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Militar italiano caminha pelos destroços de um prédio em L´Aquila, cidade mais afetada pelo terremoto: frágil estrutura dos edifícios foi a grande “assassina” | Alessandro Bianchi/Reuters
Militar italiano caminha pelos destroços de um prédio em L´Aquila, cidade mais afetada pelo terremoto: frágil estrutura dos edifícios foi a grande “assassina”| Foto: Alessandro Bianchi/Reuters

O terremoto que devastou a cidade medieval de L’Aquila teria causado apenas pequenos danos no Japão e em outros países ricos situados em regiões propensas a tremores, mas uma série de fatores conspiram para fazer a Itália particularmente vulnerável, dizem especialistas.

L’Aquila está localizada a apenas um quilômetro do epicentro do terremoto, ocorrido na região do Abruzzo, nos Apeninos, mas geólogos e engenheiros civis atribuem a maior parte dos danos à construção inadequada dos prédios.

"Os desabamentos que ocorreram em Abruzzo atingiram residências que não foram construídas para resistir a um terremoto, que não foi particularmente violento", disse Enzo Boschi, presidente do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália. O Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos informou que o tremor teve magnitude de 6,3 graus na escala Richter.

"Nós arrumamos tudo depois de cada terremoto, mas não está em nossa cultura construir prédios de forma correta numa área de tremores, ou seja, construir prédios que possam resistir (aos sismos) e adaptar os antigos. Isso nunca foi feito", disse Boschi.

Franco Barberi, geólogo e especialista em desastres, expressou sua frustração com a falta de proteção para construções em territórios propícios a terremotos na Itália.

"O que me irrita é que, se isso acontecesse na Califórnia ou no Japão ou em outro país onde há algum tempo se pratica proteção antissísmica", um tremor semelhante não teria causado sequer uma morte", disse Barberi à televisão estatal.

Giorgio Croci, engenheiro de Roma e especialista em monumentos históricos como o Coliseu, destacou os métodos de construção como um fator importante nos danos registrados em L’Aquila.

Os romanos antigos usavam argamassa de alta qualidade e pedras para erguer seus monumentos e prédios, que já duram cerca de 2 mil anos, e as construções renascentistas geralmente ostentam pedras bem cortadas e proporções corretas, disse ele.

Os construtores da empobrecida era medieval, porém, geralmente usavam materiais com pouca qualidade e erguiam prédios menos suntuosos, afirmou. Como resultado, as estruturas medievais são mais propensas a sofrer danos substanciais durante um terremoto.

"Se você vive em um prédio antigo, tem de ter medidas de prevenção", disse Croci. "Pode-se melhorar esses prédios", com medidas como acrescentar correntes para conectar as paredes horizontalmente e limitar sua oscilação durante um tremor, acrescentou. "Correntes não custam tão caro." Outra técnica é usar ganchos de ferro para amarrar vigas de madeiras às paredes, disse ele.

Quase metade do território da Itália é considerado "perigoso" em termos de atividade sísmica, segundo um relatório de 2008 feito por Boschi, geólogos italianos e especialistas em proteção civil. Mas apenas 14% dos prédios dessa metade do país estão de acordo com os padrões de segurança, de acordo com o relatório. Além das estruturas antigas, os prédios modernos na Itália – de apartamentos e edifícios públicos – geralmente não seguem as regras de seguranças para sismos.

As construtoras de prédios públicos, especialmente no sul da Itália, são vulneráveis à infiltração pelo crime organizado, dizem procuradores. Os construtores geralmente não usam os melhores materiais e são pressionados por criminosos a adquirir os materiais de fornecedores com ligação com o crime organizado.

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