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Gazeta do Povo – Até que ponto se justificam os ataques israelenses ao sul do Líbano? O confronto tende a durar muito tempo?Gilberto Sarfati – É uma reação militar de Israel ao ataque do Hezbollah. Provavelmente haverá uma escalada de violência de ambos os lados. Os ataques israelenses são uma forma de responsabilizar o governo libanês para que busque restringir as ações do Hezbollah.

Qual deve ser a posição do Líbano?A situação do governo libanês é extremamente delicada porque o Hezbollah é, ao mesmo tempo, um partido político; a Síria tem interesse na intensificação dos atritos entre Israel e o Hezbollah. O governo libanês deve buscar a contribuição de outros países para que o Hezbollah não aumente os ataques. O endereço do problema mora em outro lugar que não é o Líbano. Ou seja, basicamente a Síria e o Irã. Israel quer que o governo libanês saia da inércia e converse com o Irã.

Mas a pressão da comunidade internacional será em cima do Líbano e de Israel.Naturalmente, a União Européia vai fazer o de sempre, ou seja, dizer que Israel está exagerando em seus ataques e exigir que o Hezbollah liberte os soldados. Mas isso é absolutamente inócuo, uma vez que a União Européia tem pouquíssima influência sobre Israel e Hezbollah. Quem tem que estar mais interessado nessa história é o Egito – a quem não interessa a intensificação da violência na região, incluindo o que ocorre na Faixa de Gaza. Isso acaba gerando uma inquietação pública no próprio Egito, o que acaba indiretamente ameaçando o regime de Hosni Mubarak (presidente egípcio desde outubro de 1981).

A tendência é que ainda se leve algum tempo até algum acordo se concretizar?Acredito que ainda há um espaço para a escalada de violência. Tenho as minhas dúvidas da capacidade de o Egito intervir nessa questão, até porque o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, tem interesse na intensificação de conflito entre Israel e Líbano. O Irã é o grande patrocinador do Hezbollah e do Hamas, o que leva a crer que a situação só tende a piorar.

A saída seria o Líbano tomar a frente?Isso é pouco provável. É mais provável a intensificação do conflito. Imagino que o Exército israelense deve estar planejando uma operação mais ampla, que pode significar em última instância até a invasão do sul do Líbano novamente. É muito difícil que o Líbano, sozinho, consiga fazer com que o Hezbollah cesse os ataques, sem o apoio do Irã.

No caso da Faixa de Gaza, o primeiro-ministro palestino Ismail Haniyeh (do partido Hamas) pediu cessar-fogo e o premier israelense Ehud Olmert não aceitou, porque o Hamas não reconhece Israel. Como fica esse impasse?Enquanto o soldado israelense não for libertado não haverá negociação. O episódio do seqüestro do soldado é considerado apenas a gota d´água. Os territórios desocupados por Israel não foram ocupados na verdade pela Autoridade Palestina, quando estava nas mãos apenas do Fatah. Não só o Hamas, mas os outros grupos terroristas, como as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa (braço armado do Fatah), e Jihad Islâmica, tomaram essas antigas colônias como base de operação e começaram a disparar mísseis caseiros em território israelense. Uma das principais funções da operação militar é fazer com que esses ataques palestinos cessem. Esse objetivo militar israelense deve tomar tempo.

O que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, poderia fazer?Abbas também tem um conflito com o Hamas. De certa forma, é meio que um jogo duplo, ao mesmo tempo, ele tem de se opor aos ataques de Israel para dizer: "Olha como o Hamas não tem capacidade de negociação". Por pior que seja Israel como negociador ,é mais fácil negociar com israelenses do que com o Hamas. Mas a população pode apoiar o Hamas, porque se vê em sofrimento.

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