA, ElBaradei, ao desembarcar em Teerã, na manhã de quinta-feira, pouco depois dos comentários feitos por Ahmadinejad. - Gostaria de ver o país atendendo o pedido da comunidade internacional.

Mas diplomatas da AIEA mostraram-se cautelosos a respeito da possibilidade de que surja qualquer acordo durante a visita.

- Trata-se de um excesso de otimismo achar que o Irã suspenderá todo o processo nuclear neste momento - afirmou um diplomata alocado na agência, cuja sede fica em Viena. - Claramente, eles realizaram um avanço significativo nos níveis de pesquisa e desenvolvimento e desejam apresentar isso como algo irrevogável, tentando assim aumentar seu poder de barganha com o Ocidente.

Três potências européias - a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha - negociavam com o Irã a respeito da suspensão das atividades nucleares. Essas negociações, porém, foram suspensas em janeiro depois de o país islâmico ter dito que retomaria o enriquecimento de urânio.

Diplomatas presentes no Conselho de Segurança afirmaram que os cinco membros permanentes do órgão e a Alemanha se reuniriam em Moscou, na próxima semana, para discutir a questão. Mas ressaltaram que o órgão não deve adotar nenhuma medida antes de receber o relatório de ElBaradei.

O nível de enriquecimento necessário para fabricar bombas nucleares é muito maior que os 3,5% que o Irã diz ter atingido. Segundo especialistas, o país levaria duas décadas até produzir uma quantidade suficiente de urânio enriquecido para fabricar uma bomba se continuar utilizando as atuais 164 centrífugas.

Mas o governo iraniano diz desejar a instalação de 3.000 centrífugas, que, segundo especialistas, poderiam fornecer o material necessário para o desenvolvimento de uma bomba dentro de um ano.

ElBaradei não fez comentários quando se encaminhava para reunir-se com Gholamreza Aghazadeh, chefe da Organização de Energia Atômica do Irã. Segundo uma autoridade iraniana, o chefe da AIEA também se reuniria com Ali Larijani, secretário do Supremo Conselho Nacional de Segurança, um importante órgão do país.

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