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Os habitantes de Teerã expressaram neste domingo seu temor de que as sanções aprovadas pela ONU se façam notar em sua vida cotidiana e se mostravam convencidos de que os 15 militares britânicos aprisionados pelo regime permanecerão por um longo tempo em seu poder como moeda de troca.

Esta era a impressão que se percebia em uma capital que voltava pouco a pouco para a normalidade, depois das celebrações que duraram até o sábado do ano novo iraniano, misturada com a desesperança pelo agravamento das relações entre seu governo e a comunidade internacional.

Na opinião do reformista e catedrático de ciência política da Universidade do Teerã Naqib Sahdeh, a situação atual "acabará levando finalmente à guerra".

- Não há outra solução e vai acabar sendo como no Iraque. O governo tem insistido tanto durante anos na questão nuclear, como se fosse uma coisa de vida ou morte, que agora não pode mais dar marcha-ré - afirma.

Na opinião dele, os atuais dirigentes do regime, que "superestimam sua força", se apoiarão no tema nuclear para "fugir para frente", ao invés de se concentrarem em resolver os problemas cotidianos do povo como o desemprego e a situação da mulher.

Sahdeh acredita que o governo iraniano vai levar pelo menos dois anos para conseguir armas nucleares, que ainda não possui, e que os soldados britânicos capturados no Golfo Pérsico permanecerão ainda por meses no Teerã como instrumento de negociação com o Ocidente.

Opinião parecida é encontrada nas ruas de Teerã. Mohammed Babai, um taxista xiita de 35 anos, dizia que as sanções serão notadas de forma clara no seu dia a dia e que os marines britânicos ainda ficarão por um longo tempo no Irã.

No entanto, Babai afirma que seu país tem direito de usar a energia nuclear de forma pacífica e "deve atuar para que não lhe tirem este direito". Segundo ele, "o Irã sempre foi pioneiro na busca da paz".

As punições impostas anteriormente pela ONU e pelos Estados Unidos levaram à escassez de remédios e alimentos básicos, como o leite em pó para suas duas filhas, declara.

Já Mohamad Husseini, um professor de matemática do ensino médio, afirma que a situação irá pior e que as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança terão "muito efeito sobre a economia diária".

Husseini, um xiita praticante de 37 anos, está há meses sem receber seu salário de funcionário público, o que o levou a protestar junto com outros 200 mil professores nas ruas de Teerã no dia 9 de março, em uma manifestação que não foi destacada por nenhum meio de comunicação nacional e que acabou com a prisão de várias pessoas.

Enquanto isto, o embaixador britânico em Teerã, Geoffrey Adams, foi convocado hoje pelo Ministério de Relações Exteriores do Irã para ficar ciente da "dura condenação" de seu Governo às "repetidas entradas ilegais de marines britânicos" na águas territoriais do país.

A diretora de negócios da Embaixada do Reino Unido também já tinha sido convocada a consultas no último sábado por causa da mesma questão.

Vários grupos de estudantes do chamado setor conservador pediram ao Governo nos últimos dias que não liberte os marines até que os cinco "guardiões da revolução" iranianos presos pelas tropas dos EUA no Iraque no início do ano sejam libertados.

Algumas fontes disseram neste domingo que os militares britânicos poderiam ter sido levados para os quartéis dos Guardiões da Revolução em Teerã, na área de Ghasre Firouzeh.

Este corpo, fundado pelo aiatolá Khomeini após a revolução islâmica de 1979, depende diretamente do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, e opera independentemente do Governo do presidente Ahmadinejad, o que poderia complicar as possibilidades de uma pronta libertação.

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