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O governo italiano quer marginalizar os imigrantes ilegais e anunciará duras medidas contra estrangeiros que não estiverem em situação regular na Itália. Segundo um projeto de lei que deve ser votado na próxima semana, os ilegais não poderão registrar filhos, casar-se e ainda podem ser denunciados à polícia por médicos, enfermeiros, professores ou qualquer funcionário público.

A um mês das eleições para o Parlamento Europeu, o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi quer dar um sinal à população de que está lidando com o problema da imigração. Roma decidiu devolver para a Líbia qualquer barco de imigrantes africanos encontrado em sua costa.

Na Itália, a população de imigrantes legais dobrou entre 2001 e 2007, atingindo 4 milhões. No início da semana Berlusconi alertou que não aceitará uma "Itália multiétnica", o que provocou reações negativas até do Vaticano. "Não vamos abrir a porta a todos, como fez a esquerda, que tem uma ideia de uma sociedade multiétnica. Nós não. Só queremos receber quem tenha condições de obter asilo político", disse Berlusconi.

O Vaticano respondeu ao comentário de Berlusconi. "A Itália já é multiétnica e o governo deveria se dar conta disso", afirmou Marianno Crociata, secretário-geral da Conferência Episcopal da Itália.

Em menos de uma semana, a Itália já devolveu para a Líbia mais de 500 pessoas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 75% dos estrangeiros que chegam aos portos italianos pedem asilo. Mas com a nova política do governo de interceptar barcos em alto-mar, essas pessoas não teriam nem condições de fazer o pedido.

No início da crise econômica, alguns dos ministros italianos chegaram a sugerir que os vistos de trabalho fossem suspensos por algum tempo, literalmente fechando as fronteiras.

Para a ONU, o projeto de endurecer a política de imigração vai além das motivações eleitorais. "Estamos preocupados que a política adotada pela Itália mine o acesso de refugiados à União Europeia", afirmou Ron Redmond, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). A política de Berlusconi, segundo ele, ameaça violar um dos princípios da ONU, o de que refugiados não podem ser devolvidos. A entidade afirmou que estava encaminhando uma carta de protesto ao governo italiano.

Nas últimas semanas, a Marinha italiana passou a patrulhar a costa sul da Itália em busca de barcos com imigrantes. Os barcos encontrados em águas territoriais e internacionais são entregues à Marinha da Líbia.

A ONU está alarmada com essa situação, lembrando que a Líbia não faz parte dos acordos sobre refugiados e não garante proteção a essas pessoas. Alguns dos imigrantes são originários da Somália e da Eritreia e estão fugindo de combates.

Na Líbia, os imigrantes estão sendo colocados em uma prisão nas proximidades da capital, Trípoli. Em uma semana, duas mulheres já se suicidaram na penitenciária.

A situação também deve se tornar crítica para os imigrantes que vivem irregularmente na Itália. O governo italiano está criando uma lei que estabelecerá "crime de clandestinidade" e pessoas sem visto de trabalho serão processadas.

"Estamos muito preocupados diante da mudança de comportamento da população em relação à imigração", afirmou Kurosh Danesh, coordenador do Comitê Nacional de Imigrantes do sindicato CGIL. "A política de Berlusconi legitima o sentimento de medo da população", disse.

Segundo Danesh, o governo precisa do apoio da Liga Norte para governar, por isso está adotando posições extremistas na questão da imigração. Nas últimas semanas, o partido espalhou pela Itália cartazes com a foto de um indígena e a palavra: invasão.

Segundo o sindicato, a mão de obra estrangeira é responsável por 10% do PIB da Itália e os imigrantes pagam anualmente 11 bilhões de euros em impostos. Segundo a Organização Internacional de Migração, a Itália precisará de estrangeiros nos próximos 30 anos para garantir seu crescimento econômico.

Roma tenta justificar suas decisões alegando medo de terrorismo.

Nesta terça, a polícia italiana afirmou ter identificado dois importantes membros da Al-Qaeda, que foram detidos em ações contra imigrantes ilegais. O sírio Bassam Ayachi, de 63 anos, e o francês Raphael Gendron foram presos em Bari e são acusados de planejar um ataque ao Aeroporto Charles De Gaulle, em Paris.

O preconceito contra o que vem de fora da Itália tornou-se ainda maior na cidade de Lucca, na Toscana. A Câmara de Vereadores do município proibiu a abertura de novas lanchonetes e restaurantes para a venda de comidas turcas, árabes e chinesas, sob o pretexto de incentivar o consumo de comida nacional.

A ideia, defendida pelo partido conservador Liga Norte, seria uma forma de "proteger" comerciantes locais contra o crescimento da comida étnica. "Precisamos resguardar nossa cultura", disse o ministro da Agricultura, Luca Zaia, sobre a proibição.

No entanto, ele admitiu que por trás da iniciativa estão interesses comerciais. Os críticos das medidas radicais defendidas pelo governo têm questionado: o que será feito com os ingredientes dos pratos tradicionais italianos? O tomate foi um presente do Peru à culinária do país, enquanto o espaguete veio da China.

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