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Atualizado em 28/04/2006 às 19h58

A Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) disse, em um relatório divulgado na sexta-feira, que o Irã havia ignorado a exigência do Conselho de Segurança da ONU para suspender seu programa de enriquecimento de urânio. Segundo a AIEA, o país islâmico tinha acelerado esse programa.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, reafirmou desejar uma solução pacífica para a crise. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, tinha prometido, antes de o relatório ser divulgado, ignorar qualquer resolução da ONU aprovada com o objetivo de limitar as atividades do país no setor nuclear.

A Grã-Bretanha disse que pedirá ao Conselho que aumente a pressão sobre o Irã em vista do mais recente relatório escrito por Mohamed ElBaradei, chefe da IAEA.

O documento, fornecido à Reuters por diplomatas, foi enviado para o Conselho de Segurança, órgão que poderá, eventualmente, impor sanções sobre o país islâmico.

O governo iraniano afirmou que seu programa de enriquecimento de urânio é irreversível e prometeu enfrentar as consequências de sua decisão, venham elas na forma de penalidades financeiras ou na de ataques militares.

Autoridades do Irã ainda não se manifestaram sobre o novo documento. No entanto, horas antes de detalhes do relatório terem surgido, Ahmadinejad disse que o Irã ignoraria qualquer medida da ONU elaborada com o intuito de controlar o programa nuclear do país.

"Os que desejam impedir os iranianos de exercer seu direito deveriam saber que não vamos dar a menor atenção a tais resoluções", afirmou o presidente em comício realizado no noroeste do Irã.

Bush enfatizou seu desejo de solucionar a crise diplomaticamente. Em declarações dadas após reunir-se com o presidente do Azerbaidjão, Iham Aliyev, o líder norte-americano afirmou: "Reforcei para o presidente meu desejo de solucionar esse problema diplomática e pacificamente".

O relatório da IAEA confirmou que o governo iraniano tinha ignorado as exigências feitas pelo Conselho de Segurança.

"O Irã propôs suspender (seu programa). Mas, já que continuam a realizar experimentos, eles não suspenderam seus esforços de enriquecimento (de urânio)," disse uma importante autoridade ligada à IAEA.

A agência também disse que o país islâmico havia se esforçado pouco, durante o período estipulado de 30 dias, para responder às questões elaboradas a fim de determinar se o programa nuclear do país é puramente civil.

Segundo o relatório, testes da IAEA confirmaram a alegação feita pelo Irã, neste mês, de que havia enriquecido urânio em um convertor de 164 centrífugas até o nível necessário para utilizá-lo como combustível em usinas nucleares. O material precisa ser purificado em um nível muito mais alto antes de servir para a fabricação de uma bomba atômica.

A agência informou que o Irã também estava construindo mais dois convertores de 164 centrífugas em uma instalação subterrânea. Inspetores da IAEA monitoram a montagem dessas centrífugas.

Segundo Ahmadinejad, o país estava pronto para enfrentar seus inimigos.

"Os inimigos pensam que, ao nos ameaçar, lançar uma guerra psicológica ou impor embargos, podem dissuadir nossa nação de obter a tecnologia nuclear", afirmou.

"A nação iraniana insiste em seu direito de desenvolver a tecnologia nuclear para fins pacíficos. Não vamos retroceder nem um milímetro", acrescentou.

O ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Jack Straw, disse que o Conselho de Segurança deveria enviar um sinal mais forte para o governo iraniano.

"Vamos pedir ao Conselho de Segurança, agora, que aumente a pressão sobre o Irã a fim de que a comunidade internacional tenha certeza de que esse programa nuclear não representa uma ameaça para a paz e a segurança," afirmou em um comunicado.

Nesta semana, o Irã prometeu atingir alvos norte-americanos no mundo todo se for atacado pelos EUA, que se recusaram a descartar a opção do uso da força caso os esforços diplomáticos não consigam dissuadir o país islâmico.

O Irã diz que seu programa é puramente civil e que visa apenas à produção de energia elétrica. A liderança norte-americana acusa o país de tentar, secretamente, desenvolver armas nucleares.

Sem supresas

Segundo diplomatas, persistiam as questões sobre as centrífugas "P-2," consideradas mais avançadas, sobre os documentos a respeito da montagem de uma ogiva nuclear e sobre informações de agências de inteligência ligando o processamento de urânio a testes com explosivos e ao projeto de ogivas para mísseis.

Mark Fitzpatrick, do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos em Londres, disse que o interesse no relatório de ElBaradei estava principalmente em como o documento descrevia a alegação iraniana de ter avançado rapidamente no sentido de dominar o processo de enriquecimento de urânio.

"Respostas a tais perguntas serão importantes porque ajudarão o mundo a compreender o grau de urgência da crise e o objetivo da diplomacia. Se a IAEA não puder dizer muita coisa sobre os avanços do Irã, então os líderes mundiais vão se apoiar cada vez mais em cenários pessimistas," disse o analista à Reuters.

Os EUA, com o apoio da Grã-Bretanha e da França, defendem a adoção de sanções limitadas caso o Irã se recuse a abandonar rapidamente o programa de enriquecimento de urânio.

A Rússia e a China, os dois outros países-membros do Conselho de Segurança com poder de veto, opuseram-se até agora à adoção de medidas semelhantes. Os dois países possuem muitos interesses econômicos no Irã.

"Para ter credibilidade, o Conselho de Segurança precisa agir. Ele não pode falar e ser simplesmente ignorado por um país-membro (da ONU)," afirmou a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice.

John Bolton, embaixador dos EUA junto à ONU, disse que o governo norte-americano e seus aliados desejavam transformar as exigências feitas em uma declaração do Conselho de Segurança, de 29 de março, em uma resolução do Capítulo 7 da Carta da ONU, que teria poder de lei.

Diplomatas da China e dos EUA disseram que os norte-americanos tentavam marcar um encontro entre os chanceleres dos cinco membros permanentes do Conselho e o chanceler da Alemanha para dia 9 de maio, em Nova York, a fim de discutir a crise com o Irã.

Os inspetores da IAEA não encontraram provas sólidas de que o país islâmico possui um programa nuclear militar, mas ElBaradei afirmou que ainda não pode descartar a hipótese de que os iranianos estejam realizando um programa do tipo secretamente.

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